Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Mai 11

Uma luz aproxima-se do meu cansaço, vem de longe, vai para longe, e uma nuvem, azul, suspende-se nos teus seios aprisionados na minha mão. Começa a noite e da noite bebemos as sombras dos olhares irritantes à nossa volta, seguem-nos, perseguem-nos, e o luar adormece nos nossos desejos, e os nossos desejos, simplesmente se desejam… simplesmente se amam, e da noite, a noite, a tua voz em silêncio no meu ouvido, junto ao meu corpo cansado pelo cansaço da noite. Amo-te.

 

Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:39

30
Abr 11

Chove, estou feliz, hoje, quando chove, sei que vens. E hoje chove, e não me apetece abrir-te a porta, detesto quando chove, não posso brincar no jardim, e eu sei que vens, só vens quando chove…, existe um mundo totalmente novo lá fora, e as partículas de deus existem mesmo, acreditas, eu acredito, e sabes, querida, até acredito que só vens quando chove; hoje chove.

E se tudo isto, o mundo, sim, o mundo, foi uma experiência falhada dos cientistas, e tal como hoje, ao quererem recriar o big bang, a experiência telha falhado e ficado fora de controlo, e cá estamos nós, tu és mesmo louco.

Aos poucos, às vezes, devagar, outras, apressadamente, corto as correntes que me prendem ao teu passado, começo a correr, não olho na tua direcção, e escondo-me quando passo por ti, e agora, que começo a ser livre, posso voar livremente sem as tuas amarras, sei que ao fundo da esquina, entre a saudade e o sonho, a tua sombra segue-me, mas eu finto-a, sou mais rápido, e ela, não consegue apanhar-me.

Chove, e enquanto espero por ti, caminho na rua, converso com as gotinhas de água que caem das nuvens, são tão feiinhas, tão tristes, as nuvens, tudo, e uma gotinha disse-me que amanhã não vai chover, tu não virás, eu não vou para a rua conversar com as finíssimas gotinhas de água, sabes quantos quilómetros faz um gotinha de água até chegar a ti, e repentinamente conversar contigo, ouvir-te, saber escutar o que dizes, e as partículas de deus, que tem, o que são, são as partículas de deus, um mundo fascinante por descobrir, como é possível dois protões colidirem à velocidade da luz, é, será a luz o limite, da velocidade queres tu dizer, sim, da velocidade, e se é possível viajar a velocidades superiores à da luz, cerca de trezentos mil quilómetros por segundo, é tanto…, em teoria não é possível, e a massa seria infinita, e a energia, que teem, a energia libertada seria muito grande, imagina um objecto a trezentos mil quilómetros por segundo, e como a energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado, já deves imaginar, como o outro, é só fazer as contas.

Já ouço os teus passos na calçada, despeço-me da gotinha de água com quem estou a conversar, gostei muito deste bocadinho, aparece, quando quiseres, e agora sei que vens de verdade, porque ouves os meus passos, não, porque vejo o teu olhar, o que é a teoria da relatividade, “ quando tens um ferro em brasa na mão, um segundo vai parecer-te uma eternidade, e quando estás ao lado do homem que amas (eu), uma eternidade vai parecer-te um segundo”, tiveste saudades minhas, sim, muitas, como sempre, mas agora venho para ficar.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:10

13
Abr 11

O cordel que se escondia na minha mão quase sempre se estampava contra o sol, e o meu papagaio de papel, com muitas cores e onde costumava escrever com um sorriso, acabava sempre por se incendiar, desaparecia na escuridão, não do dia, mas da escuridão do amanhecer que há pouco acabava de acordar, preguiçoso, mal educado, e os meninos das cubatas arregalavam os dentes ao verem o meu papagaio desfeito em cinzas, malandros, e o cordel aos poucos vinha na minha direcção, enrolava-se ao meu pescoço e acabávamos por adormecer debaixo de uma mangueira, às vezes acordados pela passagem de um monstro dos céus que por perto costumava poisar, onde passava a noite, e eu lá ficava eternamente à espera que uma nuvem amiga me viesse buscar e me levasse para longe, junto ao mar; o mussulo.

 

A tarde escondia-se na luz que começava a dispersar e era quando eu e o ausente íamos para o portão da entrada, os dois, olhávamos para o infinito, eu despedia-me da nuvem que brincava comigo, enquanto ele apenas agarrava-se à minha sombra adormecida no chão, e de barriga para cima, olhava-me nos olhos e dizia-me baixinho; boa noite.

 

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:32

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