foto de: A&M ART and Photos
Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e
Nunca tive beijos para dar, que nunca tive beijos para oferecer, vender... que sou um imbecil desgovernado caminhando sobre os carris da solidão, não percebo, não entendo, como tu
Para que precisamos de beijos?
Tudo à minha volta estremece, a imagem do meu portátil enlouqueceu, treme... treme como varas verdes depois do vento entrar pela janela, treme como tu, quando ouves, ou ouvias, ou sei lá o quê
A minha voz?
A tua voz parece um esconderijo em papel, as vogais mal pronunciadas, as sílabas amedrontadas com os meus olhos escondem-se nas clandestinas palavras que um muro da cidade acolhe como quem acolhe o mendigo do rés-do-chão
Oiço-os
(Nunca tivemos sorte nenhuma)
Oiço-os balançar como esqueletos de vidro pendurados nas árvores com cavernas de granito e as vozes que se entranham nas algibeiras da ganga gasta e desgasta nas Primaveras em construção são-o e talvez não o pareçam
(Orgasmos sonolentos de velhos recheados com artroses e reumático)
Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e desconheces que em mim nada de bom existe, sou uma nuvem pintada com tinta acrílica negra, esponjoso o meu coro absorve todas as lágrimas dos jardins sem capitão, ao leme um vulto que todos apelidam de O Senhor Das Montanhas Do Sol Adormecido, e assim vamos correndo entre o aço paralelo, e assim vamos
Vivendo?
Diz-me tu, se isto é vida? Os veados encurralados nas ardósias da tarde, começam a voar e daqui a nada estão novamente junto dos alegres dias com chuva e uma lareira na sala de estar a derreter livros, palavras e afins...
Vivendo, como?
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Diz-me tu porque tombaram os versos das crateras de centeio nos campos de Carvalhais? E oiço-os como se eles estivem à minha frente
Quem são eles?
Voilá... POP DEL ARTE... e voláteis pasteis de Belém nas catacumbas da solidão adormecem como cadáveres de silicone,
(o rabo, as mamas, a cabeça... a massa encefálica... tudo é em silicone... e coitadas)
Dançam como ventoinhas na pinta de dança, as meninas não pagam...
Mas... Também não bebem,
Voilá... Le POP DEL ARTE, e La Maisom quiçá, também ela em
Silicone?
Não aguento mais estes carris em aço, sempre paralelos, sempre abraçados, sempre...
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos... O CIRCO TERMINOU...
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013