Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Mar 19

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publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:42

26
Fev 15

A1_001.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

O dia suicida-se junto aos cedros

poisa na minha mão as suas lágrimas de chocolate

acende um cigarro

esconde os lábios na sonolência da cidade de prata

e parte

sem deixar saudade...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:33

11
Fev 15

Desenho_A1_16.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Hoje há festa

nas paredes da minha biblioteca oiço baixinho os sorrisos invisíveis da alegria

pela primeira vez ouvi o metro do Porto como se fosse uma orquestra

... imaginava-o uma lagarta

feia

triste...

e hoje

tão belo

e hoje

tinha poesia

e canções

e... e alegria.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:33

16
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície passava em frente aos teus olhos cerrados, perdi-lhe a conta, desisti de contar, mudei repentinamente para os automóveis sonolentos que enteavam no parque de estacionamento, eram tantos, meu Deus, tantos, tantos que... voltei a desistir,

Percebi o significado do medo, aprendi a esperar pelas palavras do invisível, e confesso que não rezei, confesso que mentalmente colocava a hipótese de te perder, e ainda não tenho a certeza se te vou perder, enquanto dormias, enquanto eu olhava os teus sonhos impregnados no cortinado de fumo, eu, eu sabia que tu me esperavas quando acordasses, acordaste,

Então, chegaram bem?

Não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro,

Então, chegaram bem?

Muita neve, chuva, vento, e perdemos-nos na tua sonolência de cadáver inventado por um louco, perguntava-te se estavas bem, e respondias-me

Então, chegaram bem?

Que sim, que tudo não passava de um sonho, que tudo nunca tinha existido, que tudo

Então, chegaram bem?

Que tudo acorda quando os silêncios dos teus lábios me diziam

Estou mal, tenho dores, não consigo adormecer,

Me diziam, me obrigavam a acreditar nas palavras escritas na tua cama, oitocentos e trinta e cinco, para os matemáticos um belíssimo número, mas

Então, chegaram bem?

Mas para um poeta esse número significava uma perda, uma ausência de ti para comigo, imagino-te subir as escadas do sótão da saudade, imagino-te a pegar na minha mão e ir-mos ver os barcos ao porto de Luanda...

Então, chegaram bem?

(não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro...)

E víamos os paquetes abraçados aos longínquos marinheiros com fardas de embriagados esqueletos procurando sexo, álcool... e drogas,

Os coqueiros, os treinos de Hóquei em patins, e sempre, e sempre a tua mão entrelaçada na minha mão de criança, da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície,

Então, chegaram bem?

E olhavas-nos, e sei que choravas...





(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha- Alijó

Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:44

11
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino

Ao deitar?

Quatro drageias, três árvores em desejo misturado em cinco quintos de sonho, uma

Merda?

Ao deitar?

As fotografias em constante transbordo, a locomotiva da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra, a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela, cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...

Ao deitar?

Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

O que será de nós?

E ao deitar,

Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo, abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e

Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à eira em Carvalhais, irrita-me

Ao deitar?

O metro de superfície correndo como um louco, e dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas, finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,

Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras, a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil – cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas paredes coloridas da cela, a porta abre-se...

E?

O que será de nós?

E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto aos carris...

(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

o que será de nós?)

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de infância,

Não sei, não... sei... não sei se ele conseguirá...!

Talvez,

Ao deitar?

Talvez... talvez ao deitar.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:45

20
Dez 13

Não sabia a ninguém

não tinha palavras para gritar contra o muro da tristeza

tinha na boca uma sonâmbula ausência de esperança

não tinha cigarros

apetecia-me tanto fumar cigarros

e lá fora

sentia o burburinho das folhas molhadas

o cansaço das árvores que deixavam sobre o passeio empedrado... pequenos braços

em abraços

a janela tremia como se o frio nocturno de Trás-os-Montes acordasse nesta rua enlouquecida da cidade do Porto

eu tremia e todos tremíamos...

e irritava-me o caudal constante da corrida do metro em frente à janela do Inferno...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Dezembro de 2013

 

(provavelmente este será o último poema/texto de 2013... ou não)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:55

01
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O comboio sonolento deserta e foge dos carris lençóis de água que embrulham as mãos das locomotivas embriagadas, algumas tombadas como crianças depois de descer a tempestade sobre os telhados de vidro que cobrem os cobertores da inocência,

Farto-me de mim, farto-me deles, delas, farto-me das palavras e dos pequenos grandes voos de areia sobre as árvores invisíveis,

Farto-me do silêncio disfarçado de sofrimento, farto-me deste (sofrimento) quando se veste de insónia e rompe noite adentro, deita-se sobre mim, como se eu fosse um corpo prostituto, camuflado, como se eu fosse uma personagem sem nome, idade desconhecida, uma personagem sofrida, comestível, comiam-me se eu deixasse..., e os palhaços de porcelana sombreados na janela das estações com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen,

O comestível comboio com rodas de algodão...

