Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Jul 20

Lua mulher,

Corpo de luz,

Palavras vadias,

Cansaço dos dias,

Luz,

Corpo de lua,

Luar,

Em desejo,

Nua…

Abraçada ao mar.

Luar de mulher,

Palavras de vento,

Sorriso de gente,

Papel quadriculado,

Lua,

Corpo abençoado,

No tempo,

Quando desce a ribeira a montanha da fome,

Em delírio,

Sem nome.

Corpo,

Olhos de pergaminho,

Pássaro cantante,

Dançando no ninho,

Socalcos nos braços,

Enxada na mão,

Mulher em poesia,

Mulher em abraços.

Soluços da madrugada,

Luar,

Mulher desejada,

Na luz,

No poema…

Na alvorada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

07/07/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:39

16
Mar 19

Tudo o que há em ti, meu amor,

São sílabas envenenadas,

Nos lábios cansados,

Do poeta.

 

Tudo o que há em ti, meu amor,

São amêndoas em flor,

Nas mãos da madrugada…

São palavras inventadas,

Poemas revoltados…

 

Do poeta.

 

Tudo o que há em ti, meu amor.

 

Do poeta,

Os livros engasgados no teu ventre,

O poema abraçado aos teus seios, como uma caravela,

Esquecida no mar,

 

À deriva.

 

Tudo o que há em ti, meu amor,

Os pássaros que brincam no teu cabelo,

Olhando a calçada,

Quando desce a noite na pele cinzenta das árvores queimadas,

 

Tudo, meu amor.

 

Tudo se cansa em mim,

Como pedras ensanguentadas,

Os comprimidos do sonho,

A injecção da esperança,

E tu, meu amor,

 

Nesta amaldiçoada canção.

 

Tudo o que há em ti, meu amor,

A manhã em pequenas quadriculas de tecido,

A agulha, o dedal…

Junto ao mar.

 

Tudo o que há em ti, meu amor.

 

O desejo da paixão,

Num corpo apaixonado,

 

Tudo, meu amor,

Da janela desventrada,

O silêncio dos livros queimados,

Na tua ausência…

Do poeta,

 

Tudo, tudo o que há em ti, meu amor!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16/03/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:01

04
Jul 17

Atravesso a cidade amedrontada,

Finjo não existir nas ruas sem saída,

A morte tem o seu encanto,

A partida… o não regressar nunca mais,

Atravesso a cidade sonâmbula que há em mim,

Deito-me no rio…

 

Sofro,

Choro,

 

E dizes-me que amanhã serei apenas poeira envenenada pela saudade,

 

A viagem às catacumbas do sono,

Invento desenhos no teu corpo,

Viajo incessantemente na sombra dos aciprestes…

E toco com a mão a fresca água da tua nascente,

 

Sofro,

Choro…

 

Enquanto houver luar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:22

20
Abr 16

Sou a árvore sem medo de acordar

Sou o fruto proibido em cada amanhecer

Sou o silêncio do teu olhar

Nos dias de envelhecer

Sou a árvore da alegria

E a sombra da melodia

Sou a árvore “saudade”

Para recordar este dia

E nunca esquecer

A mulher da minha vida…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 20 de Abril de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:49

24
Fev 16

Amanheci nos teus braços

Desconhecendo o significado de amanhecer,

E mesmo assim

Consegui acordar

Desta nostalgia desconhecida,

Deste sofrimento de morrer…

Acordo sempre nos teus braços

E não sei como são os teus braços,

Amanheci…

Desconhecendo o significado da madrugada

Que se embrulha nos meus braços,

Estes… conheço-os,

Ao contrário dos teus que nunca tive o prazer de tocar…

Como são os teus lábios de amanhecer…!

Que eu procuro sem encontrar,

Amanheci nos teus braços

Desconhecendo o significado de amanhecer,

E mesmo assim

Consegui acordar

Desta nostalgia desconhecida,

Deste término de amar,

Como o silêncio de adormecer

Acreditando que tenho a minha cabeça deitada no teu peito…

Será que sim?

Ou sou uma árvore de um qualquer jardim

Que espera o regresso da noite…!

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:56

09
Mar 15

(para a minha mãe)

 

 

Anoitecia sobre os teus ombros, sombras de sal voavam no teu olhar, como serpentes de papel a brincar numa árvore, eu brinco, tu brincas...

Amanhã?

A luz, os anzóis da tristeza suspensos nos desejos de cristal, não durmo, os sonhos, morrem os sonhos, morrerem as amendoeiras em flor,

E eu,

E eu?

