Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mar 19

O ponto final da vida.

A morte prometida,

Sobre uma mesa empobrecida,

Quando os livros revoltados,

Descem a avenida,

Como soldados.

 

Pum. Fim da vida.

 

O silêncio.

Amo o silêncio dos pássaros, poisados nos teus lábios,

Doirados,

Doces,

Dos eternos namorados.

 

Grandes sábios.

 

Descem, sobem,

Sobem e descem,

 

Avenidas, ruas e ruelas,

Coitados,

Dos pássaros enamorados,

 

Entre lágrimas e velas.

 

Morre o poema na minha mão,

Sinto-lhe o esqueleto de dor, junto à noite,

Morrem todas as palavras do poema que morre na minha mão…

E coitadas…

Das janelas empoeiradas,

Velhinhas,

E, cansadas,

Como sexos apaixonados,

Nas sanzalas de prata,

A chuva miudinha,

Dos marinheiros em flor,

O cansaço, a desgraça do cio da madrugada,

Do meu primeiro amor.

 

Como eu quero escrever no teu corpo de sombra,

Na rua, uma montra,

Um par de calças esperando-me…

Sem saber que no final do dia,

Eu sentia,

A fórmula mágica das árvores apaixonadas,

As areias,

Os insectos envenenados pela fúria,

Não o sei, meu amor,

Nunca soube, meu amor,

Que o amor é uma merda,

Uma canção de revolta,

À volta,

Da fogueira.

 

Pum. fim da vida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/03/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:13

15
Abr 18

Todos os dias apareço.

Todas as noites sou comido por uma língua de sombra,

 

Posso concluir que sou um sonâmbulo desorganizado,

Distante das estrelas,

Cansado do vento.

 

Cada osso meu,

Um poema teu,

 

O carrasco.

 

Não gosto do vento,

Porque o detesto,

Faz-me mal às palavras escritas,

Enquanto dormes.

 

E sonhas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Abril de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:34

24
Jul 17

Parto feliz.

Deixo tudo nas tuas mãos, os velhos papeis, os livros… e a minha sombra.

Para onde vou, nada disso necessito…, apenas preciso de paz.

A fuga, depois da alvorada… para além do rio,

Uma caravela com velas de sonho,

Um pedacinho de solidão…

E lá vou eu, eu, feliz…

Parto feliz.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:34

18
Mar 16

Uma janela de sombra

Suspensa no parapeito da saudade

O equinócio sonho

Atormentado

Espera os meus braços de granito

Um grito

E fujo

Salto a janela de sombra

Corro calçada abaixo

Até tocar o rio salgado pela inocência da noite

E sou apedrejado

Pelos barcos em silêncio…

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 18 de Março de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:57

04
Nov 15

a sombra

em teu sorriso vermelho

sem destino nos meus lábios

entre marés de Inverno

e noites de Inferno

traz o sofrimento desejado

inventa no meu corpo a alma desajeitada

que só os fantasmas conseguem ouvir

na madrugada

da sombra

na sombra

em teu sorriso vermelho

a rosa de papel com odor a silêncio

teus beijos

sem triangulares janelas

onde poisas os teus seios

quando passa na Calçada

o quadrado a recta e o sonâmbulo embriagado

a sombra

na triste roda dentada

aqui

ali

longe de mim…

sentada

à minha espera sabendo que eu não regressarei nunca

aos teus braços

às tuas mãos…

nunca

a sombra

em teu

sorriso

vermelho

se ausentou do meu destino

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 4 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:28

18
Mar 15

O fantasma orgulho do corpo

que navega nos sorrisos imperfeitos

fingimento

quando a noite cai

não vive

e quer

ser

não sendo

o que é...

uma lâmpada de lágrimas

alicerça-se ao ombro ferido da serpente

tem na roupa a etiqueta

 

mas...

mas existem pedras de giz

na ardósia tarde que observa o rio

não vive

e quer

ser

não sendo

o que parece

às vezes é uma estrela

às vezes... não passa de uma sombra

velha por dentro

infeliz

 

coitada

e quer

a serpente sobre a secretária

difícil de perceber

o amor

as palavras

os livros

e todas as lâminas que o sono constrói no sonho

a casa desabitada

infestada de personagens

cansadas

como o silêncio luar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 18 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:17

02
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

eu me confesso aos teus secretos desejos

oiço em ti a sinfonia melancólica da paixão louca que acorda as palavras poucas

eu me confesso aos teus olhos de espiga solitária

no infinito cereal pergaminho

vejo e sinto os animais vadios

e os pássaros mendigos

eu me confesso sabendo que tens em ti a diurna estória sem sombras

ou os pequenos laços no pescoço da morte

ou da lápide o sofrimento ensanguentado beijo da despedida

a partida é uma forma de viver

ser feliz

e sonhar com as madrugadas de alecrim

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:49

13
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes

Sem sentido?

Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes

Sem sentido?

As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,

Sem sentido...

Às vezes?

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,

Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o

Telintar das nozes?

Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem

Sentido?

Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão

Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?

Os ratos,

As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se

De ti?

Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas

Poemas?

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se

Sente-se...

Sentido?

Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei

Como começar?

Era uma vez...

Não, não o quero, não o consigo fazer

Porque elas caem?

As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora

Caem as nozes

E as vozes,

Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e

Palavras?

Sim, sim,

Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...

Caírem sobre o talude da paixão,

Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de

Palavras?

Sim, sim,

Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de

Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,

Sem sentido...

Às vezes?

Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...

As palavras ejaculam sílabas de arame.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 13 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:42

13
Jul 11

Junto ao abismo,

Forçosamente percebe que se der um passo

Cai majestosamente rabina abaixo

O vento suspende-se e o corpo dele ingrime

No dia de amanhã,

 

Vou não vou

Ele debate-se com o dilema do desconhecido

E pergunta-se e grita à garganta da encosta

O que faço?

 

A sombra decide lançar-se

Cerra os olhos

Coloca as mãos entrelaçadas no peito…

E o que for é,

 

Em queda livre,

Nove virgula oito metros por segundo quadrado

E enquanto a gravidade puxa a sombra

O corpo fica suspenso na tarde

E arrepende-se,

 

Solicita à grua das nuvens

Que levante a sombra suicida

Mas a sombra em fintas e curvas

Vê-se livre da grua,

 

E a queda é inevitável

Os ossos da sombra estatelados nos pedregulhos

Do silêncio junto ao rio

O corpo em lágrimas,

 

No chão,

Duzentos e seis ossos semeados no rio

Trinta e dois dentes fincados nas algas

Como se fossem o pôr-do-sol

Quando o sol se afunda no horizonte,

 

A sombra morre

Causa da morte impressa na noite

Solidão e desespero

Doença comum,

 

O corpo órfão da sombra

Uma rotação de cento e oitenta graus

E as pernas em passos de caracol

Afastam-se do abismo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:10

21
Mai 11

(Hoje dei-me conta que estou a mais neste País, hoje percebi que a angustia que sinto ao acordar, hoje percebi que a minha nunca adaptação, tudo isso, tudo isso porque eu nunca devia ter vindo de Angola. Hoje percebi que preciso de regressar urgentemente à minha terra, e mudar de vida. Logo que tenha uma oportunidade de regressar, acreditem que não hesitarei um único segundo; decidi regressar a Angola)

 

Vou à procura de mim em todas as ruas da cidade, e todas as ruas da cidade encerradas para obras, reabrirmos o mais breve possível, fim de linha, eu cansado e com o camuflado a pingar lágrimas, sangue que aos poucos se evapora da minha pele, e nos meus olhos, nos olhos passeiam-se grãos de areia que na praça de táxis esperam pela minha sombra, e onde está a tua sombra, a minha, sim, sim a tua sombra, a minha sombra longe do meu corpo, a minha sombra junto ao capim, e o teu corpo, o meu corpo aos poucos desce pelos socalcos do douro, sinto o cheiro do rio, sentes, sim sinto, e depois, e depois já sem forças, e depois vejo o meu corpo despido do camuflado, vejo o meu corpo a afundar-se no rio, e o rio, o rio engole-me, acreditas que o rio sempre me quis, e o capim, o capim adormece no silêncio da noite, e sabes, e sabes que as gaivotas brincam com a minha sombra.

 

Vou à procura de mim em todas as ruas da cidade, vais, vou, ainda te recordas do menino que acreditava voar, sim claro, e todas as noites olho pela janela, e sabes, sim diz, vejo sempre o mesmo cavalo branco com uma mulher vestida de branco, eu menino ao portão do quintal a fabricar desejos, e ela, ela passava por mim, ela passava por mim e nem se dava conta que o meu corpo lá, o meu pequenino corpo pendurado no portão, o meu corpo ainda invisível, o meu corpo transparente à espera da chuva do fim de tarde, vou à procura de mim e não me encontro, eu não lá, o meu corpo deve passear-se por alguma lixeira de Belém, talvez, talvez agora âncora do navio que me trouxe, vieste de navio, sim, sabes, não, diz, foi a viagem mais linda que fiz, o mar, eu dentro do mar à procura da terra prometida, e os camuflados, que tem, os camuflados levavam-me a passear pelo barco e davam-me presentes, vinham felizes, vinham para casa, eu, tu, e eu triste, a minha casa lá, a minha sombra lá, lá junto ao capim em brincadeiras com as gaivotas.

 

E todas as ruas da cidade encerradas para obras, reabrirmos o mais breve possível, fim de linha, aguarde um momento por favor não desligue, tim tim tim, só mais um momento, aguarde por favor, tim tim tim, só mais um momento, não desligue, e o meu corpo onde andará hoje, a esta hora, hoje agora, só mais um momento, não desligue aguarde, tim tim tim, só mais um segundo, peço desculpa pela demora, não faz mal, lamentamos mas o seu corpo não cá…

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

21 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:47

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