Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada
Como as andorinhas desnorteadas
Entre árvores
Entre filamentos de saudade
Sobre a cidade
Dos sonhos
Acordar
O espelho da vida
Em liberdade condicional
Espera
Caminha
A pedra ensanguentada
Das ruelas em flor
O ruído ensurdecedor dos morangos
E das plásticas cabeças de alfinete
O fato prisioneiro no guarda-fatos
O meu esqueleto
Dentro do fato
Os sapatos
As meias
E todo o resto
Em chamas junto ao rio
Não entendo o perfume dos teus lábios
O sorriso que se alicerça em ti
E me sufoca
Quando acorda a noite
E a noite me transporta
Para a carta sem remetente
Oiço-te
E não percebo porque brilham os teus cabelos
Dentro do cubo de gelo
Da paixão
Em aventuras
Entre árvores
Entre filamentos de saudade
Saudade…
Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro
Cacos
Sílabas
Na seara do cansaço
Atrevo-me a olhar a lua
E não querendo ofender ninguém…
A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer
Não sei
Como poderia eu saber
Se as candeias se extinguiram nas marés de prata
Os sonhos
Os sonhos acorrentados ao silêncio
O medo de amar
Não amando
E comer
Todas as pétalas da rosa embalsamada
Tão triste
Eu
Neste cubículo de lata
Sem janelas
Sem… sem nada
Como uma simples folha de papel
Desesperada
Sobre a secretária
Eu mato-a com a caneta
Escrevo palavras
Palavras
Que só o mar consegue entender
E… escrever
Nos meus braços
Dentro de mim há buracos negros
E as equações da relatividade
Sós
Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento
Como eu sabia
Antes de a madrugada bater-me à porta
Olá bom dia
Meu amor…
Hoje não
Volte para a semana
Não
Não quero comprar nada
Hoje
Porque sinto a solidão
Nos arrozais
E nos pássaros
Que os homens constroem
Enquanto o poeta morre…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Março de 2015