Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Dez 19

Francisco Luís Fontinha

 

Lisboa, 87/88

Alijó / S. Pedro do Sul – Carvalhais, 89

Parte I

Pensamentos de um homem morto

 1

Hoje pude olhar o nascer do sol!

Seus raios são luz que iluminam a esperança,

Não de viver, mas de sonhar.

Tudo o que me rodeia, acorda de um sonho adormecido,

A Primavera finalmente encontrou o renascer

De um amor incompreendido.

Tenho medo…, não de morrer, mas… de sonhar!

2

Estou só e todo o silêncio é pouco.

Entre estas paredes de quem sou prisioneiro,

Recordo-me dos mais loucos e distantes pensamentos,

As pedras que me escutam, olham o transformar

Da minha sombra na escuridão, e que é testemunha

Do meu processo de destruição…

O insignificante a que pertence o meu pensamento,

De nada compreende o meu passado…

3

Em cada segundo de silêncio, o meu pobre corpo

Descansa entre o sonho adormecido,

E todo o meu sofrimento é constante,

Vertical, horizontal, é dor,

E tu nunca compreendeste o que me espera,

Eles dizem-me que o fim está próximo,

Não da morte,

Mas de tudo aquilo que não compreendo…

4

As palavras,

Gritam-me constantemente o silêncio da morte.

A alegria que existe dentro de mim

Não é real, é apenas uma vontade sem vontade

De viver um futuro denegrido, hipotecado ao diabo.

A tua sombra faz com que o meu caminho

Seja projectado num passado distante da minha verdade,

E o teu futuro encalha no meu presente.

Ao longe, olho a tua sombra, e o teu sorriso é lindo!

5

Adeus liberdade solitária!

Tu compreendes-me?

É essa a razão que faz o meu destino

Parecer e ser incompreendido.

Há momentos e não momentos que imagino a separação,

E outros, fico só e o meu corpo adormece.

Em breve vou morrer…, e então serei feliz!

6

Tudo parece impossível!

Viver, sonhar e amar…

Até adormecer é impossível.

Serei diferente?

Olho na luz que me ilumina, e duvido da sua presença,

E da minha existência.

Não compreendo a verdade,

E permaneço rebelde além da destruição…, fico contente.

7

A alma que chora no meu infinito,

Faz de mim solitário,

E o meu coração esconde-se no desconhecido.

No presente, não penso o futuro,

E..., momentaneamente esqueço o passado,

Mas tudo parece impossível…

Não me preocupo quem sou,

E gostava de saber quem serei mais tarde…

 

Parte II

O acordar de uma mulher

1

Vou caminhando rua acima

Fugindo do meu ideal,

Ao longe recordo o mar,

E compreendo não ser eu real.

 

Seu olhar olha-me constantemente

E recordo minha sombra,

E um dia…, se voltares a ser minha amante,

Certamente não serei feliz como a pomba.

 

Maldita escuridão!

Serei eu um sonhador?

E pergunto ao meu coração

A razão de tanta dor…

2

Estou perdido

Numa canção onde posso recordar-te,

E não imaginas o que tenho sofrido

Não ser eu capaz de amar-te.

 

Gostava de dizer-te alguma coisa…

E por minha culpa

O sol no horizonte pousa,

E transporta-me para tão grande luta.

 

Conquistei o teu sofrimento

Numa noite em Setembro,

Com os teus cabelos soltos no vento,

Que já esqueci e não me lembro.

3

As folhas caídas

Repousam eternamente neste lugar,

Olho ao longe, as árvores despidas

À espera de um novo luar.

Sozinho e triste

Caminho sobre casas ruídas,

Mas…, o meu amor não resiste

Às folhas caídas.

4

Alem recordo o teu rosto

Repartido pelos movimentos vividos,

Brilhante como Sol-Posto

Imagino horizontes denegridos…

Alem ouço a tua voz

Que me tira as forças para continuar;

E alguém chama por nós

Na razão de amar.

Alem recordo o teu sorriso

Tal como se tratasse de uma estrela cintilante,

Alguém perde o juízo,

E eu, eternamente,

Adormeço no mar…

5

As flores acordam ao amanhecer

Caminhando em distantes mágoas,

Em pensamentos que me fazem reviver

A pureza de suas águas.

