Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

27
Dez 14

O Eros sexo mergulhado nos lençóis da solidão,

o corpo em lágrimas de gesso...

a cidade em pedaços de vento,

o Eros sexo mergulhado nas janelas do Tejo,

a caravela do desejo regressando ao teu ventre,

os lábios da Princesa em cardumes beijos,

que só o mar sabe alimentar,

longe... o silêncio orgasmo das palavras não escritas,

longe... o abraço disfarçado de machimbombo...

voando como a gaivota do “Adeus”...

em pecado,

as palavras... o ventre... as coxas misturadas entre desenhos e sombras embriagadas,

e no entanto...

o Eros sexo... não pára de chorar,

o Eros sexo é o grito da noite depois de acordar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:49

19
Dez 14

Vadios soníferos da vaidade

que deambulam nas clandestinas ruas da saudade,

olhares prisioneiros da escuridão,

pincelados tentáculos de gelo descendo o teu corpo pérfido...

e às minhas mãos

o teu cabelo incendiado pelo desejo,

e às minhas mãos o odor censurado do teu coração,

voando sem rumo,

voando... voando embrulhado em lápis de cera que o tempo engole,

e não sabe que em mim habitam os cinzeiros de chita,

os cigarros de papel aromático desenhando lábios de medo na alvorada,

vadios soníferos da vaidade... vadios monstros da madrugada,

vadios meninos de Luanda,

sanzalas encalhadas no cacimbo zincado,

capim em luta pelo sexo,

sem horários como os calendários nocturnos dos mabecos em cio...

o rio se abraça ao barco náufrago que transporta a felicidade,

e a ponte se alicerça aos seios do amanhecer,

vadios os meus poemas

em meninos de Luanda,

a infância lapidada numa avenida sem estória,

como uma fotografia inseminada num estúdio negro,

assombrado,

sem número de polícia... ou paragem de machimbombo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:04

04
Nov 14

Este machimbombo rabugento subindo a calçada,

cá dentro, algumas insignificantes malas sem destino,

uma guitarra,

e um chapéu de palha...

partilhamos os abraços nos cadeirões ensonados,

algures... ouvem-se os pergaminhos nomes das cidades perdidas,

faltam-me os cigarros e os livros que deixei no apeadeiro da solidão,

um lenço de papel chega-me para escrever qualquer coisa parva,

como todas as coisas parvas que faço...

evito abrir os olhos porque do outro lado da rua, uma roda dentada,

sobrevoa as árvores cansadas do Outono,

e este machimbombo que não anda...

 

E este relógio que não pára...

sufocam-me as tuas palavras de viajante que sobejaram de uma carta não lida,

nunca leio as cartas que me escrevem...

também... deixei de escrever cartas,

porque são apenas pedaços de papel,

com... com falsas sílabas,

e prometidas aventuras,

amo apaixonadamente a noite,

a noite travestida de cinzento alento...

amo as pedras acabadas de tomar banho,

quando em finais de tarde...

acorda o moliceiro... e o meu corpo se transforma em machimbombo rabugento.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

15
Abr 14

nos teus lábios habita o solstício da paixão

sinto o odor cansado do teu cabelo voando sobre as sombras da solidão

há lágrimas no teu sorriso

há insónia na tua noite construída de trapos e cortinados negros

e dos teus olhos

o silêncio das caricias desenhadas pela mão de um coração

sinto-o

e oiço-o

como os sonhos que vivem dentro de mim

nos teus lábios habita o sofrimento envenenado

e lá fora alguém grita o teu nome

sons metálicos cambaleando sobre a dor

traços

triângulos

círculos com olhos verdes

nos teus lábios a imagem da criança em pequenas viagens

espera pelo machimbombo

um homem puxa-o com um cordel imaginário

e de rua em rua

e de casa em casa

leva mangas e cacimbo e capim

tem nas mãos a dócil fotografia de uma cidade perdida

o mar alicerça-se às pernas do menino...

a criança vê nos zincos telhados outros meninos

meninas

e sonhos como os dele...

sonhos com sabor a papel...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 15 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:57

23
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Começávamos a alimentar, primeiro os porcos e as galinhas, depois eles, e nós, quase sempre, os últimos da ninhada, nunca chegava, parecia-nos pouco, ou nada, sentávamos-nos sobre o tanque do terreiro e olhávamos o silêncio repatriado das papoilas navegantes das caravelas em bolor, sentíamos a ondulação da tristeza a entranhar-se-nos como facas de um velho faquir no tronco da velha árvore do recreio,

Recordas-te ainda dos arvoredos infelizes que dormiam em nossa casa?

