Diz que disse sem o dizer
Dizendo que eu era um monstruoso esqueleto com asas
Que voava enquanto todos dormiam
E que tinha uma cidade só minha
Diz que disse sem o dizer
Dizendo
Mas disse-o
Esquecendo
Que eu voava nas noites de insónia
Que era monstruoso
Que tinha alergia aos rochedos da solidão
Não o dizendo
Disse-o
Um dia
Nos meus lábios
Emagrecidos
Pobres
Descarnados pelo veneno da madrugada
Que só o Inverno consegue abraçar
Diz que disse sem o dizer
Dizendo
Que um dia
Qualquer dia
Eu
O esqueleto monstruoso com asas
Ia morrer
Sem o saber
Dizia-o
Que disse
Sem o dizer
Inventando-me sonhos que eu não queria
Nem dormia
Com medo das suas garras de chocolate…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Outubro de 2015