Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Vejo as faúlhas da parvalhice, sinto das auras mãos de menina, o doce perfume da mulher desiludida, com o marido, com os filhos, com os vizinhos, com os políticos..., comigo, com ele, ou com o amante, sinto-lhe a leveza vassalagem a transbordar a alegria de pálpebras negras, e empobrecidas, falta-lhe o amor, falta-lhe ser amada, desejada, possuída... sobre as toalhas vadias das tempestades de Agosto,

(assobiam os manifestantes contra a ausência de amor)

Crescem pétalas de amor como de lixo existe nas ruas, há muito amor, este ano, para dar, oferecer e vender, este ano tudo se oferece, e tudo é possível de concretizar, as auras de menina, o doce perfume da mulher acabada de o ser, finge ter um marido ausente, caminha pelas encostas cegas dos socalcos abandonados, imagina um rio feliz, imagina um homem a comandar esse rio, e apenas com um sorriso nos lábios, ele, ele desancora o casebre em ruínas, dissimuladas canções escritas em paredes de areia, velhas cortinas em janelas de madeira, tudo arde, e ele corre até entrar nos orgasmos clandestinos das eleições que se avizinham, alguns, precocemente, já ejacularam, outros, nem esse prazer chegaram a sentir, porque é assim a puta da vida, quando se quer, não se tem, às vezes, apostam no cavalo errado, por essa razão comecei a apostar em ratos de capoeira, são destros, astutos e sabem sempre o que fazer, alicerçam-se os caminhos até ao cimo das escadas com vista para as nuvens, e tudo se perderá como um simples grão de areia...

(assobiam os manifestantes contra a ausência de amor)

Vejo as faúlhas da parvalhice,

Como são as borboletas?

Têm pintinhas nas asas, meu amor,

Como as ondas silvestres dos Oceanos mergulhados em areia branca, uma voz de carneiro desaparece dos currais desabitados e com telhas em cerâmica pintadas de verde alface, oiço os orgasmos inconsequentes de alguns candidatos, e coitadas das mulheres que descem e sobem a montanha da vaidade, infelizes, tristes como as mãos do escultor, que tendo diante dele um pedaço de rocha, nada dali sairá até que desçam todas as estrelas dos céus onde se escondem os malabaristas do costume, e afins,

(não falo de política, porque me enoja a sobrevivência de alguns)

Ela amanhava uns cabelos curtos, castanhos e com alguns desenhos misturados com algumas frases inocentes, deitávamos-nos sobre uma lago de sémen e olhávamos os edifícios com braços longos e esguios, alguns deles, masturbam-se intelectualmente e sem se aperceberem, os edifícios, deslizam rua abaixo... até que o Tejo os apanha, os coloca no comboio para Cais do Sodré, e depois, nasce a manhã em nós, e depois...

Têm pintinhas nas asas, meu amor,

E depois crescem pétalas de amor como de lixo existe nas ruas, há muito amor, este ano, para dar, oferecer e vender, este ano tudo se oferece, e tudo é possível de concretizar, as auras de menina, o doce perfume da mulher acabada de o ser, finge ter um marido ausente, ama o amante, e tem raiva às flores amarelas,

Porquê?

Pergunto-me se seria possível viver sem ti, sem os teus carris, sem as tuas sombras, pergunto-me... e percebo, que há sempre uma esplanada de amor à nossa espera, sempre, como as chuvas depois do carregado céu com estrelas de papel, Porquê

Porquê o quê?

(não falo de política, porque me enoja a sobrevivência de alguns)

Porquê o quê?

… se a cidade é tão bela, se a cidade tem um coração de amêndoa e uma pétala poética e melódica... como as palavras dos Fingertips..., como os pinheiros de Carvalhais, como as algas na boca dos teus queridos peixes...

E amanhã

Porquê o quê?

E amanhã, logo pela manhã, serei odiado por alguns sobrevivente raivoso porque este texto existe e é meu...

