Observo os pássaros poisados na minha janela.
Converso com eles,
Contam-me estórias,
Lamúrias,
Contam-me os murmúrios da noite,
Quando se acendem as estrelas e cessa o dia.
Pergunto-lhes porque me visitam, se durante o dia não recebo uma única visita.
Pergunto-lhes porque me perseguem enquanto saboreio, à noite, o meu último cigarro, e, o meu último copo de uísque.
São chatos.
Cansados,
Choram,
Gritam,
E não sei o que lhes dizer…
O que se pode dizer a um pássaro abandonado?
Que está frio?
Que a noite é a coisa mais bela de se olhar?
Escrevo-lhes.
Não me respondem.
Mas olham-me.
Abro a janela, eles entram, são as primeiras visitas dos últimos meses, e, ficam tão felizes por eu lhes acariciar as penas de algodão da cabeça…
Pergunto-lhes.
Vamos escrever um poema?
Que não. Que a poesia é para lamechas.
Mesmo assim, escrevo-lhes.
Falei-lhes de um tal de Francisco, que em miúdo, puxava um triciclo com um cordel invisível por um quintal de Luanda.
Não acreditaram na minha estória…
Dizem-me que não existem triciclos.
Dizem-me que nunca estive em Angola.
Sabes?
Não.
Nunca vi o mar das oliveiras.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
18-06-2019