Milagre, e só poderá ser milagre,
Hoje, ao fim de onze anos ouvi pela primeira vez o meu cão falar, e enquanto brincava com ele e na euforia de cócegas e lambidos ouvi-lhe um finíssimo “NÃO”, fiz várias tentativas mas ficou-se por ali, que ele tinha aprendido a fazer pequenas adições e subtrações já eu sabia, agora que falava, nunca imaginei,
Aprendeu a adicionar pedacinhos de carne ao estômago e a subtrair passarinhos que por vezes com deficiências no motor acabam por aterrar de emergência no quintal, e ele, com os únicos três dentinhos que lhe restam da velhice estrafega-os como se fossem pétalas de rosa, chamo-o e escrevo-lhe no lombo o derradeiro sermão como o outro aos peixes, Rex, isso não se faz!, encolhe os ombros e deita-se junto aos meus tornozelos,
Não me obedece,
E talvez amanhã consiga sacar-lhe mais algumas palavras. Talvez amanhã, quem sabe!