Suspendo-me nos cabelos do vento
E tenho uma especial atracção pelo negro,
Gosto da noite negra,
Sinto em mim o negro que alimenta
A minha mão…
E ninguém, e ninguém repara que na minha mão
Existe uma madrugada
E malmequeres em flor,
E nos cabelos do vento
Uma pétala que se esconde,
Um sorriso de menina
Em traquinices brincadeiras.
Suspendo-me nos cabelos do vento
E os meus lábios ficam ressequidos
Quando o negro de um petroleiro
Vem fundear no meu peito,
E o meu peito sofre,
Geme no negro da noite…
E no meu peito habita
O negro dos cigarros…
Dói-me olhar o rosto negro
Das lágrimas floridas
E das pétalas despedaçadas,
Acorda a manhã
E o negro da noite
Morre,
Finge esconder-se em mim
E eu, um sonâmbulo da noite
Sofro com a claridade do dia,
Tenho medo da luz,
Preciso urgentemente
De um buraco negro para caminhar…
Luís Fontinha
27 de Fevereiro de 2011
Alijó