Não sei onde habita a navalha de sombra
Que espetaste no meu peito,
Era noite,
Criança melancólica em pedaços de luar,
A vida parece uma roldana,
Sem tempo,
Horário,
Alimentando-se das horas,
Gritando as palavras dos teus lábios,
Em milhões de grãos de areia,
A fogueira no teu cabelo,
A caricia nas tuas mãos que só a madrugada sabe desenhar,
Não sei,
Porque me olha este jardim sem olhar,
Sem corpo,
Imune ao peso,
E ao vento,
Voa,
Sobre os Cacilheiros de prata,
Suicidando-se no Tejo…
Não tenho corpo também,
Sou um rochedo de xisto
Sem destino
Descendo a montanha até ao rio,
Morri…
Oiço-o nas catacumbas da prisão,
Encerraram-lhe as janelas
E o mar
E as árvores com janelas,
E um dia acordará no vazio cubo de vidro…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Junho de 2015