Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

09
Dez 11

Os mercados financeiros andam muito nervosos, possivelmente padecem de uma depressão grave ou loucura que nem o psiquiatra do livro do António Lobo Antunes em Memória de Elefante consegue tratar.

Tudo é preciso ser feito para acalmar os mercados e as Agências de Rating.

Em nome dos mercados substituem-se chefes dos governos eleitos democraticamente pelo povo (Grécia e Itália) e qualquer dia, porque os mercados assim o querem, em Portugal vamos assistir à substituição do nosso primeiro-ministro por outro, porque os mercados assim o desejam, ou convém, sem eleições.

Muito em breve, alguns anos, não passaremos de peões nas mãos dos mercados, até quem sabe, escravos. Eles escolhem os governos e nós trabalhamos, mas sempre em silêncio, porque os meninos mercados podem ficar nervosos… ou pior, loucos.

 

“A Charlotte Brontë a cambalear à beira do KO químico voltou para a janela uma unha onde o verniz estalava:

- Alguma vez viu o sol lá fora, seu cabrão?

O psiquiatra gatafunhou CARALHO + CABRÃO = GRANDE FODA, rasgou a página e entregou-a à enfermeira:

- Percebe? Perguntou ele.” (In Memória de Elefante – António Lobo Antunes, pág. 19)

 

E apetece-me dizer e escrever; os mercados que se fodam.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:53

31
Ago 11

Quis o destino que em setembro de 2009 recebesse, anonimamente através do correio, documentos referentes à Câmara Municipal de Alijó onde alguém denunciava diversas práticas de corrupção na Autarquia (que só não os publico aqui porque não sei se existe investigação ou se estão em segredo de Justiça), e quis a Direção Regional de Vila Real do PCP (porque era militante do PCP) que eu os entregasse na Polícia Judiciária de Vila Real, e estupidamente fui entregá-los na companhia de um elemento pertencente ao Comité Central na altura (Sr. Mário Costa), estupidamente porque se fosse hoje, hoje não os entregava, hoje simplesmente destruía-os. Não acredito em coincidências, mas que as há, há.

 

E desde então, desde então muitas coincidências têm acontecido. Para uns, qualquer semelhança com a realidade é pura ficção, para outros, que são coisas da vida e da roda que não se cansa de girar, para mim, para mim são apenas coincidências.

 

Não acredito em coincidências, mas que as há, há.

 

E razão tinha o meu vizinho em Luanda; “Quem nesta casa entrar tem que ver, ouvir e calar”, frase inscrita num azulejo e que guardava religiosamente na parede da sala no Bairro Madame Berman, em Luanda, Angola.

 

Coincidências? Não acredito, mas que as há, há…

 

Primeira coincidência:

 

Inscrevi-me no Centro de Emprego de Vila Real, uns dias antes tinha entregado o meu currículo no escritório dos responsáveis pela construção da barragem Foz-Tua, na ficha de inscrição onde perguntavam a que cargo me candidatava respondi A TUDO, e coincidência estão a entrar pessoas com menos habilitações das que eu possuo. Coincidências?, Não, eu é que sou maluco.

 

Dados Pessoais:

- Estado Civil: Solteiro;

- Nacionalidade: Portuguesa;

- Idade: 45 anos;

- Naturalidade: Luanda/Angola;

- Carta de Condução;

Formação:

1989/1990 – Técnico de Desenho de Construção Civil; CICOPN

Curso de Formação Profissional

Habilitações Literárias:

- 12º Ano de Escolaridade, 1º curso via de ensino;

- Frequência Universitária (matriculado no 2º ano e inscrito a 90% das disciplinas do 3º ano de Engenharia Mecânica);

- Acção de Formação Teórico-Prático ao Método dos Elementos Finitos;

- Curso de Iniciação ao Matlab;

Experiência Profissional:

- 1990- 2000 – Desenhador de Construção Civil (AutoCad):

- 2001-2004 – Empregado de Escritório (António Luís Magalhães & Sobrinhos, LDA);

- 2004-2010 – Desenhador de Construção Civil;

Experiência Profissional Adicional:

- Conhecimentos de Cálculo de Estruturas (Programa Cype);

- Conhecimentos do Programa de Elementos Finitos (Ansys);

- Conhecimentos de Fortran;

- Experiência em hardware;

 

Segunda coincidência:

 

Desesperadamente e humilhantemente recorri ao Rendimento Social de Inserção, e senhores, nunca vi os serviços da Segurança Social de Vila Real serem tão rápidos, entreguei o pedido dia 23 de Agosto de 2011 em Alijó, e o ofício do indeferimento é datado de 26 de Agosto de 2011, e com o carimbo de saída dos serviços de 29 de Agosto de 2011 (06882211-08-29),

 

Motivo do indeferimento?

 

Simples: porque vivo de favor em casa dos meus pais, reformados, porque se não fossem eles vivia na rua, e o meu pai tem a reforma doirada de 379,04 €, e a minha mãe tem a reforma doirada de 279,79 €. E eu não recebo subsídio de desmprego.

 

Coincidências? Não, eu é que sou maluco.

 

E claro que tudo isto é o preço que estou a pagar por ter entregado os malditos documentos na Policia Judiciária de Vila Real.

Sei que nesta terra, sei que neste país, não adianta reclamar nem denunciar, e também sei que nunca mais vou conseguir nada em Alijó, principalmente a nível de trabalho, mas de uma coisa podem ter a certeza, estúpido e burro, não sou.

 

E prefiro ser fuzilado que me rebaixar a vossa excelência sua majestade…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:13

28
Jul 11

Tentei de tudo

E não consigo

Descalcei-me no rio

E galguei socalcos

 

Subi montanhas

Desci ao inferno

Escondi-me nas sombras

E aterrei no xisto em migalhas

 

Tentei de tudo

Fiz peito ao vento

Atirei pedras às estrelas

E nas nuvens adormeci

 

Tentei de tudo

Mas o meu corpo de barco enferrujado

Teima em ancorar-se na esquina da rua

À espera que uma alma bondosa de sucateiro

 

O venha desmantelar…

Tentei de tudo

Senhores vejam só

Até rastejar pelo chão fui capaz

 

E afinal não adianta tentar

Não vale a pena lutar

Tentei de tudo

E para quê?

 

Escreves bem, dizem alguns…

És inteligente, dizem outras...

Aos primeiros que metam a escrita cu acima

E às segundas que introduzam a inteligência na vagina

 

Se não és filho de pai rico

Se não lambes botas

Ou se não tens cartão do PS ou PSD

Estás completamente fodido…

 

E acredita

A cultura é uma merda que não serve para nada

O homem quer-se inculto

A cuspir no chão e a dizer palavrão…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:16

10
Jul 11

O sonho dela,

Enfiar-lhe espigas de milho rabo acima,

As curvas do Douro na sombra dos socalcos quando pela manhã batem à porta, abre a porta, um cadáver entra e senta-se na sala, e o cu colado com pastilha elástica, o rabelo na curvatura do cotovelo circunflexo, o vento que estaciona gaivotas junto ao cais, o almoço na mesa, crisântemos com malmequer e molho de girassol, voltamos ao Douro, uma sombra carrega pausadamente o silêncio da enxada, a remela do xisto nos olhos das videiras, o cheiro a carqueja inalada pela prisão de ventre, o intestino do Douro até à foz e na sanita o desabafo da noite anterior, enfiar-lhe espigas de milho nos orifícios das sílabas, o senhor cadáver sacode o guardanapo e deixa cair no chão lavrado da terra o talher com sabor a limão, quatro cadáveres e duas cegonhas sentados na mesa de granito, a empregada vestida de serapilheira enrolado nas mamas de silício, uma das cegonhas acena com a mãozinha à empregada, Não gosto de molho de girassol, a empregada cruza os ombros e indiferente responde-lhe que só come quem quer, e se a menina não gosta paciência, uma das mamas começa a despertar da luz que acorda na parede da sala e virada para o rio,

- E o rio poisado no parapeito, a empregada engasga-se e grita Ai Jesus,

O rio finca os dentes no vidro envelhecido da casa, as mãos amarradas à encosta onde vagarosamente se passeia uma locomotiva envenenada pelo fumo dos cigarros, vai e vai e vai e nunca mais chegará ao Porto,

. A empregada pergunta a um dos cadáveres, Para que servem as agência de rating, caralho?,

E nunca mais sairá do Douro entranhado no púbis das oliveiras, emagreço, queixa-se a empregada, eu fodia-te, murmura um dos cadáveres, não gosto de molho de girassol, grita uma das cegonhas, vai e vai e vai, e o carvão dos ossos extingue-se e a locomotiva suspensa na rabina, pára no apeadeiro da morte, e o magala nunca chegará à Calçada da Ajuda,

