Ele falava com as árvores e dizia que atravessava paredes, ele sentado junto a uma oliveira, fumava cigarros de enrolar e desesperava na esperança que um gavião lhe dissesse boa tarde.
E boa tarde nenhuma.
O poço junto a ele encolhido na saudade, e a saudade em passos apressados caminhando em sentido contrário ao dele, e quando chegava junto ao extremo da leira, acenava-lhe, e o António de mãos à abanar,
- que faço eu aqui sentado,
O filho escrevia frases na terra comida pelo sol, e o António preocupado, pois o Miguel nunca tinha ido à escola, como poderia saber escrever?
Sem que o filho percebesse começou a ler em voz semi-baixa,
- as minhas mãos cansam-se no teu rosto quando a chuva miudinha submerge os teus cabelos de Outono, e ao fundo da rua, junto à esquina da pensão, um girassol abraça-me, beija-me, e no seu sorriso está escrito a palavra mar…
E enquanto enrolava um cigarro o medo comia-lhe as mãos, tremulas devido ao que acabava de ler, como era possível o Miguel apenas com cinco anos já saber escrever, e ele que só tinha a instrução primária não entendia o que estava escrito na terra,
- o meu filho só pode estar doente…
E o filho repentinamente,
- Pai, o que são protões?
E o pai com rosto de parvo,
- Quê?
E o Miguel despreocupado,
- Protões pai, o que são?
Sei lá o que é essa coisa…
Ele falava com as árvores e dizia que atravessava paredes, ele sentado junto a uma oliveira, fumava cigarros de enrolar e desesperava na esperança que um gavião lhe dissesse boa tarde, e a única preocupação era que tinha de acordar todos os dias às cinco da madrugada e andar todo o dia com a focinheira na terra, e de protões nunca tinha ouvido falar na vida.
O miúdo levanta-se em passos lentos e dirige-se ao pai, e apenas com o olhar diz-lhe,
- sabes pai ontem falei com a lua…
E o senhor António aos berros…, foda-se…
- que foi pai?
Queimei-me com o cigarro…
Francisco
19 de Fevereiro de 2011
Alijó