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:15

02
Abr 13

foto: A&M ART and Photos

 

A demolição do meu corpo dentro do cubo de silêncio que as andorinhas constroem nas triangulares janelas da casa dos fantasmas-sombra que desde a infância vivem no quarto ao fundo do corredor, sem portas, o tecto descia até não caberem mais os medos entre o pavimento e o candeeiro retrovisor do quarto das traseiras,

Chamavas-me durante a noite para beber o leite, eu recusava-me a acordar, eu recusava-me a abrir a boca, ele recusava-se a levitar sobre o jardim das flores de corpo-doirado, durante o processo de construção, levantava-me pensando que não me levantava, por exemplo, quando hoje estava a ouvir a Antena 3 e repentinamente, entra-me no ouvido a Radio Regional de Resende, confesso, por ignorância, desconhecia a sua existência, É para dedicar? Sim, para o primo Francisco, Para o Pai Francisco, e Para o avô Francisco, E o tema... “O Malhão do Beijo – Zé Amaro”, e eu

(sabia lá quem era o Zé Amaro...)

E ainda agora desconheço a quem pertencem os pássaros que não cessam de refilar, refilam, refilam, e eu

(penso)

Será uma reunião sindical? Será uma manifestação? Não percebo, não entendo porque berram estes malditos pássaros que vivem nas árvores do jardim emprestado onde habito... sem bancos de madeira...

(dedico a todos)

A prisão do nobre silêncio às algemas dos fios de cobre que o sucateiro da esquina derreteu depois do dependurado João & João ter fanado do monte dos arbustos bravos, o telefone silenciou-se, e todos os sorrisos das câmara de vídeo perderam-se nas conferências de parvos a venderem pipocas na praça, melhor dizendo, junto aos Paços do Concelho, de meia-calça, sapato alto, e brincos de prata nas orelhas furadas como o crivo do passe-vite herdado da avó Silvina, e confesso-lhe querida senhora, ver não vi, mas pareceu-me que do outro lado da rua um senhor fugiu com um dos candeeiros de jardim estacionado junto ao largo onde passeiam elas, e mão dada, como andorinhas de Primavera,

(dedico ao meu pai, dedico à minha tia, e a todos os Membros do Governo, e já agora, para todos os desempregados...)

É tudo? Falta a frase... Pois carago... a frase... “Passos, Passos, é no sucateiro dos abraços” desde 1756, E a música? “O Malhão do Beijo – Zé Amaro”,

Muito obrigado e uma excelente tarde,

(excelente tarde, só se for para ti)

A prisão, os fios de cobre a saltarem de mão em mão, e uma Polícia Política de espada na mão à procura de palavras e canções, de textos e gravatas, palavras, paralelepípedos recheados com os olhares da calçada do João & João, rapazola sabichão, salteador de amêndoas depois de levantar voo a Páscoa

(Aleluia, Aleluia, Aleluia)

Invoquem o artigo 21 da constituição, façam-no, não tenham medo, pior do que isso é a fome e a miséria,

E agora, depois de se erguer e dirigir-se para outras paragens, resta-nos os buracos das estradas mal alcatroadas, que brevemente vão ser devidamente tapados, pois este é ano de eleições Autárquicas, e eu, pergunto-vos, Porquê?

Se eu estava descansadinho a ouvir a Antena 3, tinha não mão o livro de poemas de AL Berto “Vigílias” e entra-me casa adentro o “Malhão do Beijo – Zé Amaro”, sem que alguém tenha mexido no radio, sem que uma única alma, que eu saiba, estivesse ao meu lado, e o estupor do radio vai até Resende, veja vossemecê, Resende, ao menos ficava-se por Carrazeda de Ansiães, ou por Vila Real, ou... pelos Paços do Concelho, mas não, quis o destino que hoje eu, sem perceber porquê, conhecesse a Radio Regional de Resende, por acaso, e imagino se o AL Berto fosse vivo

