Deixara de chover, a máquina de lavar roupa pifou uma vez mais, constipação, ou
Fígado,
Ou
Talvez não,
Não temos tempo para despedidas, Pedro, O senhor Alberto para o filho que parecia uma abelha em círculos de luz às voltas do avô João, o carro pronto a avançar estrada fora, recheado de pequenas miudezas, batatas e couves, chouriços e presunto, pão de milho, e o Opel Kadett de 1964 aos soluços como os bebés depois de nascerem enquanto aguardam a chegada do babado pai e a enfermeira
É um menino,
Fígado,
Ou
Talvez não,
O pai retratava o filho com imagens a preto e branco, no tornozelo uma fitinha azul com o nome e o dos progenitores, e se fosse hoje, e se fosse hoje juro
Pifou
E deixara de chover,
E se fosse hoje juro que não queria progenitores, inventava-me, fazia-me das larvas azedas que de árvore em árvore, que de nuvem em nuvem, juro, juro que me tinha inventado como inventei tantas outras coisas,
Adeus avô, com choraminguices o Pedro ao despedir-se, e ouviam-se os lamentos do senhor Alberto, que começava a ver cair a noite e pelas suas débeis contas só de viagem deveriam ser aproximadamente quatro horas, isto é, sem efectuar quaisquer paragem, para um café, ou
Pai, preciso de fazer xixi,
É um menino,
Fígado,
Ou
Talvez não,
E deixara de chover, a máquina de lavar roupa pifou uma vez mais, constipação, ou
(pausa para ir à casa de banho)
Ou simplesmente entrou em greve sem pré-aviso, e cá em casa parece que estão todos loucos, queixava-se o pobre do senhor Alberto, viúvo, um filho, desempregado, E pergunto eu, que vou dando vida a este texto
Que mais poderá acontecer a este desgraçado?
Mulheres há muitas, sou palerma!,
O pai retratava o filho com imagens a preto e branco, no tornozelo uma fitinha azul com o nome e o dos progenitores, e se fosse hoje, e se fosse hoje juro
Digam-me, que mais este desgraçado poderá esperar da vida?
Juro, se fosse hoje, se fosse hoje inventava-me, colocava umas luzinhas na cabeça, pedia ao senhor Arsénio que me desenhasse umas asas e mandava-as construir ao tio Serafim, quando regressasse a casa com a estrelada, coitada, manca
Estrelada!
E amanhã não me fodes mais porque vais ficar na loja porque com a pedrada que te dei, e enquanto isso, o Serafim a jogar ao pino com os colegas da escola, e tenho quase a certeza que ele me constrói umas asas com vista para o Tejo, pensava o menino Pedro antes de adormecer e enquanto a família, pai, mãe e avós, todos, numa irritação
É a tua cara Alberto,
Não é não, respondia a avó Madalena, e acrescentava
É tal e qual o meu João, isso não tenho duvidas
E eu, e eu tenho a certeza que tenho algumas parecenças com um embondeiro, com um mabeco, ou na pior das hipóteses
Com um Anjo,
(mais uma breve pausa para ir à casa de banho regressamos o mais breve possível)
Sim, com um Anjo, Porque não? Deve estar louco menino Pedro, queixava-se o porteiro embriagado quando madrugada dentro ele
Eu, tu, regressávamos das longínquas sentinelas de estanho, deixávamos as mesas de granito junto aos jardins caquécticos da casa de S. Pedro do Sul
Constipação
Ou
Fígado,
Constrói-me umas asas, tio Serafim
E a coitada da estrelada só em três patas, sofreu tanto, tanto sofrimento teve esta ovelha, e o menino Pedro e a menina Margarida
Eu, tu, regressávamos das longínquas sentinelas de estanho, deixávamos as mesas de granito junto aos jardins caquécticos da casa de S. Pedro do Sul, deixara de chover, o fígado pifou uma vez mais, constipação
Ou
O pai retratava o filho com imagens a preto e branco, no tornozelo uma fitinha azul com o nome e o dos progenitores, e se fosse hoje, e se fosse hoje juro
Tinha-me inventado.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó