O peso do meu corpo evapora-se por entre o fumo do meu cigarro, sinto-me aos poucos levitar por entre as águas de um velho com lágrimas, e no seu rosto poisa a minha mão, peço-lhe ajuda, e na calçada a minha sombra percorrendo as tasquinhas pedindo esmola, eu descalço, eu sem roupa vagueando junto ao Tejo, chamam-me do rio que desaparece ao fundo da calçada, na esquina o meu corpo transformado em vapor, suores numa madrugada de Agosto, o frio entra-me nos ossos e adormece os meus olhos, e perco a noção de beleza.
Odeio as flores.
Odeio o mar.
Odeio o rio que aos poucos me viu nascer e ainda hoje espera por mim junto à calçada.
Odeio as gaivotas e os livros e odeio a poesia e a literatura.
O peso do meu corpo evapora-se por entre o fumo do meu cigarro, sinto-me aos poucos levitar na mão de um mendigo, percorro as tasquinhas pedindo esmola, e da ajuda apenas me vem à lembrança os paralelos da calçada e um candeeiro na esquina junto ao museu dos coches.
Odeio as flores.
(texto de ficção)
FLRF
7 de Abril de 2011
Alijó