- Diga-me lá para que serve essa merda do rating?, a empregada a enxotar de uma das mamas uma abelha vestida de azul,

A vodka escondida no beliche da camarata, o nevoeiro de fumo de erva entontece a cabecinha do Sargento, fica em sentido, pega num dos ramos de oliveira e adormece a fazer continência ao armário encostado à parede, da sanita turca emerge uma ratazana com um cigarro ao canto dos lábios, e quando se depara com a sombra do Sargento levanta uma das patas e mija-lhe nas botas engraxadas pela saliva,

- A empregada brinca com espigas de milho,

O rio em pancadinhas fofas nos vidros da tarde, a empregada desesperadamente, Ai Jesus, Ai Jesus, a empregada deixa cair uma das mamas e novamente questiona-se,

- Para que servem as agência de rating, caralho?,

Precisamente para enfiar no cu como espigas de milho…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:25

05
Jul 11

Sobre o arame dos dias

Caminho silenciosamente para a outra margem

Poiso-me como se fosse um pássaro

Quando nos lábios emagrece a aragem

 

Das horas dos dias e dos meses,

O vento balança-me e sinto-me embriagado

Pela pasmaceira de estar vivo…

E continuar firme como um calhau lançado

 

Rabina abaixo.

Que quereis vós de mim senhores da terra?

Que me ajoelhe e vos lamba as botas

E engula as rochas da serra?

 

E nem a fome vergará o meu esqueleto decrépito

Porque o meu corpo poderá vender-se, e porque não?,

Mas a minhas convicções e ideais

Jamais se venderão,

 

Vender o meu corpinho sim

Lamber botas é que não,

Irrita-me dá-me nojo

Alergia e comichão.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:07

17
Jun 11

O vento aconchega-se-lhe nos ombros, a gola do sobretudo erguida até às orelhas pontiagudas, uns finíssimos fios de cabelo baloiçando na planície esbranquiçada da rua, nas entranhas das mãos um cigarro silencioso, finito, e a enganar a tosse, os prédios submersos nas nuvens cansadas da noite, o mestre João em passos milimétricos acompanhando o vai e vem das horas, a mão direita na algibeira, e num dos sapatos a biqueira de boca aberta, as calças amarrotadas pelos dias que não trabalha, aos poucos as palavras da noite anterior a dançarem na ardósia da memória, vamos colocar uma bomba na estação de comboios, este gajos são loucos, temos de forçar o governo a desistir e a fome é muita, na camisa um espaço em branco, a pele cinzenta da côdea de pão, meia dúzia de moedas fanadas no cofre da capela, e os santos sem fome, colocamos umas bombinhas e este cagarolas até se cagam, a direita é assim, quando começar a ver o rabo em ferida e a semear labaredas, ai que não mudam de politicas, mudam mudam,

- Desculpa o atraso, o transito está um caos,

Trouxeste tudo? Sim tudo, tenho aqui a caixinha, carregar no botão, carregar no botão e esperar, e PUM,

Era uma vez a estação de comboios, linhas e entrelinhas dispostas no encerado do pavimento, do rodapé janelinhas para a circulação de ratazanas, os inimigos dos governos, ao fundo uma sanita poeirenta, lavatório suspenso na parede encharcada de frases anti-direita, e no tecto,

- No tecto nuvens a desfazerem-se, produtos em fim de validade, metralhadoras embrulhadas em pijamas com listras, números junto ao peito, a enfermaria deserta, os medicamentos poisados no parapeito da janela, e em fila, alinhados por tamanho e cor, um revoltoso de arma em punho começa a disparar sorrisos e os comprimidos para emagrecer tombam, a gordura a escorrer pela fresta da porta, e PUM,

Como te chamas? Chamava-se…

Ai não que não mudam, e vão mudar tudo, o nomes das ruas terão de começar todos por P, privatizar todos os cagalhões de todas as fossas deste país, a chuva, que tem a chuva, a chuva vai ser privada, foda-se…, está fodido o agricultor pobre, o mar, também o mar? Tudo. Tudo privado.

- Até os nossos testículos vão ser privados,

E todos os rabos e peidas e toda a merda,

Viva este País!

