sentir que aos poucos o teu corpo se despe de mim
e se despede em frente à mórbida madrugada
sentir que perdi as estrelas e as palavras
o sorriso
e a alvorada
dentro de um pequeno livro
tão fino como a tua pele desnuda
em pergaminhos desejos
o sorriso
e os beijos
e a alvorada
sentir que aos poucos
eu
não sou nada
como os outros
os que habitam as prateleiras dos sonhos
que vão procurar na insónia
a solidão
e o esquecimento
desse corpo
meu
despedido
despido
arrependido e suspenso no céu…
as cordas do inferno acreditando na misera gratidão
sentir que sim
sentir que não
sou
capaz
sentir que não sou capaz de despedir-me desse corpo camuflado numa qualquer sanzala
entre zinco e sombreadas flores
entre cigarros e pontes de luz
e belos amores
Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 9 de Novembro de 2015