O velho faquir tinha uma mulher que costumava aparecer junto a nós, sempre de branco, talvez porque ela apenas vivia de noite, porque ela era filha da noite, poderia eu perguntar-me se ela era a minha mãe, pois eu

Adoro viver de noite, queria ser a noite sem interrupções, lanternas mágicas ou... cortinados com estampados de verniz e cansados nos arames verticais das ruas entupidas de lixo, mendigos, nós à procura de outros mendigos

O Velho?

As facas gemiam quando entravam na fina casca da madeira e não sabíamos que o velho faquir usava uma máscara de vidro para que ninguém o reconhecesse... ao que parece, ele

Eu sou o filho da mãe noite, eu sou a faca que rompe a madrugada, eu sou a roseira que quando chora

Dela brotam as pequenas gotículas de sangue que a saudade esconde na sombra das mangueiras dos quintais longínquos das esplanadas viradas para o mar, o filho da noite, eu, eu não sabia que existiam eléctricos, não sabia o significado de eléctrico... e dizia ao meu pai que o autocarro da carreira se apelidava de

Machimbombo,

Eu sou o filho da mãe noite, eu sou a faca que rompe a madrugada, eu sou a roseira que quando chora, ouvem-se-lhe os picos em aço inoxidável infestarem a velha árvore do recreio, rompíamos as calças, e usávamos joelheiras em napa para disfarçarmos os tentáculos e húmidos buracos da Primavera,

(começávamos a alimentar, primeiro os porcos e as galinhas, depois eles, e nós, quase sempre, os últimos da ninhada, nunca chegava, parecia-nos pouco, ou nada, sentávamos-nos sobre o tanque do terreiro e olhávamos o silêncio repatriado das papoilas navegantes das caravelas em bolor, sentíamos a ondulação da tristeza a entranhar-se-nos como facas de um velho faquir no tronco da velha árvore do recreio, e não sabíamos que havia dentro de nós uma fina tábua, quase invisível, recheada de prego, e durante a noite, o velho faquir...)

Adormecíamos acreditando que tínhamos o estômago cheiro, estávamos fartos, tão fartos que até inventamos uma sanzala em papel só nossa, a nossa sanzala de papel com pequenos charcos para durante a noite

Chapinávamos nos charcos da sanzala de papel inventada por eles e acreditávamos que éramos felizes assim,

Assim,

Como?

O machimbombo,

A chuinga estremecia-me a dentadura de marfim que tinha partido do jacaré em pau-preto, havia uma imagem que nunca esquecemos, os barcos zangados rompendo pela cidade como animais ferozes e envenenados pelas castanhas ondas que o abismo desenhava em nós, e tu, e eu,

Dormíamos,

Sou teu filho, tu, a noite que me acolhe, alimenta, afaga o cabelo,

Branco?

Não negro,

As roseiras?

Não às bolinhas,

Esqueci-me da cor do meu cabelo, esqueci-me que a minha mãe dorme enquanto eu, eu sonho, e invento palavras para te recordar dentro de uma lápide sem nome, idade, como o poema escrito e deixado sobre a mesa... depois de fazermos amor... voavam os campos de centeio que zumbiam em Carvalhais, olhávamos as espigas do doirado milho...

E não sabíamos que Machimbombo era autocarro da carreira...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

07
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Sinto-me verdadeiramente encaixotado nos aranha-céus que o teu querido pai me prometeu, entre um deles e um qualquer livro, escolho um qualquer livro, e entre um qualquer livro e um copo de vodka, escolho obviamente...

Um qualquer vodka, porque dispenso o livro, porque dispenso um qualquer poema, porque dispenso o copo, sinto-o e sinto-me encaixotado nas tuas mãos vendadas pelo sono, cerras os olhos dos ténues pulsos de areia, pertences aos corpos clandestino como os pequenos grãos e as distintas óbvias gotículas do suor tua pela, cerras os olhos que jazem nos teus pulsos, suicidadas-te como uma menina mimada, singela, como uma flor vagabunda num qualquer palco, onde se ouve, uma qualquer banda, o piano melódico, e da voz poética, ela, ele, transformam

“Demito-o obviamente”,

E demiti-me,

Deixei se ser o amantes nocturno das noites de Verão, deixei de ser o clandestino mendigo passeando-se pela Avenida ribeiro das Naus, enquanto escrevo, oiço a melódica voz de “Joana Gomes” e dos “Fingertips”, e obviamente