E dizia-lhes

(“Cesariny e o retrato rotativo de Genet em Lisboa

ao lusco-fusco mário
quando a branca égua flutua ali ao príncipe real
as bichas visitam-nos com as suas cabeças ocas
em forma de pêndulo abrem as bocas para mostrar
restos de esperma viperino debaixo das línguas e
com o dedo esticado acusam-nos de traição

sabemos que estamos vivos ou condenados a este corpo
cela provisória do riso onde leonores e chulos
trocam cíclicos olhares de tesão e
ficamos assim parados
sem tempo
o desejo diluindo-se no escuro à espera
que um qualquer varredor da alba anuncie
o funcionamento da forca para a última erecção

lá fora mário
longe da memória lisboa ressona esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se lisboa num vão de escadas
é isto
tão triste mário sobre o tejo um apito”

AL Berto)

E dizia-lhes o quanto é difícil viver desordenadamente sem a ajuda de ninguém, como os fantasmas-sombra que habitavam a casa de Carvalhais e morreram quando ela morreu, e ruíram quando ela ruiu, e solidariamente se suicidaram, quando ela se suicidou, e no entanto, hoje vivo feliz por saber que deixei de existir, tenho um nome, apenas, e um número de contribuinte, um número que não serve para nada, que de nada me serve, apenas um número, e números tive muitos, apaixonei-me por muitos, e hoje, vivo completamente na solidão dos números, e apenas posso ter esperança no

(viva, viva o artigo 21 da Constituição)

Dia de amanhã, a mesma esperança que tinha no dia de hoje, e pergunto-me

(não devia ser inconstitucional existirem reformas abaixo de trezentos euros e abaixo de duzentos e setenta e um euros?)

Dizem-me para não repetir o que disse...

Porque isso não se diz, porque inconstitucional é a Taxa de Solidariedade, isso sim, porque não usufruir qualquer rendimento ainda não é nem será inconstitucional...

É tudo? Falta a frase... Pois carago... a frase... “Passos, Passos, é no sucateiro dos abraços” desde 1756, E a música? “O Malhão do Beijo – Zé Amaro”,

Muito obrigado e uma excelente tarde,

(excelente tarde, só se for para ti)

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:08

29
Fev 12

(Às vítimas do caciquismo)

 

Os íntegros são desamados

Os incompetentes muito avaliados

Os barcos são desgovernados

Os rios apedrejados

 

Os mendigos são odiados

E os desempregados

Coitados

Encurralados

 

Os íntegros são desamados

E os com currículo algemados

Cansados

Dos políticos aleijados

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:07

26
Ago 11

 

Passeava-me pelo jardim Dr. Matos Cordeiro e não queria acreditar, à primeira vista pensei que fosse alguma alucinação devido aos caixotes do lixo que há vários dias não são despejados, mas não, não se tratava de nenhuma alucinação, e é verdade, este senhor estava sentado num dos bancos e com ar pensativo, um pouco abatido, mas ao que parece, bem de saúde,

 

Sentei-me, ele olhou-me com indiferença, e depois de algumas frases que fiquei sem perceber ouvi da boca dele que Em quarenta e dois anos só agora perceberam que eu era e sempre fui um ditador, Em quarenta e dois anos só agora perceberam que sempre fui e sou louco, E em quarenta e dois anos que sempre me receberam de braços abertos em todo o mundo e me deixavam montar a tenda e fechavam os olhos às minhas loucuras só agora descobriram que eu não presto,

 

Eu olhei-o, parei num dos caixotes do lixo, levanto os braços e coloco as mãos na cabeça, e disse-lhe Sabe, enquanto precisam de nós toda a gente se deita aos nossos pés e toda a gente diz que somos bons meninos, Ele é muito bom menino, ouvi-o eu tantas vezes, não referindo-se a si, mas a outros, mas quando já não interessamos, quando não interessamos dizem Ele é louco, Ele é ditador, Ele fala porque está desempregado,

 

É a vida, Senhor Coronel,

 

Deixaram de precisar de si.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:20

24
Ago 11

Há quem se sinta incomodado

Passa por mim e vira a cara para o lado

E pudera

Uns porque têm o filho empregado

E outros tendo o filho desempregado

Estão em lista de espera,

 

