Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Jan 15

(Desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Oiço Oumara Moctar Bambino,

o sémen invisível do sono alicerça-se aos lençóis de porcelana,

habito um terceiro andar reumático,

romântico,

loucamente apaixonado,

brinco com os círculos do desejo,

tenho um sonho,

acordo e sinto-me um palhaço de vidro,

sem beijos,

sem... sem abrigo

Oiço Oumara Moctar Bambino,

e uma jangada de insónia poisa no meu ventre...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 3 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:03

29
Mai 14

Dizem-me que o teu corpo era de porcelana,

um amontoado de cacos, pedaços sem coração,

procuro..., procuro, procuro...

não os encontro na cama,

não os encontro nos telhados de zinco da sanzala envenenada,

e no entanto,

amo-os,

amo-os como se fossem uma jarra com dois braços de Luar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 29 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:51

19
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Os últimos cacos de ti desaparecem nas amoreiras virgens dos telhados de colmo

a dor inseminada que sentiam as tuas dúcteis veias habitam hoje nas janelas de mármore

e durante a noite

a mão solitária da insónia rouba o mar que se ouvia das janelas de mármore...

sinto-te neste momento em finas placas de poeira

inventas o vento para que os teus despojos sejam selvaticamente levados para a montanha

uma ribeira alegremente chora

e no teu rosto de cacos

as pequenas lágrimas de cianeto que invadem o teu doce sofrimento

hei-de ser uma lareira acesa na tua mão de porcelana

um livro em forma de chocolate...

hei-de ser um dos últimos cacos de ti.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 19 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:08

14
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Perdi-me como Sábados desperdiçados dentro de uma semana confundindo-se com o pôr-do-sol, perdi-me enquanto ouvia mendigos disfarçados de livros, à porta dos bares abrigos com arrais de aço e pequenas correntes de suor, bebia-se vodka até que descia o enjoo marinheiro quando em alto mar alguém avisava que o melhor para combater o enjoo marítimo era bacalhau cru, de preferência salgado, nunca o experimentei, porque nunca enjoei durante os treze dias de viagem, talvez porque as crianças não enjoassem, talvez porque da cidade de onde eu vinha, tinham-me habituado aos solavancos das calçadas húmidas depois da chuva, vinha o sol, acordavam as ervas mais sonolentas, e ainda de boca semiaberta, amarguravam sílabas de solidão, como às abelhas quando se lhes pedia

Escreve um poema,

As pobres das abelhas não escrevem, e que eu saiba, são felizes, o meu cão não escreve, e é feliz, eu não sou marinheiro, e sou feliz, ando de porto em porto, percorro os oceanos mais distantes do dicionário das palavras difíceis de pronunciar, engasgo-me com a saliva que os amanheceres violentos provocam em mim, e em ti, que vives dentro de mim, pareces com febre, as teclas estão quentes, pergunto-me se conseguirás sobreviver até ao final da noite, de todas as noites, até que regressa o Natal, e depois

Escreve-me um poema,

E depois eu cá em parvalhão escrevia, estás tão quente, hoje, sinto-te nas minhas mãos, palpitas como sobejantes morcegos de porcelana

(fico extremamente irritado quando estou a escrever e o parvalhão do telemóvel sempre a vomitar sons vibratórios, como um reles vibrador adquirido numa loja do Chinês, provocando orgasmos aleatórios na secretária – De madeira? - , sim, sim meu querido, de madeira...)

E partindo-se a porcelana, resta nada, luzes tristemente sós, fingindo melódicos anseios nos fins de tarde, ouviam-se-lhes os gemidos em grãos de areia, e um colchão de palha roçava-se nele,

(fico extremamente irritado quando estou a escrever e o parvalhão do telemóvel sempre a vomitar sons vibratórios, como um reles vibrador adquirido numa loja do Chinês, provocando orgasmos aleatórios na secretária – De madeira? - , sim, sim meu querido, de madeira...)

E também de mim, nova vibração, novo orgasmo, chegada de SMS, e a coitada da secretária – De madeira? - sim, sim, sim meu querido, de madeira, como as searas depois de mortas, como as cidades depois de incendiadas pelo ofegante arremesso de objectos contra natura, odiava as camisolas de gola altas e as calças à boca de sino, mal conseguia segurar-me sobre os sapatos de três andares, mais parecendo a quilha de um veleiro, e agora imagino o coitado do João, de saia, camisola de gola alta e sapatos a condizer, mexe-se como uma andorinha de plumas entre os dedos, pinta docemente os lábios com bâton ruge e quando acorda o dia, vejo-a deitada num qualquer banco de jardim, desesperada, à espera do autocarro, e Auroras Boreais

(fico extremamente irritado quando estou a escrever e o parvalhão do telemóvel sempre a vomitar sons vibratórios, como um reles vibrador adquirido numa loja do Chinês, provocando orgasmos aleatórios na secretária – De madeira? - , sim, sim meu querido, de madeira...)

Escreve-me um poema, e Auroras Boreais poisam como insignificantes poéticos desejos sobre o teu peito onde vive um coração de chocolate.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:07

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