Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Abr 19

Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado.

Vou assassinar o teu corpo, apenas o teu corpo,

E fugir para a Lua,

Vou beijar os teus lábios,

Antes de assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E deitar-me nas tuas cinzas,

Eu, cremado,

Como os meus livros,

Como o meu corpo…

Incinerado.

Vou queimar os teus seios,

Antes de escrever neles, amo-te,

Vou assassinar todos os meus livros,

Quando começar a madrugada.

Quando eu morrer,

E, os meus livros,

E, o teu corpo,

Vou,

Talvez,

Ser feliz.

Como os meus livros,

Como o teu corpo,

Como o meu corpo.

Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado…

Como a vida é complexa…

 

Como o teu corpo, suspenso no teu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

06/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:41

05
Set 15

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(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)

 

Mastigava as palavras nocturnas do sono,

Enquanto do outro lado da rua,

Alguém,

Alguém gemia,

Uma rosa nua?

Uma pétala de rosa tua?

Alguém,

Enquanto eu dormia,

Alimentava-se dos meus sonhos entre círculos e triângulos rectângulos,

Acariciava os catetos,

Beijava a hipotenusa,

E enquanto eu dormia,

Alguém,

Alguém vestido de musa…

Nua a rosa,

Pétala a tua,

Mastigava as palavras nocturnas do sono,

Desenhava na ardósia negra do sentido proibido

Os teus seios mendigando o meu peito,

Nunca,

Nunca tive jeito,

Vontade…

E alguém,

Sem eu saber,

Entranhava-se nos meus tristes ossos,

Alguém,

Alguém gemia,

Do outro lado da rua,

E eu,

E eu sentia,

A lua,

O mar agachado nas tuas coxas silenciadas pela amargura,

Tanto tempo perdido,

Em pequeníssimas folhas de papel quadriculado,

Chorava e gemia,

Do outro lado da rua…

O poeta suicidado,

Uma rosa nua?

Uma pétala de rosa tua?

Alguém,

Enquanto eu dormia,

Roubava-me a tela da agonia…

Acorrentava-me às paredes pinceladas de bolor…

Colocava sobre as minhas pálpebras um cubo de gelo,

No meu cabelo,

Uma rosa,

Tua,

Uma tua rosa nua,

Sem sentido,

Os livros que li,

As palavras que escrevo e escrevi,

Não,

Não eram para ti,

Porque alguém,

Não sei quem,

Injectava-me nas veias finas lâminas de saudade,

Cerrava os olhos, fingia estar vivo quando os barcos da alvorada subiam as escadas da sufocada pensão,

E eu,

E alguém…

Gritava,

Chorava,

Sem saber a razão,

Do poeta suicidado

Subir e descer as escadas da pensão,

Quando a pensão estava deserta,

Morta,

Sem janelas,

Sem cortinados nas janelas…

E todas as portas,

Também elas,

Todas,

Todas mortas,

E alguém,

Não sei quem,

Inventava fotografias para eu folhear…

Enquanto a pensão,

Enquanto a pensão se afundava no meio da rua,

Mesmo em frente ao meu cadáver descarnado pelo tempo,

Havia vento,

Havia lágrimas nos lábios do vento,

E alguém,

Sem saber porquê…

Ou razão…

Deixava o meu nome nas ruinas de uma pensão.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 5 de Setembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

29
Ago 15

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(desenho Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)

 

Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,

Longínquas do olhar da madrugada,

O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,

O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…

O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,

E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,

Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…

E este mar, meu amor,

Crucificado nas espingardas do coração abandonado,

Semeado nas searas do cansaço…

É triste, meu amor…

Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

É triste, meu amor…

Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,

E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Agosto de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

16
Mar 15

A melodia nocturna da aventura

os esteios do silêncio abraçados ao cansaço

desespero

e espero

que acorde o dia

sem amargura

sem... sem cortinados de penumbra

baloiçando no pescoço da saudade

os cigarros entre as estrelas

os dedos mergulhados nos teus seios

acesos

em espuma

palavras

números

portas

e ruas

despidas

nuas

e sinto do outro lado do rio

os guindastes da solidão

voando como gaivotas

livres

como os barcos

sem marinheiros

sem...

