Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Set 15

Regressa a noite,

Depois… depois acorda a saudade embrulhada num lençol de linho,

As fotografias suspensas na parede da sala…

Cerram as janelas,

Desligam os interruptores do silêncio,

Brincam as vozes dos tristes alicerces que sustentam o meu corpo,

Pareço uma bailarina em busca dos holofotes do desejo,

Entre círculos e espelhados momentos angulares,

Eu…

Eu… eu me perco nos teus braços,

Deixei de desenhar sorrisos na alvorada,

Deixei de escrever palavras nos muros invisíveis da minha aldeia,

 

Deixei…

Deixei de pertencer ao limo envenenado na madrugada,

Tenho uma bandeira na mão,

Tenho na outra mão… nada,

Uma pedra,

Uma enxada…

Calcinada

Pelos ventos trigonométricos do amor,

 

Regressa a noite

E não tenho tempo para embriagar sonhos,

Não me importo de não ter sonhos,

Nome,

Cidade para habitar…

Regressa

E traz com ela outra noite,

Outro momento angular que me sufoca,

E sinto na minha algibeira o mar

Encalhado nos rochedos dos teus seios…

Pego na equação das tuas coxas

E construo um foguetão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 8 de Setembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:15

08
Abr 14

Percebo que as equações do meu corpo não têm resolução,

sou um aglomerado de números complexos, integrais duplas e triplas, habitam nos meus braços,

percebo que tenho um sorriso em granito, e sei que nas quadrículas do meu peito...

suspendem-se as infinitas cordas paralelas do nylon madrugada,

um imbecil programado, um corpo onde se misturam os algoritmos de Fortran e as raízes quadradas do obscuro olhar, sem sentido, único, proibido estacionar o meu corpo em cima do passeio da solidão,

cruzo os braços,

e pergunto-me...

o que faz o poema sem nome dentro do silêncio amanhecer?

sem prazer,

a vida é um fluído em escoamento permanente...

em direcção ao mar,

em construção... como corpos geométricos procurando amor nas flores triangulares...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 8 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

26
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro

vêem-se de ti os cabelos da madrugada trigonométrica procurando senos e cossenos

e dentro do círculo trigonométrico

os teus tristes lábios em três quartos de pi radianos

a imagem acorda em ti e cansa-se do silêncio transferidor

e as lágrimas envergonhadas como pedras fundeadas na ribeira do Adeus

desaparecem ao amanhecer

tenho medo confesso-lhe

e ela desesperadamente

desenha-me na ardósia manhã como beijos tangenciais ao quadrado do Amor

o rio flui até encostar-se à fórmula fundamental da trigonometria...

e percebo que o seno ao quadrado de alfa mais o cosseno ao quadrado de alfa é igual à unidade... a (imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)

 

Imagino-te nua sem saberes que no espelho encarnado vivem gaivotas veleiros

e pernaltas petroleiros

 

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro

a equação da Saudade desfaz-se em pedacinhos papeis...

que voam em direcção ao infinito onde se abraçam rectas paralelas e ventos circunflexos

corpos incandescentes ardem como ângulos adormecidos

há lareiras em desejo na janela da noite

quando os versos transformam-se em sanduíches de nada

e do nada

a tua imagem sem saber que as integrais triplas são amantes dos cossenos hiperbólicos...

a matriz transposta invade o púbis da matriz inversa

choras...

dormes... como uma criança deitada na equação diferencial da paixão

e a tua imagem... e a tua imagem esconde-se na lixeira do inferno.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:51

05
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Perspectivo-me sobre a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso

há uma linha transversal que nos separa e aproxima

como uma fotografia sem nome na mão do louco muro em xisto

desço às fronteiriças margens do desejo

desço até que sou engolido pelo cosseno de trinta e cinco graus dos teus lábios...

desejarás-me ainda depois das equações diferenciais dormirem dentro dos quadriculados cadernos?

