O que dizer
O que fazer
(quando a noite deixa de ser noite)
Morrer
Quer dizer
Não saber
Viver
O que dizer
O que fazer
Enquanto o país está a arder…
O que dizer
O que fazer
(quando a noite deixa de ser noite)
Morrer
Quer dizer
Não saber
Viver
O que dizer
O que fazer
Enquanto o país está a arder…
Procuro trabalho em qualquer área, zona do país ou estrangeiro.
Dados Pessoais:
- Estado Civil: Solteiro;
- Nacionalidade: Portuguesa;
- Idade: 45 anos;
- Naturalidade: Luanda/Angola;
- Carta de Condução;
Formação:
1989/1990 – Técnico de Desenho de Construção Civil; CICOPN
Curso de Formação Profissional
Habilitações Literárias:
- 12º Ano de Escolaridade, 1º curso via de ensino;
- Frequência Universitária (Engenharia Mecânica);
- Acção de Formação Teórico-Prático ao Método dos Elementos Finitos;
- Curso de Iniciação ao Matlab;
Experiência Profissional:
- 1990- 2000 – Desenhador de Construção Civil (AutoCad):
- 2001-2004 – Empregado de Escritório (António Luís Magalhães & Sobrinhos, LDA);
- 2004-2010 – Desenhador de Construção Civil;
Experiência Profissional Adicional:
- Conhecimentos de Cálculo de Estruturas (Programa Cype);
- Conhecimentos do Programa de Elementos Finitos (Ansys);
- Conhecimentos de Fortran;
- Experiência em hardware;
e-mail: fontinha_francisco@sapo.pt
Chamava ao silêncio noite, e à noite desassossego, apelidava o dia de tristeza, e quando acordava, antes de abrir os olhinhos, cruzava os braços sobre o peito, sacudia as pernas das migalhas do sono, e gritava,
- Estou vivo,
E tem dias que lhe apetece dizer Porra, hoje estou morto!, e alguém descobre que é o contrário de estar vivo, que ele pensa que não, e eu, o autor deste texto, igualmente que não, estar morto não é o contrário de estar vivo,
- Porra, hoje estou morto!,
E pode ter a certeza que já vi com estes olhos que um dia a terra vai comer mortos com aspeto de vivos e vivos, ai senhor, vivos que mais pareciam mortos,
Mas deixamos os mortos e os vivos e vamos às coxas do mar quando ao fim da tarde os barcos preparados para aportar, e as coxas silenciam-se como alicates a torcerem os ponteiros do relógio, ele de mangas arregaçadas e cachimbo na boca e em sinais de fumo, e do outro lado do rio, a prostituta marreca que via o dia chegar ao fim com meia dúzia de moedas na bolsinha, e feitas as contas nem dá para comer, ao preço que o peixe é pago na lota, queixava-se o Ernesto enquanto esperava pelas autorizações necessárias para a respetiva ancoragem e descarga,
- Porra, hoje estou morto!, e o António em resposta ao Ernesto É como no Douro, qualquer dia temos de dar as uvas de borla,
E vamos à tasca e pagamos bem caro o vinho, e vamos ao restaurante e pagamos bem caro o peixe, a prostituta marreca a revindicar enquanto aguardava pelo sinal de Stop da pensão e autorização para subir até às águas-furtadas subsidiadas pela EU,
- E o que faz falta neste País (Portugal) são mabecos para morderem os tornozelos às sombras que vagueiam pelas esquinas e avenidas e coxas de mar e a puta que os pariu, e juro, senhor, juro que estive para perguntar à prostituta marreca a razão de estar tão zangada e querer mabecos, veja senhor, mabecos a pingar tornozelos, mas sabe, não tive coragem,
Chamava ao silêncio noite, e à noite desassossego, apelidava o dia de tristeza, e quando acordava, antes de abrir os olhinhos, cruzava os braços sobre o peito, sacudia as pernas das migalhas do sono, e gritava,
E uma outra voz nessa manhã gritou; Morreu o tio Ernesto…
Sabes, meu amor, não existe manhã,
As flores são feias,
E a noite não tem encantos,
E não adianta escrever que te amo…
Se eu nem consigo alcançar o Pinhão,
Quanto mais, meu amor, chegar à lua onde habitas,
Três longos dias de viagem,
O pesado capacete na cabeça,
O fato que me faz comichão e alergias…
E depois os enjoos,
E a falta de cigarros,
Sabes, meu amor, também não existem pássaros,
O Tejo é mentira,
E Belém,
Ai Belém, meu amor, Belém morreu dentro de mim,
E olha-me de uma lápide disfarçada de cacilheiro,
Mas retomando à viagem até ti, meu amor,
A lua, meu amor, a lua onde habitas é linda,
E à noite peço-lhe que desça,
Devagarinho, e me entre pela janela,
Que te dispas e te deites sobre mim,
Sim meu amor, esquecemos o fato e o capacete,
E os enjoos, sim e os enjoos,
E te abraces ao meu corpo de terra húmida de Luanda,
Sabes, meu amor, sei que estou vivo,
Sei que estou vivo quando oiço a tua voz amarrotada na noite,
- Francisco, OLÁ!,
E olho o céu e não encontro a lua,
É tudo mentira, meu amor,
O céu é mentira,
O sol, meu mar, é mentira,
E sabes, meu amor, durante a noite a tua mão visita-me,
E nos teus lábios sinto a espuma do mar,
O orvalho misturado no cacimbo,
E meu amor, é tudo tão estranho,
Sabes, meu amor,
Muitas vezes não sei se estou em Portugal ou em Angola,
E depois sei onde estou,
Abro a mão nos silêncios do teu cabelo
E meu amor, nenhum papagaio de papel para eu brincar…
Tentei de tudo
E não consigo
Descalcei-me no rio
E galguei socalcos
Subi montanhas
Desci ao inferno
Escondi-me nas sombras
E aterrei no xisto em migalhas
Tentei de tudo
Fiz peito ao vento
Atirei pedras às estrelas
E nas nuvens adormeci
Tentei de tudo
Mas o meu corpo de barco enferrujado
Teima em ancorar-se na esquina da rua
À espera que uma alma bondosa de sucateiro
O venha desmantelar…
Tentei de tudo
Senhores vejam só
Até rastejar pelo chão fui capaz
E afinal não adianta tentar
Não vale a pena lutar
Tentei de tudo
E para quê?
Escreves bem, dizem alguns…
És inteligente, dizem outras...
Aos primeiros que metam a escrita cu acima
E às segundas que introduzam a inteligência na vagina
Se não és filho de pai rico
Se não lambes botas
Ou se não tens cartão do PS ou PSD
Estás completamente fodido…
E acredita
A cultura é uma merda que não serve para nada
O homem quer-se inculto
A cuspir no chão e a dizer palavrão…
Procuro trabalho em qualquer área, zona do país (Portugal) ou estrangeiro.
Francisco Luís Rodrigues Fontinha
Dados Pessoais:
- Estado Civil: Solteiro;
- Nacionalidade: Portuguesa;
- Idade: 45 anos;
- Naturalidade: Luanda/Angola;
- Carta de Condução;
Formação:
1989/1990 – Técnico de Desenho de Construção Civil; CICOPN
Curso de Formação Profissional
Habilitações Literárias:
- 12º Ano de Escolaridade, 1º curso via de ensino;
- Frequência Universitária (Engenharia Mecânica);
- Acção de Formação Teórico-Prático ao Método dos Elementos Finitos;
- Curso de Iniciação ao Matlab;
Experiência Profissional:
- 1990- 2000 – Desenhador de Construção Civil (AutoCad):
- 2001-2004 – Empregado de Escritório (António Luís Magalhães & Sobrinhos, LDA);
- 2004-2010 – Desenhador de Construção Civil;
Experiência Profissional Adicional:
- Conhecimentos de Cálculo de Estruturas (Programa Cype);
- Conhecimentos do Programa de Elementos Finitos (Ansys);
- Conhecimentos de Fortran;
- Experiência em hardware;
e-mail: fontinha_francisco@sapo.pt
93 585 88 70
Que faz o meu corpo neste Portugal? Que faz o meu corpo neste Portugal que desistiu de mim, que prendeu os meus sonhos, que faz o meu corpo neste País, o mesmo País onde eu não sirvo para nada…
Pois eu aqui não fico. Não vou ficar e desejo nunca mais regressar.
Vou embora com a certeza que nunca devia ter vindo para Portugal. Nunca.
E eu não tive culpa, trouxeram-me com seis anos, assisti à queda da ditadura e ao nascimento da liberdade, e que desilusão, o Portugal de hoje não faz sentido, e aqui, aqui recuso-me a ficar.
Decididamente vou embora, vou embora com a certeza de nunca mais regressar; nunca.
Luís Fontinha
10 de Junho de 2011
Alijó
Sou prisioneiro da miséria
Engomado pelas nuvens em revolta
Sou mendigo revoltado
Nas montras de café à minha volta,
Sou presente envenenado
E distribuído pela manhã às árvores vagabundas
Milhares de pássaros suspensos nos meus olhos
Nas minhas mãos sujas nas minhas mãos imundas,
Quem quer um desempregado
Quem quer um monstro escondido numa folha de papel…
Quem quer palavras comer
Palavras cansadas palavras amarradas por um cordel
À minha espera no portão de Luanda,
Quem me quer quem me quer
Folha de plátano nos meus lábios sedados
E envenenados por sílabas de aluguer,
Canso-me nas ruas da cidade
Farto-me da prisão Portugal
Sou prisioneiro da miséria…
Sou homem ou sou animal?
Luís Fontinha
29 de Maio de 2011
Alijó
Só preciso das tuas mãos de algodão
E dos teus lábios húmidos da manhã
Não preciso de bens matérias
Não preciso de nada obrigado
Preciso que me deixem em paz
Sossegado
Não preciso de dinheiro
Para ter o que preciso
E preciso do mar
E não preciso de juízo…
Porque neste País à beira mar ancorado
É preciso não ser maluco
Neste País tudo doido
Começando por quem nos tem governado
E este País adormecido
Dependente do xanax
Submetido ao prozac…
Só preciso das tuas mãos de algodão
E dos teus lábios húmidos da manhã
Não preciso de nada obrigado
Obrigado senhores governantes
Por eu ser tão feliz
Por eu ser tão desgraçado…
Luís Fontinha
21 de Maio de 2011
Alijó
Eu feliz não porque tenha ganho o Euromilhões, eu feliz não porque tenha encontrado trabalho, eu feliz não porque tenha deixado de viver miseravelmente, eu feliz porque o meu blog Cachimbo de Água (Angola) é reconhecido pelo Sapo Angola.
E tenho orgulho quando eles falam do meu blog como “um blog onde vivem palavras-poema. A descobrir”.
Eu feliz por que sou Angolano, apesar de ter no B.I. nacionalidade Portuguesa. Eu feliz porque nasci em Luanda, e eu feliz porque apenas três coisas me prendem a Portugal; o meu pai, a minha mãe e a menina que espetava pregos nas oliveiras.
Se sinto mágoa por o meu blog não ser reconhecido em Portugal? Estou a cagar-me…, e como diz o Doutor Catroga, são apenas pentelhos…
Luís Fontinha
13 de Maio de 2011
Alijó