Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Set 12

Gotinhas de sorrisos suspensos nos teus lábios

dissipam-se de mim as faúlhas das tempestades de insónia

o fogo imerso no teu ventre

ao redor das tuas coxas cansadas nas planícies do amanhecer

 

quero ser uma abelha

e voar como as gaivotas da minha terra

vestir-me de silêncios de mar

quando os barcos entram no teu púbis

e da janela da saudade

as flores do teu jardim

transformadas em luz

corre

 

foge de mim entre as árvores pintadas nos muros da infância

e junto à Maria da Fonte

olha-me

deixa-me um sorriso para eu recordar em noites de desejo

 

dá-me a tua mão

e vamos ver os barcos

e vamos aos Coqueiros

e vamos...

 

foge de mim

e olha-me como se eu fosse uma amoreira

sempre adormecida nas palavras da fogueira do sono

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:11

25
Jan 12

O barco despede-se do término da tarde, desce vagarosamente as portadas do postigo com acesso à noite e em passo apressado deixa a Ajuda embrulhada em estrelas e mergulha no Tejo,

- Nos meus sonhos aparece sempre um barco Confessa-me ele enquanto tomamos café na esplanada e que quando menino, aos domingos, a religiosa visita ao porto de Luanda,

Fascinavam-me aqueles monstros poisados sobre a água, às vezes recebia por parte de um deles um sorriso ou um simples acenar de bracinhos,  

- Deslarga Pai

 A mão do meu pai e com a minha mãozinha de caule de malmequer acenava e sorria e quase sempre ficava a chorar porque não entendia naquela idade a solidão dos barcos,

- Pai os barcos sonham? E que sim e que um dia entravam nos meus sonhos,

E hoje não porto de Luanda, e hoje não barcos, e hoje não domingos

- Deslarga Pai

Não domingos às voltas da Maria da Fonte,

A mão dele soltava-se como quando numa manhã de setembro um paquete soltou-se do porto de Luanda, e de saluço em saluço, e de rouquidão em rouquidão, começou a entrar mar adentro, e deixei de ver a cidade

- Pai os barcos sonham?

E deixei de ver a cidade como qualquer dia vou deixar de ver a mão dele, e em vez de barcos nos meus sonhos, uma tela negra a despedir-se do término da tarde, desce vagarosamente as portadas do postigo com acesso à noite e em passo apressado deixa a Ajuda embrulhada em estrelas e mergulha no Tejo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:45

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