Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Mai 14

Hei-de encontrar-te

nas masmorras cinzentas do sonho

esquecer-me das noites em solidão

e voar sobre os cadáveres desgovernados das tuas mãos de pano

hei-te encontrar-te

no círculo mais secreto do teu corpo

disfarçada de nuvem

ou... ou vestida de neblina

hei-de encontrar-te

no rio da insónia com cabelos de nenúfar

na cama clandestina da madrugada

ou no sofá com lençóis de pergaminho desejo,

 

Sentir que há vida na tua boca

perceber que há flores nos teus seios doirados

sentir a água louca

descendo as tuas coxas que alicerçam soldados

sentir o beijo efeminado com perfume de menina

saltar as giestas cansadas da montanha assassina...

 

Hei-de... hei-de encontrar-te

nas masmorras cinzentas do sonho

galgar as sombras escadas dos edifícios amarelos

ou

ou esperar... esperar que tenhas vida

que sejas a manhã em construção

a estrela do amanhecer

hei-de encontrar-te

no vão do medo

como se fosses a mulher planeta da constelação do amor

encontrar-te

hei-de... hei-de encontrar-te no silêncio do teu orgasmo.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 28 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

19
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos, e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...

Vamos juntos... enrolados como duas serpentes envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,

É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios ficando entre eles... uma pétala de orvalho,

Estás loucos, oiço-te,

Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido, folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te

Estás louco,

Louco porque inventaram o amor, louco porque inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os livros de António Lobo Antunes, e louco

Estás louco,

E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em esqueletos vadios, que correm e comem,

Meninos, meninas,

Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus rostos

Meninos, meninas,

Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.

 

(não revisto - Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013 / Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:00

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