Recordo, as saudades, de Carvalhais, e de S. Pedro do Sul, e dizem-me que o rio ainda corre como corria, e dizem-me que a eira ainda é a eira de ontem, pouca coisa mudo, apenas que o avô Domingo deixou de passear-se de bengala e dorme debaixo da lápide granítica onde alguém escreveu

“Eterna saudade”,

E demiti-me,

Hoje, hoje não amante, hoje, hoje não escravo do amor “Slave to love”, STOP, e na primeira rotunda a segunda saída, a respectiva plana de sinalização

“Precisa-de amor”,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente apanha um chupa-chupa, lembro-me de quando ainda era eu, muito antes de me demitir, lembro-me do Baleizão, lembro-me dos palhaços e dos malabaristas, lembro da tenda do circo dançar sobre a minha cabeça de menino

Mimada, tu

Eu, eu mimado, filho único, tinha um cavalo em madeira, saltava o portão de entrada e entrava cidade adentro, a cada machimbombo que encontrava gritava

Avô Domingos?

Nada

Avô Domingos?

Nada, nada de nada

Outra vez... Avô Domingos?

E encontrava-o numa transversal em Luanda com um cordel na mão a puxar um machimbombo com olhos azuis e missangas no pulso esquerdo, no direito

Machimbombo? Outra vez... Avô Domingos?

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Triste,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Infeliz,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Cansada de ti,

E obviamente... demito-me.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:56

27
Jun 13

foto de : A&M ART and Photos

 

São... oiço-a no fino pano de espuma, que nos separa, oiço-a do esconderijo com folhas de azedume e janelas de neblina

São nove e qualquer coisa...

Antes das dez, presumo eu, nunca tive um relógio, não por difíceis condições económicas, mas porque sempre achei ser um utensílio, Objecto? Quase, recordo-o agora

(Objecto quase – José Saramago)

Desnecessário, pergunto-me para que me serve um relógio se eu nunca, nunca lhe obedecia, ou minto, fui um servo escravo dele, mas hoje, hoje não o sou, deixei de o usar, tenho-o poisado sobre a cómoda, passo por ele, logo de manhã, indiferente, sublime a luminosidade que consigo observar-lhe quando a luz incide sobre o mostrador com números brilhantes, a princípio, a princípio fiquei na expectativa se aguentaria viver sem ele, e consegui, e sinto-me feliz, muito feliz...

Claro que minto, caro que o tive e deixei de o usar,

O amor?

Entre dois pontos com coordenadas tridimensionais, algures no espaço, com apenas três coordenadas, e um referencial, percebo, que ele, o amor, vive, respira, habita nos corpos mais lentos da cidade, movimenta-se com dificuldade, é mutante, e raras vezes aparece depois de encerrarmos as luzes dos candeeiros a petróleo espalhados pelos silêncios dela,

Oiço-a

São nove e qualquer coisa...

Ainda não dez, brevemente, depois como uma louca corrida em direcção ao fim do corredor, ele, desaparece pelas sombras submersas nos cobertores dos divãs do amor, as escadas em madeira, barulhentas, rabugentas, doces, elas, as nádegas do relógio de pulso submergido no rio de suor da pele ausente que tu me prometeste, e que nunca

São quase dez,

Nunca cumpriste, nunca, escrever para quê?

(Objecto quase),

Em saltos de prateleira em prateleira, em risos, como os móveis teus cobertos por um velho lençol, deixaste de entrar em mim, deixaste todos os móveis do meu corpo protegidos por um branco pano, ausência de pó, vida medíocre, ausência de oxigénio, sempre com as minhas janelas fechadas como uma cancela em suspenso por dois pilares de cansaço, a embaixada

São nove e qualquer coisa...

Você não é Angolano,

Percebo que não sou, percebo que nunca o fui, percebo que a certidão de nascimento onde consta que nasci em Luanda, lamento informá-lo mas a sua certidão de nascimento é falsa, é falsa, como são falsas a respectiva cédula pessoal, como são falsas as fotografias, como é falso o cartão de vacinas contra a febre amarela

O quê? Qual febre amarela, rapaz... enlouqueceu,

Tudo é falso, eu sou falso, a embaixada

Você não nasceu em Luanda, você é um mentiroso, compulsivo, sou, pois sou, e garanto-lhe que nunca brinquei no Mussulo, e garanto-lhes que nunca vi, juro pela minha honra que nunca vi, não sei o que são, machimbombos, juro que não tenho terra, juro-o...

São quase dez,

Nunca cumpriste, nunca, escrever para quê?

(Objecto quase),

Em saltos de prateleira, dentro de um falso paquete, enganaram-me, disseram-me que nasci num local que não existe, falsos, disseram-me que vim num paquete, lindo, enorme, atraente como as meninas que passeavam junto ao Tejo, e não vim, e descubro que esse paquete nunca existiu, falsos, mentirosos, falsas infâncias, como os jardins da escola

Será que ela existiu?

São quase dez, diz-me ela, oiço-a..., em Portugal continental, e no entanto descubro que toda a minha infância foi uma mentira inventada por um menino que andava de calções e sandálias de couro, sentava-me debaixo das mangueiras e inventava histórias,

E inventou esta história, que nasci, vivi, e vim...

E eu, acreditei,

Como acredito nela que me diz que são quase dez horas, da noite?

(Objecto quase)

E eu, acreditei.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

22
Ago 11

No cortinado dos teus olhinhos

A manhã de Luanda a acordar,

O vento que come os moinhos

O vento que vem do mar,

 

E Luanda acordada

Quando um menino brinca no quintal,

Vem do vento a madrugada

E no vento se desfaz um jornal,

 

No cortinado dos teus olhinhos

As nuvens penduradas na cidade,

Os machimbombos aos saltinhos

E o menino perdido na saudade…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:47

02
Mai 11

 

 

Jacarandá-africano ou mpingo, e o bicho empanturrado de bolachas com três dentes de marfim partidos, e o menino dá, o menino dá, e o menino à espera no portão pela chegada do avô Domingos, e o bicho preso por um cordel encostado às mangueiras, empanturrado, cansado de dar voltas ao quintal, o menino a contar os carros em direcção ao Grafanil, e o Grafanil já ali, com os bracinhos suspensos no pescoço do avô Domingos, o menino dá comida ao bicho, e o bicho acenava com a cabeça que não, não mais comida, e o menino teimoso a enfiar bolachas e restos de pão.

O avô Domingos estafado, cansado, o avô Domingos com um machimbombo preso às mãos a passear as ruas de Luanda, e todos os dias as mesmas ruas, e todos os dias o menino ao portão à espera de um abraço e a contar os carros em direcção ao Grafanil, e todos os dias o crocodilo em Jacarandá-africano com a boca recheada de bolachas, o menino dá, o menino dá comida ao bicho, e o bicho escondia-se na sombra do fim de tarde.

Jacarandá-africano ou mpingo, e o bicho empanturrado de bolachas com três dentes de marfim partidos, e o menino dá, o menino dá, e o menino à espera no portão pela chegada do avô Domingos, e o bicho vivo, hoje não bolachas nem restos de pão, o bicho hoje vivo, à espera da chegada do avô Domingos, e o avô Domingos ausente, deixou de entrar pelo portão, hoje não avô Domingos, hoje não carros em direcção ao Grafanil, hoje apenas um crocodilo em Jacarandá-africano que todos os dias diz ter saudades do menino e do avô Domingos.

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

2 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

14
Abr 11

Embrulho-me quando o vento me toca na planície, malmequeres suspensos na claridade da tarde à minha espera junto ao silêncio e o meu sorriso refém da tempestade, do chão levantam-se sofrimentos e adensa-se nas minhas mãos a chuva acabada de cair, o capim olha-me na sombra de uma mangueira engasgada na tarde, e eu criança de pancadas em punho num velho triciclo…, o triciclo em lágrimas, o triciclo com dor, e eu criança dominado pelo cheiro da terra queimada, embrulho-me quando o vento me toca na planície, o triciclo ficou lá, parte de mim ficou lá, os malmequeres ficaram lá. E de mim apenas vieram duzentos e seis ossos e trinta e dois dentes.

 

Embrulho-me quando o vento me toca na planície, malmequeres suspensos no sorriso dos machimbombos apressados pela cidade, o meu avô passeia-se nas ruas com um pela mão, leva-o pela trela, e quando regressa a casa eu criança em sombras à espera dele no portão, as mangueiras do quintal já dormem, os papagaios de papel brincam com o chapelhudo e eu começo a ter sono, esfrego os olhinhos e dou-lhe um beijo, a barba durante o dia em crescimento, pica-me, o meu avô cansado de andar com um machimbombo pela cidade, pega-me na mão e leva-me para casa…

 

 

(texto de ficção)

 

FLRF

14 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:20

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