Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Jul 18

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E assim me suicido com a bala disparada de uma caneta,

Cada palavra, um sonho,

Cada sonho, um poema transfigurado pela manhã,

O sangue passeia-se sobre a secretária,

E sinto os cheiros da minha infância…

 

 

Francisco Luís Fontinha

22/07/18

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:15

03
Jul 17

Uma criança de luz adormece no teu sorriso prateado,

Oiço o rosnar do fumo dos teus cigarros envenenados pela escuridão,

E o teu corpo é apenas um amontoado de ossos,

Morres-me nas mãos,

Suicidas-te com as palavras perdidas na Calçada do Adeus,

Pobre criança sem Pai,

Pobre luz sem Mãe,

E do mar regressam as cordas do teu sofrimento,

Alicerças-te a mim,

Pareço um rochedo ingrime perfurando o intestino do suicidado…

Nada mais posso desejar,

Que partas em breve….

E sejas feliz assim,

 

Assinado,

 

O homem suicidado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:23

12
Dez 15

Sinto os lençóis do teu rosto

Na Cárcere dos meus tímidos lábios

Sinto o infinito solitário

Descendo a rua

De cigarro em punho

Uma espingarda para a morte

Morrer

A morte só faz sentido quando o corpo desiste da paixão

E o amor deita-se sobre os rochedos da insónia

Sinto os teus braços no meu cabelo

Sinto a tua mão cegando a minha barba

(pareço um bandido)

Pareço um sem-abrigo abrigado nos teus beijos

Um homem desiludido… desiludido do luar

E das nuvens de algodão

Negoceio em gado

Sou agricultor diplomado

Aprumado

Nas letras nos números e nos traços

Roça-se no seu corpo

Acredita na morte

E tem medo da guerra

A carta não regressa

Um par de cornos

E uma foice… a seara do cansaço

Dorme

E sente

Como eu

Sinto

Na Cárcere dos meus tímidos lábios

Sinto o infinito solitário

Um homem corpulento

Bom amante

Falante

Suicidando-se…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 12 de Dezembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:54

30
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Ofereceu a bala inseminada com as impressões digitais do poema em construção, poisou os cotovelos sobre a iluminada folha de papel com meia dúzia de palavras, leu e releu e puxou o gatilho da caneta de tinta permanente sobre a secretária em pinho, voaram sobre a biblioteca todas as gaivotas de porcelana que permaneciam entre os livros e outras bugigangas, aos poucos, como silêncios de um pêndulo cansado, foram cessando as agonias do homem poeta da caneta de prata, uma bala silenciada adormecia-se como flores numa jarra, dentro dele apenas se ouviam as esquina de luz do espelho prateado,

A saudade submergiu do corpo caído sobre a secretária, ouvias as minhas preces como quem escreve um livro infinito, uma estória que só termina quando duas rectas tristes e sós se encontram

No infinito,

Dizem-me, eles,

A saudade é filha da balda da caneta de prata, as palavras morreram como morreram os teus sorrisos e como morreram as tuas caricias e como morreram as tuas mãos sobre o meu peito em feitiço... e como morreram

Quem quem morreu?

Como morreram os fantasmas dos roseirais de Luanda, e há uma filme escondido nas paredes de um casebre, na parede traseira uma placa com a inscrição de “FIM” aparece

Desaparece

E morreram os teus lábios nos meus lábios quando entrelaçados nos meus cabelos as lições de piano, o som melódico das teclas borbulham nos alicerces da madrugada, ofereceu a bala e suicidou-se com a caneta de prata

Sentia o cheiro intenso da tinta derramada nas alvenarias como desenhos abstractos que os teus olhos inventaram nas prateleiras velhas, nas prateleiras caducas, morreram os teu seios nos meus lábios, morreram as tuas cintilantes pálpebras nos cadeados de estanho, e ouvia-te das lágrimas os aplausos nas cantigas dos rabugentos e enferrujados barcos,

O aço é um corpo só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim

Quem quem morreu?

A bala, procuravam em mim a caneta de prata o suicídio fictício das palavras,

Quem quem morreu?

A bala, procuravam em mim as sombras desnorteadas das tardes de Segunda-feira, e eu, eu sabia-o, admitia-o... que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu silêncio, um dia, tu, eu, que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu sofrimento de lírio apaixonado, deitado sobre a secretária da

Saudade?

Que morreram as tuas peugadas absorvidas pelo meu pesadíssimo corpo em aço, só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim

Quem quem morreu?

A saudade,

(só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim)

Quem quem morreu?

Quem quem morreu?

O amor das pedras cinzentas...

FIM.

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 30 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

24
Mar 11

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, espera, espera e abre-se a porta, cabelos loiros, olhos azuis como quando o céu límpido de uma manhã de primavera acaba de acordar, mãos meigas e macias, ele frente a frente com um corpo esculpido na madrugada, pede licença, entra, dirige-se à janela, abre a janela, e, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

- made in china,

O meu portátil Toshiba Portégé M800 com quatro GB de memória RAM acaba de se suicidar, e nada que me surpreenda, há muito que eu notava nele fragilidades de cansaço, e às vezes parecia-me distante, ausente, e na noite ouvia-o,

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

A vizinha aos gritos, e da janela do 8º D apenas conseguia distinguir,

- made in china,

E os malmequeres suspensos na faixa de rodagem, ora inclinados para a direita, ora inclinados para a esquerda, ora tombados no chão, e eles não mede in china, eles,

- eles filhos de um deus arrogante, malcriado,

Eles à espera do acordar do sol, e o sol escondido nas nuvens, eles tombados na faixa de rodagem a olharem o made in china que em pedacinhos esperava pacientemente a vinda da policia, delegado de saúde, ministério publico, e causa de more,

- queda do 8º andar direito, suicídio ou homicídio, ou simplesmente o desespero, interrogar a vizinha, e a vizinha,

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, oferece um ramo de flores à madame, e a madame em suspiros de desejo,

- bateram-me à porta e quando abro, abro e deparo-me com um portátil que me oferece um ramo de flores, abraça-me, beija-me, começa a despir-me e quando dou conta está a encabar-me por trás, e,

E violou-a?

- Não. Eu também queria e foi bom…

E depois,

- e depois foi à janela, abriu a janela, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

Made in china…

E foi bom.

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

 

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:28

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