Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Jul 20

Adoro os teus beijos, margarida nocturna.

Jardim incendiado da cidade da poesia.

Dos lábios, a jangada invisível do desejo,

A flor clandestina da madrugada,

Os beijos,

O portão de entrada para o sonho,

Quando o pequeno verso se alicerça no teu cabelo.

Adoro os teus beijos, meu amor lunar.

Palavra entre rios e socalcos,

Suspensa no lábio xisto adormecido,

Quando voa sobre o mar,

E, alimenta todos os barcos de brincar,

Eu, um menino em calções,

Correndo na tua direcção,

Sem medo de cair,

Sem medo de te amar nesta bela noite de dormir.

Adoro, meu amor,

Todas as noites pinceladas de sombras,

Infinito coração em batimentos silenciosos,

Aos poucos, a luz de ti nas minhas mãos,

Parecendo um veleiro encostado ao teu peito,

Sofrendo, gemendo sons melódicos do amanhecer,

Sabes, meu amor?

Adoro os teus beijos, margarida nocturna.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 18/07/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:28

14
Jun 20

Sou uma rocha,

Que dispensa o sono,

Plantam-se rosas no seu sorriso,

Gritam-se silêncios de revolta,

Entre paredes amarelas e sem juízo,

Sentado no trono,

Correndo pela seara,

Sem ninguém à volta,

Sem ninguém no terreno,

Sou uma rocha,

Aquela palavra proibida,

Suspensa no livro sereno.

Sou tudo aquilo que possam imaginar,

Desde pedra a foguetão,

Desde verso a palavra envenenada,

Desde o mar,

À triste canção.

Sou.

Muros de xisto olhando o rio,

Cansaço,

O frio,

Sou socalco maltratado,

Corpo,

Ferro,

Enxada calcinada na sombra do Senhor,

Sou. Sou pedra.

Palavra desejada.

Enxada,

Veneno da madrugada,

Sou rocha,

Sou tudo,

Não sou nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

14/06/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:08

02
Jul 17

O amor…

Ai o amor acorrentado ao sorriso da manhã!

 

Palavras vãs,

Tristes sombras dos alegres divãs,

Onde me deito e esqueço a tua ausência,

Ai o amor da infinita infância,

Silêncio madrugada,

Flor abandonada,

Ai o amor…!

Ai nada.

 

Alfama,

Belém enamorada,

O Tejo na minha mão desmesurada…

Ai o amor…!

 

O amor de nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:57

10
Jun 17

No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,

Um número esquisito suspenso na ardósia da tarde,

O mar está calmo, meu amor,

Tão calmo que podia suicidar-me nele sem ser percebido pelos seus lábios,

Dormir até à próxima maré de solidão que se enrola no meu corpo,

Um ninho de pássaros nunca visto por mim

Vive no meu jardim,

Cantam, brincam… e cagam todo o pavimento…

Mas gosto deles como gosto do teu sorriso na mácula presença de “Deus”,

Um abraço, o desenlace florido dos canteiros, sabes, meu amor, amanhã não haverá flores nos teus cabelos,

E a Madame sem nome entre gritos histéricos ao pôr-do-sol…

 

Salva-me, salva-me meu amor deste cansaço provisório que escreve nas minhas mãos os “poemas perdidos”, os poemas que ninguém lê e não gosta.

No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,

E não saberei se estarás cá quando eu partir,

Detesto despedidas, meu amor, junto ao Tejo…

 

O cheiro dos barcos.

 

O perfume das gaivotas em revolta,

Que dormem junto à minha janela,

Quando nos espelhos do corredor acordam os esqueletos do sofrimento,

As estrelas são o teu olhar camuflado na escuridão da feira da vaidade,

Remeto-me ao silêncio, sabes meus amor, os jardins debruçam-se nas tuas coxas de xisto, e do rio regressa a ti a hipnotizante palavra do “Adeus” …

 

O cheiro dos barcos.

 

Junto ao tejo, meu amor… junto ao tejo…

 

O feitiço da Madame sem nome.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:02

