Eu pescador
Sem corpo para habitar
Sonâmbulo do movimento rectilíneo uniformemente acelerado
À procura dos duzentos e seis ossos junto à maré
E a maré
Um chuto no cu
Manda-me trabalhar
Eu pescador
Sem embarcação
Sem barco para atracar
Eu pescador
Ateu e dissidente de esquerda
Preciso já
É urgente ter um cadáver
Um corpo para brincar
Um sorriso onde me agarrar
Uma rede para lançar ao mar…
E a maré
Eu pescador
Sem corpo para habitar
Sem deus para me zangar
E chamar-lhe nomes feios
E atirar-lhe com os meus duzentos e seis ossos às fuças
Desenhar-lhe caretas na areia
Fazer-lhe festinhas nas trombas…
Eu pescador
Eu pescador perdido junto ao mar
Abandonado por deus
Com duzentos e seis ossos e alguns em bom estado
Com duzentos e seis ossos para penhorar…
FLRF
9 de Abril de 2011
Alijó