Quem sou eu? Quem sou eu, pergunto-me e pergunto aos pássaros, pergunto-me e pergunto às sombras, pego na minha mão e pergunto-lhe,
- olha, quem sou eu?
E ninguém, ninguém, e ninguém consegue dizer-me quem sou eu, o que faço aqui, sim aqui, aqui onde, aqui neste sitio escuro, longe do sol, aqui onde ninguém, ninguém nem eu, sabemos quem sou eu.
- Olha, quem sou eu?
Quem sou eu? Quem sou eu, pergunto-me e pergunto às estrelas, e as estrelas remetem-me para os perdidos e achados, porta lado esquerdo fundo do corredor, passo apressadamente o corredor, eu em frente à porta, a porta olha-me, e a minha mão esconde-se atrás das costas, e percebo que com a mão escondida, com a mão escondida não posso bater à porta, e a porta faz-me caretas, arreganha-me os dentes e eu,
- eu, quem sou eu,
E pergunto-me e pergunto às gaivotas junto ao rio, quem sou eu, eu que ficou esquecido na noite, eu que sente a falta de um simples abraço, um apenas, e a sombra não, a sombra a recusar-se abraçar-me, e pergunto-me e pergunto à porta,
. sabes tu quem sou eu?
A porta não aberta, a porta fechada, e eu, eu pergunto-me e pergunto quem sou eu…
E ninguém, ninguém, e ninguém se preocupa em me explicar quem sou eu.
- Olha, quem sou eu?
E os pássaros não eu, e as sombras não eu, e a minha mão não eu, e eu, e eu em frente a uma porta antipática, malcriada e feia, a porta fechada, e a porta não eu.
- Olha, quem sou eu?
(texto de ficção)
Luís Fontinha
26 de Março de 2011
Alijó