 

Recordarei sempre o teu olhar

Tal como o teu corpo,

Sabendo que não te posso amar

Porque brevemente estarei morto.

 

Sofro por tua causa

E desconheço se vou resistir;

Em mim apodera-se uma pausa

E logo me leva a partir.

6

As estrelas deixaram de brilhar

E o mar fica distante!

A noite, transparente, parece reconhecer

Sombras encalhadas na ruela,

E ao fundo, a luz cansada de acender,

Apresenta-me uma mulher muito bela.

As estrelas deixaram de brilhar

E o mar fica distante!

Olhei o meu amor

Escondido na cabana,

Escondia sua voz no tambor

E iluminava objectos de porcelana.

As estrelas deixaram de brilhar

E o mar fica distante!

O caos do meu pensamento

Transporta-me para o final,

E todo o meu sofrimento

Esconde-se como um animal.

As estrelas deixaram de brilhar

E o mar fica distante!

 

 

Para publicação

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:07

19
Abr 15

A casa amarela

Dos segredos invisíveis

A impossibilidade de amar

Quando o vulcão da esperança

Em línguas de fogo

A aventura de cessar

Todos os prazeres da vida

Deixar de viver

Meu amor

Estando vivo

Deixarei de pertencer aos sábados melancólicos

Se me abraçares no espelho da paixão

 

Deixei de perceber o amor

E perdi-me no tempo

Não sei o que é amar

Quando amado fui

E amado não serei mais

As mãos

As tuas mãos pinceladas no meu corpo

A atmosfera embriagada das cancelas do amanhecer

O amor imperfeito

Ingénuo

Ambíguo…

Amanhã

 

Meu amor

Domingo

Sem sentido

Perdido

Eu

Nas tuas sombras de incenso

Pego nas tuas asas de papel

Escrevo uma mensagem

E voas

Como corpos em cinza

Levados pelo vento

Das tristes insígnias

 

Tenho medo

Meu amor

De amar-te

Quando percebi

Que não sei amar

Sou um imbecil

Um… um vulto de nada

À janela

Olhando a tua alegre beleza

Na escondida esplanada

Sentados

Brincamos às escondidas

 

Eu escondo-me

Tu escondes-te

… e ele

Eu

Escondido no teu peito

A masturbada cintilação

Das palavras em flor

Os livros comprados

Meu amor

As palavras penhoradas

Por ti

Quando a minha vida

 

Valia quase nada

Não tenho preço

Nem idade

Nem fotografia

Sou um triângulo apaixonado

Pelas janelas das equações diferenciais

O caderno

Em quadrados

O teu corpo

O meu corpo

Em pedaços de rectas

Sem destino

 

Tu

Ao acordar

A carta de despedida

Envidada

Do cansaço

Atravessava a eira

Sentava-me

Meu amor

Ouvia o sino de Carvalhais

Meu amor

Oito horas da noite

Vejo-a

 

Sinto-a

Quando a janela em liberdade

Me trazia o som das cigarras

Pensava em ti

Pensava na Teoria da Relatividade

Ai…

Meu amor

A saudade

Caminhava sobre o teu corpo de gesso

A iluminação da alegria

Hoje

Não

 

Meu amor

Hoje eu não te mereço…

Tenho em mim a tua morte

Sílaba apaixonada

Das pedreiras abandonadas

Vou

Não regresso

Meu amor

Aos teus braços

Sei que a noite me mantém vivo

Porque cerro os olhos

Pego numa tela vazia

 

E desenho o teu sorriso de granito…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 19 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:30