Invejo-te a liberdade

e os voos nocturnos quando se esquecem de ti e tu

e eu

suspensos no estendal das sílabas poéticas que o veneno da tua boca alicerçou na tempestade

há em nós uma circunferência de luz com braços de areia

húmidas todas as palavras dos anzóis do medo das sanzalas com vozes de zinco

com olhos de fome...

e chove

chove sobre o teu corpo de nylon onde se abraçam os barcos desvairados quando o vento se entranha no amor e nos transporta para o infinito

e lá ao fundo... a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:29

23
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

os triângulos insectos que o sofrimento padece

quando lhe pertencem as tuas mãos de andorinha selvagem

os senos inventados dos lábios em engrenagens que à tua boca atracam

e se afundam como serpentes cordas em nylon emagrecido que a madrugada alimenta

os triângulos insectos que se alicerçam ao teu peito

bebíamos pétalas de silêncio em efusão de sílabas desastradas como pedras de calçada...

havíamos roubado todos os barcos naufragados das avenidas embriagadas

entravam em nós marinheiros e meninas de mini-saia doirada com círculos encarnados

pensávamos que era o rosto da lua

mas a lua nunca foi encarnada

mas a lua nunca pertenceu aos barcos envergonhados das avenidas embriagadas...

então?

 

(os cossenos dos teus seios dentro de tristes equações diferenciais

depois

havíamos roubado todos os barcos naufragados das avenidas embriagadas

e ficávamos com as tangentes do sofrimento que sobejavam das flores do medo...)

 

então

então pensávamos que o seno hiperbólico da saudade vivia no mesmo quarto que os beijos cansados

dos triângulos insectos em teus cabelos mergulhados na geada cristalina da montanha dos peixes...

então...

então víamos o regresso da paixão em ensonadas linhas paralelas

então...

ouvíamos os uivos grunhidos dos corpos em movimento uniformemente acelerado

parávamos em frente aos telhados de zincos dos guindastes da pobreza...

então...

então percebíamos que as palavras escritas nos quadriculados cadernos...

eram os encarnados círculos disfarçados de cossenos parvos

disfarçados de senos loucos que a trigonometria inventou para nós...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:55

04
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

no rochedo da saudade vive o teu meu coração repatriado

escondíamos-nos do amanhecer quando todas as estrelas cessavam de brilhar

quando sentia o teu sorriso no espelho da paixão

comestíveis beijos insufláveis desciam das árvores em solidão

no rochedo da saudade

vivia

amava

e comestíveis beijos com esqueletos de prata

 

no rochedo da saudade vive o teu meu cansaço

quando tínhamos noites intermináveis sentados num banco de jardim

conversávamos sobre tudo e sobre nada

e sentia o brilho do teu olhar

como uma donzela tela

pincelada com acrílicas cores

depois tínhamos a sombra dos plátanos

de livro na mão

 

liam-nos poemas

escrevíamos-lhes poemas

sentados num banco de jardim...

e imaginávamos à nossa frente o palpitar do rio furioso por ter perdido o mar

víamos veleiros pintados na claridade da aurora boreal em comestíveis chamas de suor

liam-nos poemas

escondidos caracteres minúsculos sobejavam das rosas de papel

e diziam-nos que a lua amava o silêncio

 

como nós

um piano vadio brincava no soalho da biblioteca

e tínhamos acabado de regressar das montanhas alicerçadas às gaivotas desgovernadas

sentadas

como nós

num simples banco em madeira

e liam-nos poemas

e escrevíamos-lhes poemas como se fossem migalhas de pão depois do pequeno-almoço...

 

não acordávamos porque a noite embriagava-nos com palavras

textos

e comestíveis beijos

e poemas

por comestíveis pinceladas acrílicas saborosas que os teus lábios iluminavam

e víamos o rochedo da saudade

chorar

e pigmentos sólidos de vento balançavam nos teus cabelos de limalha incandescente...

 

não sabíamos que existia a teoria da relatividade

e desconhecíamos a trigonometria

pensávamos que os círculos eram mulheres deitadas

nuas

sobre a geométrica cama com lençóis de porcelana

e lá

no teu peito

os rochedos da saudade vomitando cinza de velhos cigarros como poemas envenenados pelo ciume...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 4 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:56

31
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

espero-te como se fosses a noite e me trouxesses as listras encarnadas da solidão

como se fosses a janela dos meus sonhos

e me trouxesses

a fantasia

e a paixão

revestida

negra

a fome

depois de acordar a madrugada

depois de cessar este empobrecido coração

espero-te

espero-te eu porquê?

 

depois...

depois o quê?

que não dormes

e que sonhas comigo?

espero-te na esquina da insónia

e tu não és de carne e osso...

como os humanos que aprendi a distinguir e a amar e a odiar...

às vezes

depois

tenho-te medo

que vagueis em mim como os tristes ângulos dos teus lábios

entre senos e cossenos magoados

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 31 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:51

29
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

imagino as incógnitas que vivem na tua cabeça

tento perceber as equações do teu empobrecido coração

geometricamente

não consigo determinar a posição do teu corpo no espaço tridimensional...

e tudo parece tão simples

normal

imagino a integral dos teus seios pintados de encarnado

e reflectidos no prisma que se esconde na teoria das cores

dos cheiros

e sabores

imagino a equação diferencial das tuas alegres coxas

quando se despedem da tarde as gaivotas triangulares

 

imagino o silêncio vestido de negro

caminhando sobre o arame da solidão

lá em baixo o público enfurecido olha-te como se fosses um cartaz perdido no vento

balançando

dormindo

chorando

e imagino as incógnitas que vivem na tua cabeça

os círculos trigonométricos do teu púbis amargurado

cansado de mim

talvez... apaixonado por mim

talvez

porque tridimensionalmente... não consigo determinar-te no espaço só e vazio

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 29 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:35

25
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Um círculo de espuma

no centro sombrio de uma tela mergulhada em insónia

junto à fronteira que separa a noite do dia

o mar rasurado misturando-se em lágrimas e pequenos silêncios de papel...

e de um sofá submerso em sonhos pincelados de sal... ouve-se o gato “Orlando” em gemidos de sono,

 

Ele inventa a madrugada sobre os telhados de Lisboa

e pinta nas manhãs de neblina a paisagem invisível do rio envergonhado

atravessado por uma ponte rabugenta

enferrujada pelo vento das nortadas entre despedidas e desejadas barcaças

derramando a solicitude em palavras abstractas e insignificantes,

 

O desejo em tua felina pele voando sobre as árvores do Tejo

confunde-te com gaivotas e pernaltas em pétalas de açúcar

barcos apaixonados

e astronautas

e no final do dia dizes-me que no Sábado vais ficar ausente de mim,

 

Habituei-me às tuas garras sobre o meu peito em papel-cartão

marinheiro tu saboreando sorvetes de chocolate como broches na lapela do mendigo artista

dormindo sobre a calçada e desenhando nos teus tornozelos as equações trigonométricas da paixão

e procurando ângulos no negro quadro separando a parte real da parte imaginária

os números complexos em ti descendo o corpo do círculo de espuma,

 

Estás nua

geada de sémen em migalhas de areia

correndo esquinas e travessas em madeira

pilares e vigas

e sorriso algum emerge dos teus lábios de cidade adormecida... vadia e prostituta.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

24
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Sombras de ti dentro do espelho cansado em mim

saboreando livros invisíveis com odor a melancolia

um espaço vazio sombrio e escuro

entranha-se-te fazendo em ti a escultura linear da insónia

pedes-me “silêncio” e eu escrevo “silêncio” nos teus lábios de noite vaiada pela lua imaginária,

 

Pedes-me “amor”

e eu não sei escrever “amor” no teu corpo tridimensional vagueando pelo espaço-tempo

e buracos de minhoca

invento-te nas paredes do fazedor de versos

um transeunte doente com palavras apodrecidas,

 

Malcriado inocente nas bocas verticais de um triângulo rectângulo

pedes-me para escrever “hipotenusa” nos olhos do tua tangente

perco-me de ti

e não escrevo “hipotenusa” junto ao cateto das tuas coxas de cristal

escrevo-a no seno da tua saudade...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:41

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