Há quem se sinta incomodado

Passa por mim e vira a cara para o lado

E pudera

Uns porque temem o fim do candado

E outros num desespero desesperado

Esperam o começo da Primavera.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:37

21
Ago 11

“Quando a mãe do poeta perguntava a si própria onde teria sido concebido o poeta, apenas três possibilidades entravam em linha de conta: uma noite no banco de uma praça ajardinada, uma tarde no apartamento de um amigo do pai do poeta, ou uma manhã num recanto romântico dos arredores de Praga.”,

“A vida não é aqui”, título de um livro de Milan Kundera, 1ª edição: janeiro de 1990, página 11,

 

E em 1990 eu acreditava que a vida não fosse aqui, coisas da juventude, sonhos que com o passar do tempo se transformam em pedacinhos de nada, mas hoje, hoje tenho a certeza que a vida é aqui, e que para alguns é boa demais, e para outros, madrasta, para uns é boa de mais porque coabitam com o oportunismo, umas vezes estão na margem esquerda do rio, e outras, outras estão na margem direita do rio,

 

Nada tenho contra os que atravessam os rios, pois foi precisamente para resolver esse problema que desde sempre se utilizaram barcos, pontes ou a nado, e o oportunismo tem limites, e em Alijó mete nojo, e então nos últimos vinte anos veem-se coisas que escrevendo ninguém acredita, lugares criados propositadamente para esta ou aquela pessoa, algumas delas do mais incompetente que existe, o doutorado em economia que vê passar à frente o licenciado, apenas porque um era genro de um alto dirigente do poder, e mais, e mais, e não interessa continuar, e não lhes bastando terem-se apoderado do Triângulo das Bermudas, querem agora assaltar as obras da Barragem do Tua, mas deixamos Alijó e voltamos ao que interessa, à juventude, aos sonhos, à poesia, a Milan Kundera, e felizmente que a prática de enviar os renegados para a Sibéria terminou,

 

E a vida é realmente aqui, injusta, e para aqueles que não se vergam, não dizem sim apenas porque alguém quer que ele diga sim, porque se eu tenho um copo na mão e mesmo que o meu melhor amigo me diga para eu dizer que é um cinzeiro, eu, eu simplesmente lhe respondo, Desculpe mas é um copo,

 

O problema de Alijó e de A vida não ser aqui é extensivo ao resto deste retângulo, o oportunismo, os políticos deixaram de desempenhar as funções para que foram eleitos, isto é, defender os interesses do povo, para à custa do povo resolverem os seus problemas familiares e pessoais, e mete o filho, e mete a filha, e mete a sobrinha, e mete a cunhada e mete o namorado da filha e mete a amiga do namorado da filha e mete o vizinho que andou a passear a bandeira e a receber cheques para andar na campanha eleitoral, vergonha, vergonha, e vergonha…

 

Kundera escreve lindamente, e sou apaixonado por ele, e aconselho vivamente a leitura deste livro, mas não posso concordar com ele quando coloca como título “A vida não é aqui”, claro que a vida é aqui e para alguns tem sido um sonho, ouro sobre azul…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:35

11
Jul 11

Reduzam,

As freguesias

Autarquias

E o número de Tias,

Os hospitais

Escolas que estão a mais

E os Generais,

 

Reduzam,

Todos os jardins

E afins

E as pedras nos rins,

E não esquecer nunca a literatura

A gordura

E os buracos de fechadura,

 

Reduzam,

As pilas murchas da cidade

A felicidade

E a saudade,

Os candeeiros

Os paneleiros

E os petroleiros,

 

Reduzam,

Os feriados

Namorados

E os morgados,

A noite quando adormece

As mamas que fogueiam e aquece

O sémen dilatado da manhã quando desaparece,

 

Reduzam,

A puta que os pariu

O menino que sorriu

E fugiu,

Os barcos no mar

Deus que deixou de sonhar…

Mas nunca reduzir a palavra GRITAR…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:02

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