Apaixono-me pelo vento em construção
Nas ruas da cidade
Ao longe de mim ausente
A claridade do amanhecer
Quando faz amor com o rio que se esconde
Na tua mão aberta
Deserta
Que me esquece não me responde
Nas minhas veias entras ao acordar
Sonho cansado de adormecer
Em teus lábios de arco-íris
Cheiro a hortelã na minha cidade
O suor escorria-te
Pelos seios de mármore
E eu, sentado nas margens do rio,
Olhava-te como se fosses o meu veleiro
Mísero hóspede de mim
Foguetão em descolagem rumo ao teu olhar
- Estou cansado
Perco-me sem perceber a distância a que te encontras
Se é que ainda te encontras dentro de mim
Deixo todos os meus ossos no teu sorriso
Que me persegue me ilumina
E de manhã me vai acordar
Acordas-me da noite vigorosa amante
Do teu silêncio
Refém do teu destino
Promessa quando prometi amar-te
Mas não te amo
Não sei amar as ruas duma cidade
O vento em construção
Dissipa-se na minha paixão
Deixo os teus seios de mármore
Despeço-me do rio
Fujo da claridade que tu apontas para mim
Malditos semáforos das ruas desta cidade
Gaivotas empoleiradas nos teus cabelos
Com amanhecer embriagado pela tua voz
E sinto na minha sombra
A paixão do vento em construção
Sei que me escondo de ti
Aliada flor do meu cansaço
Tentando equilibrar o centro de massa
E no meio de papeis rabugentos
Procuro a equação necessária para te beijar
- É tarde estou cansado
As ruas da cidade adormecem no vento em construção
E tu, e eu, desistimos de sonhar…
Luís Fontinha
Alijó/Portugal