Amanhã, cor-de-rosa, húmidas canções de Primavera nas ilhargas do silêncio, habito, tu habitas e ele

Habita?

Onde, onde?

Ele perdido numa tragédia serrana, a montanha crescia, e ele

Habita,

Anoitecia, e ele caminhava ribanceira abaixo, entra nos picos da alegria... e todo o corpo desenhado, círculos de sangue vagueando nos seus braços, tive medo, mãe, amanhã, mãe, amanhã saberás porque existem os cavalos de areia, aqueles

Como os do Mussulo»

Sim, mãe, sim... como os do Mussulo...

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:03

07
Mar 15

Deitavas a cabeça na minha algibeira

e imaginavas-me um tumultuoso Oceano de cinza

abrias os olhos

e brincavas nos meus lábios

havia dentro de nós um vulcão adormecido

talvez doente...

ou... ou louco

como as imagens prateadas do silêncio

ardias

parecias a fugitiva clandestina das palavras embriagadas

e os outros

e as outras

 

ou... ou louco

e loucas

as bocas

dos triciclos de sombra

caminhávamos num sótão com janelas para o mar

os barcos

e as gaivotas

revoltados

revoltadas

em pequenas pálpebras de areia

os triângulos do orgasmo

abandonados numa cama húmida

 

imunda

desfeita em cacos

e gotículas de sangue...

a cidade

os pássaros em granito

gritando

uivando

como carnívoros corações de cor

amanhã

a cidade

sobre a minha algibeira...

um sorriso

 

e em cada amanhecer o toque da campainha

saltar a janela

e descer

até à ruela sem saída

um sorriso

uma aldeia vagueando nos meus abraços

como serpentes de iodo

vomitando poemas no meu peito

rangias

uivavas...

e querias-me

acorrentado aos teus desejados sonhos vestidos de adeus...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:42

06
Mar 15

Os berros argamassados da menopausa, o sal brincando nas encostas do abutre negro, a carne em putrefacção, distante, os berros

Amanhã vamos?

Berros, os berros das medusas entranhados no corpo, os sonhos morrem, morrem os beijos e as carícias da madrugada, menstruais palavras dentro do poema, gritam, da menopausa, perdeu-se o silêncio eterno das andorinhas em flor,

João?

Sim, pai,

Onde puseste os meus óculos?

Sei lá...!

Dentro da fala, os sons em delírio, porque dentro deste quarto habitam livros decadentes, desenhos sem rosto, imagens, fotocópias de fotografias a preto e branco, muito longe

João?

Sim... pai...!

Os homens chegaram, temos de retirar todas as rosas do nosso jardim, não vamos deixar que nos penhorem a melhores rosas da aldeia, pois não'

Não, pai...!

Aos berros, da menopausa, o sal brincando nas encostas do abutre negro, sobre ela o beijo desenhado na areia, colorido, embrulhava-a numa estrofe envergonhada, levava-a para as cabanas dos sonhos adormecidos, cerrou os olhos

Foi bom, amor,

Só?

Os olhos na cárcere do sofrimento,

Stop...

Só, as sílabas dos fósforos em aventuras,

Stop, aos berros... o Rossio embriagado...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:22

31
Dez 14

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Do grito cinzento do silêncio

às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra

ama-se um poema

odeia-se uma flor acabada de nascer

fuma-se o último cigarro

inventam-se esconderijos no corpo de uma mulher...

o relógio não cessa de chorar

o barco que transporta a solidão...

ancorado ao meu corpo desprovido de agasalho

do grito cinzento do silêncio

às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra

uma cova... funda... me espera!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:10

08
Out 14

Este edifício envidraçado

que não cessa de chorar

esta noite húmida vestida de mulher

que não se cansa de gritar...

este cansaço teu

esta rua sem ninguém

este espaço exíguo

que ofusca o teu olhar...

esta cidade recheada de mendigos

como eu

assim...

procurando abrigos,

este teu corpo engraçado

que ilumina a sanzala do adeus

este teu desejo premeditado

que se enforca na terceira árvore do jardim,

este edifício doente

triste

e com odor a solidão,

esta cidade que me sufoca

e arde

no meu peito desassossegado...

sem me dizer... sem me dizer que hoje não há luar,

falta-me o lugar

e a estrada para caminhar,

e quando encontrar o rochedo da dor...

parar

e me sentar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 8 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:01

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