Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Fev 12

Oito anos meu deus, dois mil novecentos e vinte dias de vida em comum, dia e noite, quantas lágrimas derramei nas suas mãos, e quantos suspiros, meu deus, oito anos, e quando eu precisava ele ouvia-me, e quando ele vinha com as suas birrinhas, eu, eu pacientemente escutava-o e acariciava-o como se fosse uma criança, e guardava todos os meus segredos,

E hoje e hoje descubro que ele é um impostor e um falsário e que não passa de um mentiroso, mentiroso como tantos outros,

E se algum dia descobrirem que o vosso portátil de marca comprado numa loja de marca, oito anos meu deus, oito anos de vida em comum, e se algum dia descobrirem que afinal o software do vosso portátil de marca é falsificado, não estranhem, porque o Windows XP ao fim de oito anos, oito anos meu deus, ao fim de oito anos diz-me que é falso,

Apetece-me gritar…

- Viva o LINUX,

“E se um desconhecido de repente lhe oferecer flores isso é… “, meu deus, oito anos, dois mil novecentos e vinte dias de vida em comum, “isso é VIGARICE”,

Falsário e mentiroso, mentiroso como tantos outros…

 

(texto inspirado numa amiga)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:59

24
Mar 11

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, espera, espera e abre-se a porta, cabelos loiros, olhos azuis como quando o céu límpido de uma manhã de primavera acaba de acordar, mãos meigas e macias, ele frente a frente com um corpo esculpido na madrugada, pede licença, entra, dirige-se à janela, abre a janela, e, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

- made in china,

O meu portátil Toshiba Portégé M800 com quatro GB de memória RAM acaba de se suicidar, e nada que me surpreenda, há muito que eu notava nele fragilidades de cansaço, e às vezes parecia-me distante, ausente, e na noite ouvia-o,

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

A vizinha aos gritos, e da janela do 8º D apenas conseguia distinguir,

- made in china,

E os malmequeres suspensos na faixa de rodagem, ora inclinados para a direita, ora inclinados para a esquerda, ora tombados no chão, e eles não mede in china, eles,

- eles filhos de um deus arrogante, malcriado,

Eles à espera do acordar do sol, e o sol escondido nas nuvens, eles tombados na faixa de rodagem a olharem o made in china que em pedacinhos esperava pacientemente a vinda da policia, delegado de saúde, ministério publico, e causa de more,

- queda do 8º andar direito, suicídio ou homicídio, ou simplesmente o desespero, interrogar a vizinha, e a vizinha,

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, oferece um ramo de flores à madame, e a madame em suspiros de desejo,

- bateram-me à porta e quando abro, abro e deparo-me com um portátil que me oferece um ramo de flores, abraça-me, beija-me, começa a despir-me e quando dou conta está a encabar-me por trás, e,

E violou-a?

- Não. Eu também queria e foi bom…

E depois,

- e depois foi à janela, abriu a janela, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

Made in china…

E foi bom.

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

 

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:28

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