Desce a noite pelos teus ombros de silício
Percebo na tua voz
O silêncio poema da paixão
O falso livro
Embrulhando-se nos teus seios
Em prata
A sombra
O prateado fugitivo
Descansando o olhar numa livraria
Livros
AL Berto
Lobo Antunes
Saramago
Pacheco
Livros
Estórias
Cesariny
A sombra
Lapidando o teu corpo
Oceano de palavras
Mergulhadas no teu púbis
A madrugada
Livros
Perdidos
E achados
O amor
Meu amor
O significado verdadeiro da saudade
Nos dardos envenenados da solidão
A fala
Não
A sanzala mergulhada em lágrimas de cartão
O vento trazendo as coxas do capim
Oiço-a enquanto durmo
Os seios minúsculos
Masturbados na poesia nocturna da alegria
A noite
Não
A fala
Os lábios incinerados na lareira do prazer
O suor alicerçado à tua pele
A húmida vagina em imagens tridimensionais
O PET
O maldito PET
O juízo
A mentira
A insónia
Novamente
Triste
Só
As ruas do teu sofrimento
A lotaria da vida
Morres
Não morres
Vives
Em mim
Meu amor
Vives nas minhas veias semeadas de tempestade
A saudade
Novamente
No meu corpo
O pénis encarcerado numa estrofe
O enjoo da solidão
Quando à nossa volta gravitam
Sombras…!
A penumbra tarde de Novembro
Nas janelas do Hotel da Torre
Belém
A vagina procurando cacilheiros de luz
Um cigarro
Dentro de mim
Aso beijos
E eu sabia que a carta
Sem destino
Morreu
O amor das sílabas encarnadas…
Travestis amigos numa mesa
A vertigem do amanhecer
Acariciando pássaros e cavernas de medo
Não tenho morada
Cidade
Casa
Rua…
Mas tenho um poema para ti meu amor.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Abril de 2015