Ontem recebi carta dela, está tudo bem, os arrozais ainda dormem, os coqueiros soluçam entre os finos cortinados de tristeza e a claridade do fim de tarde,
Adeus, ontem recebi, a carta vinha amarrotada, cansada, e embalsamada como as rosas no interior de um livro, o parvalhão de um livro,
Se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…
De um livro, muitos anos, Einstein para recordarmos o que era impossível de recordar, a separação, o fim, e o adeus das gaivotas a cada encerrar de uma janela que só a dor consegue fazer sobreviver,
Tínhamos,
Inventamos o amor “transtemporal” os catetos, a hipotenusa, a verruga, o cinzeiro a abarrotar de conversas sem nexo, nunca tive um sonho, morri sempre na praia, nunca, se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…, nem eu, ouvia-a
Tínhamos, não sonhos, não sorrisos, não beijos, nem um simples calendário suspenso na cozinha, nunca sabíamos a quanto andávamos, se era terça-feira, sexta-feira… tanto faz, ouvia-a, irritava-me com a sua ausência, mas sempre que podia
Partia, levava todas as roupas e todos os livros, até as velhas cartas transportava na bagageira, e nunca me disse adeus,
Amanhã,
Me disse adeus, até amanhã, amo-te, nada, nada
Como hoje
Nada.
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 25 de Dezembro de 2015