Nascia o poema, o amor, a paixão, nascia o corpo, o teu corpo vagão carruagem correndo léguas de searas com espantalhos vestidos de palheiro solitário, choravas, choravam, gritavam, gritavas, gemias, gemiam... e acabavam sempre por regressar ao Tejo, rio acima, comíamos a ponte de aço, fumávamos os cigarros com sabor a dunas de areia esbranquiçada, alimentávamos-nos de suor e carícias desenhadas pelas mãos calejadas dos homens e das mulheres filhas e filhos, dos socalcos, olhando, brincando, sei lá... o rio que só termina na cidade com pronúncia do norte,

O comestível comboio com rodas de algodão..., e silêncios de medo,

E

Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e

Lágrimas?

E os barcos, sim, também sou os barcos, de papel, de esferovite... os barcos em madeira, eu, levantar-te-ás... olharás os meus olhos

E

(não te conheço)

E lágrimas, e nada, e escuridão dentro das algibeiras dos anzóis comestíveis... e eu? Eu, eu e lágrimas, e tréguas, de silêncios, de medos, de janelas encerradas e de esplanadas como vodka derramada sobre o teu corpo de amêndoa,

Amar-me-ás?

(não te conheço)

Não,

Não sei se...

E

Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e

Lágrimas?

Navegáveis mãos as milhas nos teus seios de madrugada, cabelos embebidos no vento da paixão, zangado, eu? Navegáveis mãos, preciosos palheiros guardando as sementes do teu púbis que o triste pôr-do-sol inventa nas tuas coxas, e

Quem és, tu, mulher de tecido marinho?

E

(não te conheço)

Amar-me-ás? Nunca o saberei..., (como se eu fosse uma personagem sem nome, idade desconhecida, uma personagem sofrida, comestível, comiam-me se eu deixasse..., e os palhaços de porcelana sombreados na janela das estações com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen),

E apenas sou um barco, e apenas sou um rio... um rio sem nome, idade... com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen, Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e

Lágrimas?

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:27

14
Jul 11

Tire as patas de cima do banco,

Enfunilado o revisor a atirar palavras disfarçadas de pedras aos meus ouvidos,

E eu expliquei-lhe que não tenho patas e tão pouco estacionadas no banco da frente, ele continuou viagem carruagem adentro, pica aqui, pica ali, e o barulho do alicate perdia-se na penumbra dos candeeiros seminus do teto, a luz trémula parecendo intrica, e aqui e ali e do outro lado também, o farol dos cigarros acesos na noite,

- E enquanto a minha cabeça cambaleava na sombra eu pensava, E hoje ainda não houve pancadaria!, que estranho continuava eu,

Que estranho as casas as árvores os jardins os pássaros os carros, a correrem diante dos meus olhos, e o  meu corpo estacionado num banco de napa cinzenta suja e semeada de restos de migalhas,

- Eu estou parado e as casas em movimento lamentava-se o meu companheiro de viagem, e tive de lhe explicar que não, repara digo-lhe eu, o movimento depende apenas do observador, E esperas que eu acredite nisso se eu estou a ver as casas em movimento?,

À nossa frente um casal de velhinhos e uma cesta de vime e um garrafão de vinho e boa vontade, convida-nos e eu respondo que não, e quando dou conta vejo o João atracado ao presunto e em voz alta, Este vinho é bom amigo!,

E devia ser porque ele chiava nas curvas, começava a inclinar o corpo…, e chão, o velhinho ajudava-o a erguer e logo em seguida agarrado ao presunto e ao tinto, e eu achava aquilo tudo um circo ambulante,

- Duas ou três roulotes, muita fome, uma trapezista magricelas, um cão e o cheiro intenso a sopa de feijão, o mágico que engolia argolas e vomitava baralhos de cartas, e meia dúzia de sombras a deitarem restos de moedas para um boné,

Amigo venha aqui enfiar uma buchinha!, chamava-me o senhor de idade, Esse gajo é esquisito, respondia-lhe o meu companheiro de viagem, e o boné a crescer de moedas pretas e sujas, deve dar para o almoço pensava o mágico, talvez dê para batom grunhia a trapezista, talvez chegue para mim sussurrava o cão empalitado junto ao candeeiro do jardim, não obrigado não tenho fome!, desabafo com o senhor de idade,

- O cão cuspia lume,

Deixe estar não me apetece comer, E o senhor é que sabe olhe que é de boa vontade, gente de Trás-os-Montes muito boa, segredava-me a trapezista depois do grandioso espetáculo de fome, e deixei de ver o João, e deixei de ver os velhinhos, e deixei de ver as casa em movimento, e deixei de ver o circo ambulante,

Encosto-me à janela, fecho os olhos, e quando acordo começo a ver os pilares da estrutura da gare de Santa Apolónia a entrarem pela janela, assusto-me, dou um saltinho e caio para o chão, e percebi que tinha chegado a Lisboa.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:14

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