31
Mar 15

As línguas abraçadas no céu-da-boca

A chuva argamassada contra o silêncio nocturno

Em redor de dois corpos invisíveis

O prazer nas palavras

Saltitam enquanto folheamos um livro sofrido

Em lágrimas

Da morte inanimada

O Sol embrulhado dentro de quatro paredes

O tecto desce

Desce…

E tomba no pavimento lamacento de um dos corpos

O fim da tarde evapora-se

Nos lábios de um cigarro

Negro

Noite

Sombrio

Como os pássaros da minha aldeia

Subo aos teus cabelos

E sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada

A cidade cresce

Os automóveis enfurecidos

Em raiva

Como os cães selvagens

Montanha abaixo

A ribeira espera-os

Como visitantes insignificantes

O sexo suspenso nos cortinados do desejo

Os gemidos

E as sílabas da saudade

Há no teu corpo

Vapor de água

E cristais de prata

A imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego

O mar

O mar dentro de ti

Construindo marés de esferovite

E alguns sorrisos apaixonados pelo sono

Perdi-me neste tempo infinito

Quando ainda existiam equações de areia

No quadriculado olhar

Hoje

Sou uma caneta avariada

Que deixou de escrever palavras

Que…

Que tem uma lápide sobre a secretária

E uma fotografia

Húmidas vogais

Agarradas às escadas da paixão

Sem saberem que a morte

Não é a morte

Que o medo

Não é… o medo

Voar

Sofrer enquanto caminho sobre um arame

(sempre quis ser trapezista)

Artista de circo

Palhaço

Andante…

Sem nome

Quando acordo e sinto que estou vivo

A praia parece a eira de Carvalhais

Graníticas espigas de cio

Nas frestas do sonho

Oiço o sino da Igreja

Quase a desfalecer

Tensão alta

(dizem)

E nos teus cabelos

As luas de Saturno

Envergonhadas

E Titã…

Entre beijos e poeira…

  

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:17

17
Ago 14

Há nesta árvore nua e ensonada,

uma vida sem alma,

um corpo fusco com odor a embriaguez,

há nesta árvore um sorriso,

uma varanda com fotografia para o mar,

o silêncio é contagioso,

doença que invade o alicerçado enforcado...

o homem que inventa tristezas,

o homem que escreve insónias,

há nesta árvore estórias,

madrugadas sem nome,

o homem...

o homem das asas negras,

esperando o regresso da jangada de granito,

ele não resiste,

e insiste...

desenhar na tempestade o infestado grito,

há...

há nesta árvore nua e ensonada,

um poeta em chamas..., um poeta que arde na fogueira...!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:29

16
Ago 14

Tracejadas línguas de fogo,

sinto as mandíbulas da solidão a alicerçarem-se ao meu peito,

há um cansaço travestido de silêncio que alimenta este corpo de madeira,

que anda à deriva no rio nocturno da dor,

os livros divorciaram-se de mim, os livros parecem tentáculos de sílabas agarradas ao meu pescoço,

não me deixam respirar,

eles não o permitem...

sentar-me junto ao areal das cornijas de cartão,

sorrateiramente escondo-me no quarto envidraçado,

onde habita uma gaivota de porcelana,

e há nas fresta da insónia crucifixos doirados, algumas telas embriagadas e néons apaixonados,

… não consigo levantar-me deste rio, e eu não sei como sair deste círculo cinzento...

 

Sou todo absorvido pelas janelas da paixão,

embrulhado ás línguas de fogo, pareço um caixão de zinco descansando na despedida,

há uma madrugada em fuga, há uma rosa embalsamada que chama por mim...

hesito,

vou...

não vou...

aprisionados marinheiros de vodka em revolta,

oiço a voz dos agrestes pinheiros balançando na montanha do amor,

hesito...

vou... não... não vou...

não quero,

desisto da poesia!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 16 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:36

12
Ago 14
publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:18

02
Ago 14

Lembras-me as jangadas de incenso nos braços de uma amada,

há dentro desta casa uma cancela em madeira,

uma cerca de prata,

lembras-me as sílabas com odor a madrugada,

numa cama onde habitam dois corpos embrulhados em azevinho,

há uma arca cerrada com cadeados de luz,

lá dentro, cartas... cartas vestidas de cinza,

migalhas,

seios de verniz suspensos no espelho das tuas pálpebras de alecrim...

lembras-me as jangadas com velhos bancos revestidos a amanhecer,

uma Lisboa apaixonada por transeuntes embriagados, loucos... e marinheiros de palha,

lembras-me uma cidade com vidros de papel,

 

E migalhas...

lembras-me as flores deitadas no teu peito,

um cigarro a arder..., um cigarro sem jeito nos lábios dos marinheiros de palha,

lembras-me os poemas por escrever,

quando havia no teu corpo pedaços de borboletas e canalha a brincar...

