Sofro por ti meu amor
Sinto a tua mão no meu rosto cansado pela doença
Sinto no meu corpo
As marras do destino
Habito em ti
Sou pedaço do teu cansaço
Livro das tuas palavras
Algumas parvas
Algumas insignificantes
Sofro o derradeiro sofrimento
Que as marés do inferno me trazem
Não tenho medo da tua partida
Não tenho medo da tua ausência
Suicido-me nos teus lábios
Acabrunho-me nas imensuráveis paixões dos poços da morte
Estou só meu amor
Partiste sem me avisar
Naquela noite das sombras do esquecimento
Suicido-me no teu perfume
Caminho calçada abaixo
As rosas da melancolia
As raízes dos soníferos orgasmos da manhã
Fugidios corações de aço
No corpo debruçado sobre o parapeito do desejo
Estou cego meu amor
Os dias tristes da tua ausência
Ao longe os apitos da locomotiva do adeus
Nunca mais quis o amor
Nunca mais quis a infância desenhada em Luanda
Perder-me numa Alijó encurralada no esquecimento
O frio
O frio disfarçado de abismo
O amor regressado do mendigo palhaço do deserto
Saber que amanhã estou só
Eu
A noite
O amontoado de sucata
As árvores do teu sorriso
Estou só
Só
Só neste sargaço da sonolência do labirinto de asas
Pássaros enraivecidos
Limitados pela cabeça do sono
Tenho medo meu amor
Tenho medo da madrugada
E acreditar que estás vivo
Ao meu lado
Esticando o dedo…
Então engenheiro!
Não tenho palavras do suicídio fictício da minha vida
O Tejo peneirento algures nos teus lábios
Estou feliz hoje
Permaneço no esquadro envidraçado do teu olhar
Meu amor
Me encontro encurralado no esquecimento
Submersos esqueletos de gelatina
Ao espelho
O meu corpo envidraçado
Francisco Luís Fontinha
sábado, 2 de Abril de 2016