Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

16
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Tínhamos inventado o sono,

a tristeza,

desenhávamos o sofrimento nas pedras cansadas da calçada,

tínhamos nas mãos a madrugada,

o vento que nos empurrava,

um livro teu... um livro que nos amava,

tínhamos estrelas vadias nas pálpebras do céu,

palavras, palavras significando tempestades, palavras começadas por saudades,

tínhamos inventado o sono,

a alegre maré parecendo o ensanguentado milagre da beleza...

tínhamos o mar e os corpos dos marinheiros sem farda,

e mesmo assim... sonhava, e mesmo assim... amava-te como se amam os xistos muros dos nocturnos eléctricos da cidade do nada.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:03

12
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Éramos dois barcos dentro da mão da tempestade, vivíamos sonhando como sonhavam os nossos antepassados, tínhamos luas sem luar, ouvíamos as lágrimas da noite e dormíamos acreditando que a noite era mãe das amendoeiras em flor, tínhamos sidos enganos, só não éramos nada, tu e eu, como a noite nunca existiu, só não éramos nada, como tu e eu, como os sonhos são uma mentira inventada pelas nuvens de prata, só não éramos anda, tu e eu, como a noite, sim, essa mesmo, como a noite nunca foi a mãe das amendoeiras em flor, porque estas

Nunca existiram?

Existiram, e existem, mas... deixaram de habitar a nossa aldeia depois dos incêndios que fizeram de nós, num verão incandescente, como uma lareira enfeitada com papel florido e pequenos desenhos em acrílico sobre tela, quanto vale

Nada,

Não vendo desenhos, não vendo vidas habitadas em telas sem sentido, nuas, escuras, telas minhas que acreditava serem também tuas, telas dela que eu acreditava serem dele... e nada lhes pertencia, a manhã, o frio, as flores dos vasos que quando o vento era mais forte os fazia estilhaçar na calçada, da varanda em queda livre

Ajuda!,

E AJUDA nenhuma, apenas paralelepípedos de tristeza mergulhados nas línguas dos magalas com gravatas em tecido desbravado das costureiras envelhecidas, ela trôpegamente subia as escadas, abria a porta de entrada e logo de seguida um velho gato infestado de reumático lhe poisava não mão esquerda, enquanto com a mãos direita afagava os colarinhos de uma gaivota tresmalhada, envenenada pelas insónias vodkas dos bares em Cais do Sodré, e putas de perfume inocência vagueavam a rua saboreando sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam

E AJUDA nada,

Descíamos pensando que subíamos,

Os braços da sombra Inglesa com rissóis de maré grelhada e molho de pôr-do-sol, éramos quatro barcos, éramos quatro vadios guindastes de marfim na boca de um crocodilo em pau-preto, e se a princípio éramos apenas dois barcos

Como quatro hoje?

Barcos em flores acreditando nas gaivotas de porcelana, como dois antes, os filhos dos filhos, e as putas de perfume inocência vagueavam a rua saboreando sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam

Até

E cresciam...

Até morrerem.



P.S.



o habitáculo do desejo

 

 

dentro do habitáculo do desejo

a bailarina Caliente voa sobre as gaivotas em flor

uma moeda insere-se na ranhura do piano embriagado

ouvem-se sons dispersos nas coxas dele

ele geme

ela sente cada milímetro quadrado dos gemidos dele

o piano enlouquece

o piano derrama a fina pauta de sémen sobre a geada da alvorada

sinto a lareira do ciume nas planícies do abismo coração solitário

e dentro do habitáculo

ela

ela ri-se e dos lábios sobejam as finas pétalas do prazer...





Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?

Não, não percebo,

Éramos dois barcos dentro da mão da tempestade, vivíamos sonhando como sonhavam os nossos antepassados, tínhamos luas sem luar, ouvíamos as lágrimas da noite e dormíamos acreditando que a noite era mãe das amendoeiras em flor, tínhamos sidos enganos pelo habitáculo do desejo, e dos vidros embaciados, nasceram mais dois barcos, filhos dos dos dois primeiros barcos,

Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?

Não, não percebo,

Tudo

Não percebes?

Tudo tão negro quando os gemidos da saudade se entranham nas frestas dos complexos números do quadriculado caderno, e de vez em quando

Poemas,

E de vez em quando

Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?

Não, não percebo,

Como nunca percebi porque chamam Calçada à AJUDA... quando ninguém é ajudado e o rio engole os sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam

E morriam.

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 12 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:09

19
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O teu fogo extingue-se no meu corpo, e as cinzas, essas, voam em direcção ao mar... há marinheiros em cio deitados sobre os braços de outros marinheiros, como barcos, em aço, soldados uns nos outros, rebitados, até que a morte os separe, novamente em fogo, derretem-se e novamente são barcos, e novamente abraçados, agora não a outros barcos, mas

As flores, as jangadas de silêncio caminhando junto ao mar,

Mas, os teus braços, meu amor, rebitados no meu peito, também ele em aço, também ele sofrível, mendigo, vagabundo, e como eu, também tu, aos poucos, deixaste de olhar o mar, e também tu, aos poucos, deixaste de olhar os lábios encarnados do luar,

Amo-te, oiço-te,

Despir você... acariciar seu corpo entranhado em finas bolhas de champanhe, oiço-te na escuridão nocturna da insónia, desejar-te cansa. e ao mesmo tempo, alimenta-me os volantes e êmbolos que trago dentro de mim... e fazer amor com você até deixar de haver dia, noite, luzes, ventos, mar, chuva...

Depois, a noite trouxe os três navegantes de olhos verdes, e as flores, a jangada de silêncio junto ao mar, vive neste momento nos seus seios de capim, oiço-a gemer e sussurrar...

Amo-te, meu querido,

E no entanto, há vento, e no entanto, há tempestades, neve, granizo, ossos cerâmicos... vidros, olhos de vidro, lâmpadas incandescentes, e sinto-a dentro de mim, em fogo, como se o meu corpo fosse uma janela aberta na montanha branca, excitada... quase húmida... como a chuva, devagarinho a entranhar-se na terra

E

E oiço-a, amo-o meu querido, amo-o...

E

E oiço-o, amo-te meu querido, amo-o...

E a terra infestada de minhocas com asas, e a terra , na terra, devagarinho a entranhar-se-lhe... e as árvores, as mais frágeis, tombaram sobre o sobrado do cacimbo, eu, eu sempre a ouvi-la

Amo-o,

Eu

Eu sempre a ouvi-lo

eu

Amo-o,

Como amo as borboletas e as abelhas,

Na terra, curvas de nylon suspendem o céu, e as tuas mãos agoniam-se de encontro aos rochedos, tenho a leva sensação, que, que uma das tuas mãos, acabou de suicidar-se,

E agora, meu amor?

Oiço-a

Oiço-o

E a vida é um carrossel de mentiras embebidas em vodka, palavras... e sexo.

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

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