lá dentro, cartas... cartas vestidas de cinza,

e... e migalhas,

lembras-me as tardes sentado a desenhar o Tejo na minha mão,

inventava barcos de cartão,

inventava gaivotas com bolas de sabão,

lembras-me...

lembras-me o silêncio das jangadas de incenso!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:49

01
Ago 14

Tenho no meu peito um fóssil,

uma lâmina de aço laminado,

tenho no meu peito uma cidade, uma mulher que habita nessa cidade, uma lâmina...

que me estrangula, que me absorve,

e engole,

nas noites de Sexta-feira...

 

Há um triste olhar que me acompanha desde as ruas de Luanda,

olhava as sanzalas, inventava grãos de areia no Mussulo,

desenhava peixes nos machimbombos com coração de granito,

ouvia, às vezes, um grito...

e engole,

nas noites de Sexta-feira,

 

Há um apito quando oiço a voz do silêncio,

uma criança com mãos de sisal,

deitada na eira de Carvalhais,

tenho no meu peito um fóssil,

um lâmina de aço laminado,

uma luz esculpida na calçada do abismo...

havia entre nós um muro amarelo,

havia ao longe um rio embriagado,

eu, eu sorria,

eu, eu descia... até que os tentáculos do desejo me levavam,

e quando regressava,

o apito... apitava...

 

O vício vomitava sílabas com sabor a alumínio,

e eu, eu dançava sobre uma nuvem de nada,

que me estrangulava, que me absorvia,

e engolia,

nas noites de Sexta-feira...

… e percebia o significado de liberdade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 1 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:15

27
Jul 14

Feliz aquele que tem alguém para amar,

feliz aquele que tem um livro para ler,

escrever, tão feliz... tão feliz aquele que sente a noite adormecer,

adormecer... nos braços do luar,

 

Feliz aquele que tem lábios para beijar,

que habita numa boca com sorriso de amor,

feliz aquele que inventa cabelos na planície do amanhecer,

e sem querer... e sem querer começa a chorar,

 

Felizes os barcos que têm marinheiros de papel,

corpos nus, corpos com sabor a mel...

feliz aquele que tem seios para pintar,

segredos para desvendar, quando o calendário da solidão... desaparece no mar,

feliz, eu?

talvez venha um dia a acreditar,

que há sanzalas com odor a chocolate,

que existem nuvens plantadas nos socalcos das coxas cinzentas dos pinheiros bravios...

feliz aquele que morre sem o perceber,

feliz..., tão felizes os cigarros de fumar,

tão felizes os cigarros de viver,

… quando há uma mulher embrulhada numa folha amarrotada,

 

Feliz aquele que tem alguém para amar,

feliz aquele que tem um livro para ler,

feliz..., tão feliz aquele que tem um poema a crescer...

a crescer... no verbo desejar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 27 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:08

26
Jul 14

Esta vida que não me esquece,

cai a noite e me absorve, e me evapora,

desço a calçada como poeira cansada,

e aos poucos, despeço-me do rio,

despeço-me da alvorada,

sento-me, e espero o regresso do amanhecer,

folheio um livro, leio um poema amaldiçoado,

dói-me o corpo, e esta vida que não me esquece,

 

Desenho uma gaivota apaixonada pelo silêncio do mar,

há uma cabana sem lareira, uma cabana atraiçoada,

e eu sentado, converso com a gaivota, converso com a cadeira...

sobre esta vida que não me esquece,

e me evapora,

folheio, folheio... e o livro do poema amaldiçoado... me deseja,

me leva para o solstício do beijo,

e sendo eu sou um ausente,

que não sente, que não ama...

pergunto-me... o que é o amor?

É uma cidade destruída? É uma canção com poemas de chorar?

que a vida não esquece, que a vida não me esquece... de me recordar...

 

Esta vida que não me esquece,

quando lá fora há estrelas à minha espera,

quando lá fora a gaivota apaixonada... chora,

porque foi maltratada, porque foi espancada...

pelo vento da clareira cinzenta,

que desce comigo a calçada, e... e me atormenta.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

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