acesos

os ossos em papel

das migalhas invisíveis do voo

o infinito

destino

das mãos

quando alguém desiste do luar

e sem... acesos

os ossos

o infinito destino

das mãos no leito do sono...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 16 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

30
Dez 14

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Há um beijo inventado

que habita nos meus lábios

há um corpo adormecido

em mim abraçado

há um poema no teu olhar

que transporta o cheiro do mar...

há uma ponte nos teus cabelos

quase a desmaiar,

 

o desenho no espelho embriagado,

 

há um livro nos teus seios

que não me canso de ler

e folhear...

há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...

um desejo invisível

um desejo embrulhado em capim

e pedaços de cacimbo

há um beijo inventado

… nos meus lábios

em silêncio

a escrita cuneiforme

entre sombras de mármore e ossos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:52

01
Dez 14

Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos

saboreiam o teu corpo pincelado de luz

como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada

a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso

o verme poema enrolado nos teus seios...

em curvilíneos cansaços

traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia

da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

 

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

 

Arcaico silêncio que finge...

minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo

se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer

como andorinhas ancoradas às cordas da solidão

que ardem

e se evaporam...

 

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

 

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo

que na ardósia tarde junto ao rio

o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção

que te revoltas

nos meus braços

como uma criança em distantes birras...

desenhando círculos na areia

ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

23
Nov 14

Queima o filme negro da tua vida,

ensina aos teus ossos as boas práticas de comer,

sem nunca mencionares o nome da despedida,

nem na rua invisível do teu corpo,

imagina o vento fatiado abraçando-se aos teus seios,

escrevendo neles...

Amo-te...

sem gaguejares,

sem medo de chorar,

os abutres cardumes da insónia

que se alicerçam aos teus cabelos de luar,

queima o filme negro da tua vida... como quem pronuncia pela última vez a palavra amar!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:50

08
Ago 14

Serás a eterna folha de papel,

a pele húmida da tempestade que me embrulha quando cai a noite na eira de Carvalhais,

oiço o espigueiro atrapalhado no interior das canções de um sino em delírio...

oiço a tua ofegante voz quando tentas tocar-me... e foges, e desapareces no trigo silêncio da madrugada,

serás a eterna folha...

onde vou escrever os meus beijos, onde vou escrever as minhas caricias e os meus desejos,

 

Serás o rio onde me vou sentar,

os socalcos seios onde poisarei a minha cabeça...

depois... depois de acordar,

 

Serás a migalha de prazer que deambulará numa cama inventada,

os lençóis de seda que as tuas mãos aprisionam..., os sótãos do amanhecer,

e os gemidos quando és penetrada,

serás o luar,

e os versos ensonados das manhãs de liberdade,

 

Serás a eterna folha de papel,

a tinta ensanguentada dos orgasmos poéticos,

serás a eterna claridade dos espelhos de brincar,

o carrossel de uma cidade..., o cansaço de uma noite de amar,

serás o trapézio que se esconde na ardósia da tarde...

… a geometria nocturna de um corpo entranhado pelo poeta sem nome!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 8 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

27
Abr 14

no seu término o dia mistura-se com as sombras do prazer

o teu corpo mergulha sobre o meu peito flácido

quase a adormecer

lá fora há poemas por escrever

palavras vagabundas correndo junto ao Tejo

folheio as pequenas páginas dos teus seios

descubro o significado de “Amor”...

e sinto a paixão a entranhar-se nos meus ombros

 

há silêncios a descer a tua pele de doirado sémen

que acabam por morrer

semeiam-se nos límpidos lençóis de seda

como jangadas esquecidas em Cais do Sodré...

afinal... o sonho são as pequenas páginas dos teus seios

à janela do “Adeus”

simplesmente inventando soníferos de cartão

e livros a arder

 

há em ti um púbis construído de andorinhas

e flores de papel

e no seu término...

o dia... o dia cansado de viver

como se o teu corpo embrulhado nos meus braços de aço laminado

adormecesse vivesse amasse e morresse

e descubro o significado de “Amor”...

e de ser “amado”.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 27 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:11

05
Jan 13

Perpétuo silêncio de luz à espera das almas sem destino, uma paragem de eléctrico semi-nua cambaleia entre as sombras que a cidade constrói com os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, e de longe vinham até nós os sons melódicos de um saxofone em solidão, era verão, era sábado, e a tarde começava a evaporar-se nas palavras que escrevíamos sobre os teus joelhos esqueléticos onde poisávamos um caderno com um capa dura, grossa, com desenhos de flores, e marés e árvores com pássaros e os cabelos de ti nos tentáculos dos poemas que íamos construindo, emendávamos, riscávamos, voltávamos a reinventar as palavras, até que chegava a noite, e ele

E eu, eu pegava na tua mão débil, finíssima como os ramos de laranjeira que tínhamos no quintal em trás-os-montes, tão longe, a lareira, os livros, o sino da igreja quando dormíamos sossegadamente dentro dos lençóis de insónia, e amanhá era domingo, ouvíamos o sino, revoltavas-te contra a saudade, o amor, a paixão, e nunca gostaste dos meus barcos de papel, talvez porque te faziam lembrar o que era a morte, a partida, sem regresso, e eu, eu pegava na tua mão e levava-a até aos meus lábios perdidamente absorvidos pelos cigarros, e tu

Tens de deixar de fumar,

E eu, continuo a fumar cigarros invisíveis, e eu, eu sento-me no banco onde nos sentávamos, puxo de um cigarro imaginário (porque hoje não cigarros) e conto os pássaros disfarçados de barcos que correm dentro dos meus olhos, e pergunto-me

Tens de deixar de fumar

Porquê?

E passaram mais de vinte e cinco anos, o perpétuo silêncio de luz à espera das almas sem destino, uma paragem de eléctrico semi-nua cambaleia entre as sombras que a cidade constrói com os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, e de longe vinham até nós os sons melódicos de um saxofone em solidão, era verão, era sábado, e a tarde começava a evaporar-se nas palavras que escrevíamos sobre os teus joelhos esqueléticos onde poisávamos um caderno com um capa dura, e culpavas Einstein pelo nosso afastamento

A culpa é da curvatura do tempo-espaço, e eu, eu acreditava que sim, ciclicamente, e nunca gostaste dos meus barcos de papel, talvez porque te faziam lembrar o que era a morte, a partida, sem regresso, e eu, eu pegava na tua mão e levava-a até aos meus lábios perdidamente absorvidos pelos cigarros, e tu

Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo, descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, e vinham até nós os sons melódicos de um saxofone em solidão, era verão, era sábado, e a tarde começava a evaporar-se nas palavras que escrevíamos sobre os teus joelhos esqueléticos onde poisávamos um caderno com um capa dura, grossa, com desenhos de flores

Porquê

Tens de deixar de fumar,

E eu, eu pegava na tua mão débil, finíssima como os ramos de laranjeira que tínhamos no quintal em trás-os-montes, tão longe, a lareira, os livros, o sino da igreja quando dormíamos sossegadamente dentro dos lençóis de insónia, e tu

Eu sentia o sofrimento árduo dos teus lábios acabados de regressar, trazias nas mãos uma punhado de areia húmida, e na boca escondias o silêncio amor que a paixão sibilou nas carcaças apodrecidas dos peixes que viviam nos lençóis nossos que do jardim cheirava a incenso, alecrim, mirra, oiro falso, alquimia, líamos Proust, e sabíamos que

E deixei de fumar,

E sabíamos que todos os plátanos um dia, vinte e cinco anos depois, ruiriam, como ruíram os alicerces de todos os crucifixos de prata

Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo, descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, dos poemas,

Morreram, como morrem todos os crucifixos de prata que entram na minha vida nocturna com sabor a mar e desejos de luas com pedaços de laranja, sonhos, e pipocas quando ligo a máquina das imagens, e apenas sombras, pretos, brancos, os riscos, os riscos crucifixos de prata que a melancolia escreve nas ardósias palavras dos teus seios.

 

(texto de ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:08

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