- O transito está um caos e tinha medo que esta porcaria rebentasse…

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

17 de Junho de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:10

06
Jun 11

Enquanto descia as escadas sentia a minha sombra pregada na parede, a sala enorme, a distância entre mim e o tecto a aumentar, eu, eu diminuía conforme os silêncios da mesa, na toalha sentia a minha mão caminhar junto aos talheres, a faca, garfo, e dispenso a sopa, detesto, no copo poisava a cristalina água da companhia, uma merda, uma porcaria, para privatizar, privatizar as sombras e os musseques, para privatizar, privatizar todos os cagalhões das condutas subterrâneas, para privatizar, privatizar todos os pobres e sem abrigo, uma corrente entrelaçada nos pés e, e fogo, todos ao mar, e o problema resolvido, para privatizar, privatizar as escadas e todos os ascensores deste país, para privatizar, e a sombra que eu via pregada na parede enquanto descia as escadas já não minha, acabei de ser privatizado, e antes privatizado que lançado ao mar,

 

- Estás esquisito hoje não comeste nada

 

Estou com gases, e a partir de hoje vou deixar de comer.

 

- E depois?

 

Depois, depois fico como a burra do outro, do outro, sim, começou a reduzir-lhe à palha e cada dia que passava a palha sumia-se no estábulo, e um dia, um dia a burra vivia sem comer, foda-se,

 

- Que foi?

 

Agora que a burrinha não dava despesa é que morre. E também eu, aos poucos, vou conseguir viver sem comer,

 

- O outro maluco diz que vive do sol

 

Do sol, qual sol, quando dermos conta já nem sol temos; e até desconfio que Deus deixou de nos pertencer, para privatizar, privatize-se.

 

Publique-se no blog Cachimbo de Água o texto de ficção,

 

Alijó, 6 de Junho de 2011

O autor: Luís Fontinha

 

Sempre este filho da puta a foder-nos a cabeça…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:36

01
Jun 11

Se ganhar o euromilhões envio-lhe um e-mail com cem corações, e às quartas e sábados ela desce as escadas, abre a caixa do correio, e corações nenhuns, não desista, continue a tentar, tenha fé, e às quartas e sábados temos petingas com arroz de feijão, e no tecto teias de aranha a olharem as toalhas de plástico e flores estampadas que cheiram a peixe frito, é quarta,

 

- Paciência… ainda não foi desta

 

Sobe as escadas, poisa-se no patamar para tomar fôlego, a luz adormeceu desde que o condomínio deixou de pagar a conta, o ascensor engripado, e à medida que ela sobe as escadas, os degraus multiplicam-se, em cada dois degraus nasce um novo rebento, a gravidez dos degraus, o aumento acelerado da população de degraus, os da direita a culparem os degraus pelo seu nascimento, como se o problema do prédio fosse o número excessivo de degraus,

 

- E o problema do prédio os alicerces

 

Os corações baloiçam no estendal que do quintal olham silenciosamente o e-mail, e nos alicerces do prédio sanguessugas agarram-se ao betão, os degraus sem culpa de serem degraus, os degraus com fome, e um cão raivoso quer-lhe colocar uma marquinha nos bracinhos, e assim, às quartas e sábados saberemos quem são os degraus pobres e os degraus ricos,

 

- Os degraus pobres de cruzinha no bracinho

 

Se ganhar o euromilhões envio-lhe um e-mail com cem corações, e às quartas e sábados ela desce as escadas, abre a caixa do correio, e corações nenhuns, e os degraus esperam pacientemente por um simples prato de sopa, e tal como os corações, sopa nenhuma, e os cabrões dos fascistas enraivecidos humilham os degraus, como se os problemas do prédio fossem apenas míseros degraus…

 

- Paciência… ainda não foi desta.

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

1 de Junho de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:19

21
Mai 11

Só preciso das tuas mãos de algodão

E dos teus lábios húmidos da manhã

Não preciso de bens matérias

Não preciso de nada obrigado

 

Preciso que me deixem em paz

Sossegado

 

Não preciso de dinheiro

Para ter o que preciso

E preciso do mar

E não preciso de juízo…

 

Porque neste País à beira mar ancorado

É preciso não ser maluco

Neste País tudo doido

Começando por quem nos tem governado

 

E este País adormecido

Dependente do xanax

Submetido ao prozac…

Só preciso das tuas mãos de algodão

 

E dos teus lábios húmidos da manhã

Não preciso de nada obrigado

Obrigado senhores governantes

Por eu ser tão feliz

 

Por eu ser tão desgraçado…

 

 

Luís Fontinha

21 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:44

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