Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

14
Jun 20

Sou uma rocha,

Que dispensa o sono,

Plantam-se rosas no seu sorriso,

Gritam-se silêncios de revolta,

Entre paredes amarelas e sem juízo,

Sentado no trono,

Correndo pela seara,

Sem ninguém à volta,

Sem ninguém no terreno,

Sou uma rocha,

Aquela palavra proibida,

Suspensa no livro sereno.

Sou tudo aquilo que possam imaginar,

Desde pedra a foguetão,

Desde verso a palavra envenenada,

Desde o mar,

À triste canção.

Sou.

Muros de xisto olhando o rio,

Cansaço,

O frio,

Sou socalco maltratado,

Corpo,

Ferro,

Enxada calcinada na sombra do Senhor,

Sou. Sou pedra.

Palavra desejada.

Enxada,

Veneno da madrugada,

Sou rocha,

Sou tudo,

Não sou nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

14/06/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:08

09
Abr 17

Vagabundos,

Sonâmbulos

Cromos

E outros cromados,

Assim avança a vida do poeta…

Sobre a janela da solidão,

Desamados,

Triângulos de prata no papel amachucado

Correndo pela paixão na juventude das pirâmides sonolentas,

Vagabundos,

Sonâmbulos

Cromos

E outros cromados,

Enigmáticos circos de terra em terra,

Palhaços,

Candidatos a palhaços…

Num empobrecido poste de iluminação,

A forca miserável do inventor

Entre círculos e cubos de sombra…

A inquietude neblina que assombra a mão

Do palhaço candidato a palhaço,

As bocas de esperma descendo a calçada

Até se sentar junto ao rio,

Ouvem-se os socalcos do amanhecer

Quando as enxadas do prazer batem no xisto esfarrapado,

O circo não tem fim,

O fogo adormece as almas dos condenados,

E sobre o papel amachucado…

A casa dos espirros,

Os vampiros telhados das cidades em chamas…

Tudo arde no teu olhar

Como arderam as minhas palavras nas náuseas do sono…

Ergo-me,

Faço-me vagabundo como eles…

E vivo apaixonadamente no cubículo da idade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 9 de Abril de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:21

07
Jan 16

O só menino

Comtemplando o rio,

Desenha socalcos na palma da mão,

Escreve poemas no coração,

O só menino

Não sabe chorar,

Dorme quando cai a noite e deixa-se absorver pelo ténue luar

E não conhece a escuridão,

O só menino

Sempre abraçado à fome da solidão,

Inventa gaivotas e tem no olhar

A penumbra madrugada,

E tem no peito,

O beijo

Do amanhecer,

Sem o saber

(Escreve poemas no coração),

Grita. Eu quero o mar.

E o mar vem a ele,

E leva-o,

E leva-o para outro lugar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 7 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:08

19
Mai 15

Os teus braços aqui ao lado,

Parecem serpentes esfomeadas

Esperando as palavras da noite,

Ambos sabemos que as palavras não regressarão nunca,

Como nós,

Impossível regressarmos de onde partimos,

Complicada

Esta vida de marinheiro sem embarcação,

Complicada

Esta vida de transeunte sem cidade,

Ou livro, ou cais…

Para aportarmos,

 

Falta-nos tudo

E tudo temos,

 

As crateras e os peixes,

O silêncio e a madrugada,

Embriagados destinos

Com sabor a nada,

 

E os teus braços

Mesmo aqui ao lado,

Serenos,

Deitados…

Ouvindo os apitos dos comboios encurvados no Douro,

O rio

Sofre,

O rio

Sente

Os teus braços…

Nos meus braços

Afogados.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 19 de Maio de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:20

03
Dez 14

Inventei-te numa noite de solidão,

escrevi o teu nome fictício numa muralha de xisto

que a tempestade tombou,

havia no teu olhar socalcos cansados

e vinhedos sombreados

de... paixão...

 

Havia na tua mão

uma carta por escrever,

e lá dentro...

um beijo,

um beijo desenhado no meu sorriso

com lágrimas de sofrer,

 

Inventei-te numa noite de solidão,

abri os cortinados e olhámos as estrelas de papel crepe...

havia luar nos teus cabelos

e neblina cinzenta nas tuas pálpebras de adormecidos rochedos,

e quando me abraçaste... a cidade morreu,

como morreram todas as cidades onde habitámos,

 

hoje, somos dois esqueletos vadios...

vagueando pela embriagada poesia de um louco,

dois pássaros sem árvores para poisar...

hoje, somos dois esqueletos vadios... sem Oceano para navegar,

e esperamos,

impacientemente que acorde a madrugada.

 

(e hoje... nada me apetece escrever...)

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:58

27
Set 14

Liberta-me

desassossega-me esta insónia fervilhante

que atormenta as minhas mãos

e me proíbe de escrever

liberta-me quando começar a madrugada

e lá fora

ninguém

ninguém para me ver

ninguém para me observar

quero ser a noite vestida de luar

quero ser o socalco que nunca se cansar de olhar...

o rio

e as pessoas que o rio engole e mata

liberta-me

liberta-me deste cansaço desengraçado

que habita nesta sanzala de lata.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:43

28
Ago 14

Este xisto onde me deito

E confesso os meus sonhos invisíveis,

Esta caverna sideral com clarabóias sombreadas,

Este medo de me perder na floresta dos bichos…

E este rio…!

