Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Jan 13

Desenhei a árvore que me pediste, e juro que não esperava de ti as palavras amargas, depois de analisares o meu desenho, em frente a todos os presente e para quem quis ouvir

Estás apaixonado, muito confuso, e é tudo? Tanto trabalho a desenhar uma árvore e é tudo o que tens para me dizer? Em frente a todos os presentes

Faltam-te as folhas,

Verdes, a Primavera, em círculos na folha de papel que me entregaste para o maldito exercício, desenhei-a, e tu, e você,

Apaixonado

Em frente a todos os presentes, lá fora as pálpebras laminadas de aço rompiam a madrugada acabada de acordar, vestias-te

Vestia-me levemente sobre o soalho amordaçado do quarto mais parecendo um presídio do que um verdadeiro quarto, e eu perguntava-te Tens a certeza que esta espelunca é um quarto

Sim claro

Apaixonado,

E eu acreditava que dormia num quatro, onde vivia uma cama, onde viviam duas mesas-de-cabeceira, onde viviam dois tapetes, e uma cadeira, e eu acreditava que dormias sobre mim sabendo que no teu peito tinhas a minha árvore, deixei de gostar de

Psicólogos,

Apaixonado

De psiquiatras mais parecendo aviões a jacto poisados na pista do corredor de uma enfermaria, do lado esquerdo

Portas,

Do lado direito

Portas,

Ao fundo bem lá no fim da pista as afamadas casas de banho, não esquecendo os hangares e a parte reservada às oficinas, em cima

Portas e janelas,

Psicólogos

Do lado direito,

Tu

Árvores sem folhas, papel de parede encharcado em melancia e crucifixos prateados, que mais tarde

Vendi na feira da ladra,

Que mais tarde vestia-me levemente sobre o soalho amordaçado do quarto mais parecendo um presídio do que um verdadeiro quarto, e eu perguntava-te Tens a certeza que esta espelunca é um quarto

Sim claro

Apaixonado, chegava lá, estendia no chão paralelepípedo frio da manhã as faces ocultas das chapas zincadas da banca que servia de venda, sobre ela, um tecido encarnado com bolinhas brancas e de onde a onde furos para a refrigeração do mecanismo que tinha como única finalidade a venda de

Crucifixos prateados e papel de parede encharcado em melancia, e tu

Portas,

Do lado direito

Portas,

Ao fundo bem lá no fim da pista as afamadas casas de banho, não esquecendo os hangares e a parte reservada às oficinas, em cima

Portas e janelas,

Psicólogos

Do lado direito,

Tu

De psiquiatras percebo eu, suspendia-me no tecto de de cabeça para baixo caminhava incessantemente, dia e noite, e nunca me cansava, só, só quando me ordenavam para descer e me davam as drageias azuis, eu, tu

Adormecias com uma árvore desenhada numa folha de papel junto ao teu peito, e imaginavas ter deixado o mar do outro lado do jardim, ouviam-se as grades forjadas quando o vento as acariciava e o som da paixão aparecia junto ao cortinado, e eu, tu

Faltam-te as folhas,

Verdes, a Primavera, em círculos na folha de papel que me entregaste para o maldito exercício, desenhei-a, e tu, e você,

Apaixonado.

 

(texto de ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:50

Agosto 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
12
13
14
15

16
17
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO