Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Jul 11

Sobre mim as sombras do meu quintal

Os azulejos do meu peito agoniado

Em migalhas evaporadas na maré

Inerte na penumbra manhã

 

Cansado no desejo dos ramos envelhecidos

O meu corpo range e os alicerces em ruinas

As mãos despegam-se dos braços

Como espigas de milho quando tombam na água

 

O meu corpo não presta e é lixo

Meia dúzia de ossos e parafusos

Na procura do aço de que é construído

E que se derreteu nos engasgos dos pássaros

 

Tu és lixo dizem eles

E escrevem nas paredes imaginárias dos olhares

E quando por mim passam

Baixam a cabeça e dobram-se como cobras rastejantes

 

Metem-me nojos os homens e mulheres

Que quando acordam não se veem ao espelho

E não se dão conta quando sentados na sanita

Que deles e de todos nós sai merda

 

E que cagamos e mijamos

Duas três vezes ao dia

Não importa o dinheiro não importa a beleza

De dentro de todos nós nasce merda

 

Resíduos que proliferam nos rios ruas ou ruelas

E alguns até são doutores

Engenheiros ou agricultores…

Ou putas donzelas

 

Eu sei que o meu corpo é lixo

Percebo que a minha vida seja lixo

E que não passo de um miserável

Mas não precisavam de escrever nas paredes imaginárias

 

E não precisavam de me apontar o dedo

O meu corpo é lixo

E eu sou os resíduos da sanita

Mas na mistura da merda que sou

 

Vivem milhares páginas

Milhares de poemas

Que de nada servem…

Porque alguém decidiu que eu sou lixo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:49

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