Este rio com sabor a saudade,

Esta vida mergulhada numa cidade

Inventada,

Este xisto,

Esta montanha recheada de vaidades,

Estes pássaros que se alimentam dos meus ossos…

E me transformam em cadáver,

 

 

Este xisto e este cansaço

Que me suspendem nos rochedos do amanhecer,

As ondas que não cessam de brincar

No meu peito de sofrer,

 

 

E este abraço,

E este xisto rosado nas pálpebras da madrugada,

Esta estrada sem saída,

Esta rua deserta com palhaços,

Este xisto onde me deito

E um trapezista louco se abraça aos meus cabelos,

Este circo,

Este circo sofrido voando nos lábios dos socalcos envenenados…

Estes homens enforcados,

Este xisto,

Este xisto derretido em bocados,

Que se alicerçam aos meus segredos…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 28 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:30

02
Ago 14

Olhaste os vinhedos da saudade,

percebeste que dentro deles, eu, eu deambulava como um sorriso de vento,

chamaste aos meus olhos, olhos de desgovernar,

e às minhas pálpebras, e às minhas pálpebras apelidaste-as de cansaços do mar,

não tinha mãos para te acariciar,

não tinha braços... não tinha braços para te abraçar...

nem cores para te pintar,

olhaste os vinhedos da saudade, e percebeste que eu era um rio sem nome,

 

Uma cidade sem coração,

uma tempestade,

 

Olhaste os vinhedos da saudade,

escreveste na ardósia da tarde os versos de amar,

percebeste que dentro deles, eu, eu habitava como uma flor carnívora,

que te absorvia entre os horários nocturnos do desejo,

sem lábios para te beijar...

uma cidade sem coração,

uma tempestade,

um homem vivendo no corrimão com vontade de caminhar...

 

Uma cidade sem coração,

uma tempestade,

olhaste os vinhedos da saudade,

e percebeste que o amor são socalcos olhando um rio,

o mesmo rio sem nome,

que um dia decidiste que eu seria até morrer...

um rio encurvado entre os seios das montanhas madrugadas,

um rio..., um rio apressado no corpo de uma enxada.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:35

26
Jun 14

Porque teimas em silenciar-me,

se amanhã não existo...

 

Porque não percebes que o meu corpo são pedacinhos de xisto,

milímetros de muro com sorriso para o rio,

porque dizes que as minhas palavras são cadáveres em movimento,

cabelos enrolados no vento,

esperando o acordar da madrugada,

espelhos esmigalhados com mãos de amar, espelhos... espelhos apodrecidos na calçada,

 

Espelhos desventrados,

esperando que a janela da insónia se abra,

e... e entre a claridade nos teus lábios,

 

Porque teimas em silenciar-me,

se amanhã não existo...

 

Se amanhã sou espuma,

cansaço,

e... e mar,

porque amanhã os pedacinhos de xisto que habitam no meu corpo...

são... migalhas,

pó,

 

Nada...

agulhas,

 

E... e não me esperes mais,

porque os muros... porque os muros depois de morrerem...

jamais renascerão para o teu desejo de me cansar,

 

Nada...

agulhas,

 

Se amanhã sou espuma,

cansaço,

e... e mar,

 

Se amanhã sou... se amanhã sou o teu amante disfarçado de luar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 26 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

04
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sentes o vento nos finos tapetes de solidão, e cansas-te, e murmuras...,

e murmuras os ínfimos castigos da cidade em construção,

tens medo dos holofotes que a madrugada desenha na tua vidraça, choras?

das gravuras que deixaram no teu olhar sinto a voz do silêncio,

observo as árvores que balançam, e quebram...

choras?

sentes o vento nas acácias manhãs de Inverno,

tempestuosas,

tormentosas...

como as mentiras dos carrinhos de choque na feira da alegria,

há sempre uma palavra no teu sorriso,

há sempre um sorriso meu... nas palavras tuas,

 

Sentes, choras, sentes os orifícios das conchas perdidas,

ouves o mar, e sabes que dentro dele eu, eu... eu brinco nas invisíveis ondas de espuma,

desço às profundas mágoas que a tempestade transporta,

há uma porta de entrada vazia, chorosa... ranhosa..., uma porta com dentes de carvão,

sentes e choras, e brincamos como crianças nas tristes ardósias junto ao rio,

há socalcos dentro de socalcos,

há ruas perdidas dentro da tua algibeira...

sentes o vento nos finos tapetes de solidão, e sabes, e sabes que hoje tive uma bandeira na minha mão,

cresceu uma flor no meu cabelo,

e diz-me o espelho nocturno dos milagres incompreendidos que... que amanhã...

que amanhã não choras, que amanhã não sentes,

que amanhã melhoras.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:15

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