Escrever não me serve de nada, escrevo para me manter suspenso à vida, e leio muito, também de nada me serve, mas enquanto leio a minha vida faz sentido,
Arrependo-me de ter estudado, e se eu fosse analfabeto era o homem mais feliz do planeta, se andasse a passear uma enxada, bebesse um garrafão de vinho por dia e se eu tivesse uma catrefada de filhos, mas infelizmente nem bebo um garrafão de vinho por dia nem catrefada de filhos para viver à custa da Segurança Social,
Assim, fodo-me porque ninguém tem pena de mim,
Meses depois de me ter inscrito no Centro de Emprego, e carago se eu não pensei que eles tinham morrido, pois nunca mais recebi notícias, mas estava enganado, estão vivos e de boa saúde, recebo agora um destacável “Na sequência da sua inscrição para emprego, informamos qua ainda não nos foi possível satisfazer o seu pedido de emprego. Se continuar interessado, queira devolver-nos este postal devidamente preenchido, no prazo de 10 dias a contar da data do correio. Se não responder procederemos à anulação da sua inscrição.”,
Assim, fodo-me porque ninguém tem pena de mim,
Mas adiante, a vida é uma roda que gira e gira e não se cansa de girar, e às vezes cai-nos um raio na cabeça e surge a oportunidade da nossa vida, e a melhor oportunidade da minha vida é sair deste país, conseguir a Nacionalidade Angolana, e terminar os meus dias onde nunca devia ter saído,
E pergunto-me, Como posso eu ter Nacionalidade Angola?,
Escrever não me serve de nada.
Ler muito de nada me serve.
Eu preciso é de muitos filhos,
E de um garrafão de vinho por dia,
Assim, fodo-me porque ninguém tem pena de mim.