09
Jan 16

O silêncio olhar

Submerso na tempestade do fugitivo,

A vida sem sentido,

A vida… a vida encurralada numa ruela escura,

Triste,

Triste como as serpentes da paixão,

A luz da solidão

Nas engrenagens do desejo,

Depois… depois o beijo,

A caricia entranhada no cansaço corpo,

Nu,

Ao vento

Como uma bandeira sem Pátria,

Os gonzos da infância

Quando acorda o dia e os teus lábios pertencem às nuvens prateadas,

Tão simples

O silêncio olhar

Na boca do narciso…

O desassossego da alma

Na morte de ninguém,

Vegetativo o estonteante rio dos amores,

As floreiras sós,

Sem ninguém,

A vida sem sentido…

Triste,

Não,

Não sei amar um morto-vivo,

Não,

Não sei escrever na montanha do passado,

Tínhamos gaivotas,

Frango assado,

E felizes que éramos,

Com duas côdeas de pão

E um olhar de madrugada,

Amor,

Amor,

Desgraçada… a vida, a calçada,

Corro,

Desço,

Embriago-me nos teus seios,

E permaneço

Um esqueleto de vento,

Uma ténue limalha de sémen…

Não,

Não sei amar…

Amar é complicado,

Difícil,

Acordar,

De manhã

E tu não estás nos meus lençóis de pergaminho,

Fujo,

Escondo-me…

Viva o vinho,

A vinha,

E todas as amendoeiras em flor…

Corre, corre seu safado cliente dos nocturnos abismos,

Nunca tive sorte,

Nunca amei uma pomba,

Um papagaio em papel,

Uma praia,

Uma mangueira,

Uma criança procurando brincadeira,

Eu,

O menino de Luanda.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 9 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:07

05
Jan 16

Sou um indigente conformado

Filho da noite quando a noite é noite

E do vento

Quando o vento é vento

Sou a palavra

Sou a jangada

Sou o esqueleto sem medo

Que habita numa calçada

Invisível

Apelidada de saudade

Sou um indigente saudável

Diplomado em perfumaria

Canso-me com a alegria

E choro com a melancolia

Sou triste

Aparente

Indigente

Agreste

Comestível às primeiras horas da manhã

Sou um indigente conformado

Sou gente

Que sente

O luar aprisionado

Num qualquer olhar

Numa qualquer cidade apilhada de fantasmas…

Sou um indigente

E sou homem do mar

Quando o mar era mar

E me trouxe

E eu vim

Vim aqui parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 5 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

23
Out 15

Tínhamos no peito a espada da paixão,

Este corpo dilacerado nas cosmopolitas manhãs de incerteza,

O medo de acreditar no amor, quando o amor morreu nos teus braços,

O significado da palavra envenenada,

O silêncio em viagem,

Sem destino,

Correndo para ao mar,

Peço um desejo…

Amar-te sem preconceito,

Não o consigo, só, eu, absorvido na neblina da manhã,

Escrevendo no capim as palavras proibidas,

Que só o teu corpo sabe distinguir do sonho,

Tínhamos no peito…

Os gemidos dos Oceanos entre orgasmos e desenhos,

As palavras de ninguém,

O homem de vidro sobrevoando as mangueiras de um quintal imaginário,

E hoje, e amanhã…

Somos engolidos pelo desejado beijo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 23 de Outubro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:42

25
Fev 15

Desenho_A1_051.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

o imaginado silêncio

pela orquídea do desejo

palavra por palavra

o sangue que foge da veia amaldiçoada

como a charrua

entranhada

na terra...

abraça-se ao poema

fingindo que amanhã não há madrugada

nem amanhecer

esta cidade inventada

em páginas de cartão

 

o imaginado silêncio

na mão

de uma sombra envenenada

ele espera pelo regresso da amada

mas o amor é uma carta

sem palavra

sem nada

que só a morte sabe reconhecer

quando o mar entra dentro de casa

e gritam

os barcos encalhados

nos semáforos da saudade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

23
Jan 15

A maré que chora

e

grita

o esperma emancipado da poesia adormecida

a lágrima

o sorriso de uma ferida

a maré que inventa meninos ao amanhecer

o mar endurecido

o mar... o mar a morrer

a sílaba

e

grita

a palavra

na vagina do silêncio...

a maré

cinzenta

a ratazana dos armários de vidro

a infâmia quando acorda o mendigo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:34

14
Jan 15

Pintura_60_A1_Nova.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Inventas-me no silêncio pergaminho,

permaneço desorganizado nos teus lábios,

sou um palhaço,

um circo ambulante

comendo amêndoas

e figuras geométricas,

as equações dos teus seios

adensam-se nas ardósias do meu corpo,

não sei se te amo,

não sei se me amas...

permaneço inconstante,

volátil...

surpreso ambulante,

figurante,

poeta insignificante,

espelho de nata...

o Tejo na minha mão,

o teu corpo despido solicitando o regresso da noite,

o porteiro gritando.... “Foda-se o amor”,

a paixão

o desenho

e a poesia da solidão,

dos socalcos em orgasmos vínicos...

e a fotografia dos meus pais

descendo ao poço da morte

abraçando-me loucamente só, como uma equação anónima,

como um prego em aço.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:44

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