Subiam a montanha em direcção ao sítio onde viviam as nuvens de prata, rastejavam dentro do silêncio com a ajuda de uma mão envelhecida, moribunda, recheada com algerozes e janelas com cortinados de papel, subiam, docemente, subiam a montanha conhecida como a velha montanha dos sonhos impossíveis de realizar, percebia-se no ar pesado a respiração dos cadáveres adormecidos pelos versos do poeta marreco, louco, porco, que habitava numa cabana junto a uma ribeira com braços de luz e pernas de vidro, à lareira, sentindo as imagens furiosas das pessoas enlatadas que deambulavam nas esquinas do orvalho, estava frio, muito, e os cães vadios procuravam em pequenos cardumes de prata as coisas boas da vida, tínhamos medo, não dormíamos porque das árvores, às vezes, desciam esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas nos olhos, e na boca
Pequenos segredos de saliva com finos olhares que as ardósia escreviam nas planícies da insónia, não, não sabíamos que a montanha era invisível, não, não sabíamos que a ribeira e os esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas
Nos olhos,
Eram fantasmas desenhados pelo poeta marreco, louco,
Nos olhos,
Subiam a montanha em direcção ao sítio, uma pequena fogueira de vaidade emergia sobre as rochas prateadas onde dormiam os cães vadios
Nos olhos
O louco poeta marreco,
Duas assoalhadas, um varanda com vista para os sonhos impossíveis de realizar, diziam-nos que para o anos as coisas iam melhorar, passavam os anos, passavam
E as coisas
Nos olhos,
Sempre iguais, sempre iguais, os cães procuravam as coisas boas da vida
E alguém gritava,
Nós gritávamos
Quais coisas?
Subiam a montanha em direcção ao sítio, uma pequena fogueira de vaidade emergia sobre as rochas prateadas onde dormiam os cães vadios
Nos olhos
O louco poeta marreco deitado de barriga para o céu, e descobriu, que
E as coisas,
O céu não existe, acreditávamos, subiam a montanha em direcção ao sítio onde viviam as nuvens de prata, rastejavam dentro do silêncio com a ajuda de uma mão envelhecida, moribunda, recheada com algerozes e janelas com cortinados de papel, subiam, docemente, subiam a montanha conhecida como a velha montanha dos sonhos impossíveis de realizar, percebia-se no ar pesado a respiração dos cadáveres adormecidos pelos versos do poeta marreco, louco, porco, que habitava numa cabana junto a uma ribeira com braços de luz e pernas de vidro, e no entanto
Tínhamos sonhos que acreditávamos serem possíveis de realizar, mas depois de subirmos a montanha invisível, depois de assistirmos as suicídio do poeta marreco e louco, depois de percebermos que os cães vadios, éramos nós,
A montanha desmoronou-se, desfez-se em pedaços de açúcar, e voou em direcção ao mar.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó