Começo a ficar cansado destes corredores, do metro de superfície e das árvores, enquanto fumo, nem consigo ouvir os pássaros; ou já não existem pássaros, ou não querem falar comigo.
Sinto-me entalado entre o meu corpo de sombra e o silêncio,
Caminho na estrada da solidão
Na ânsia de encontrar a noite,
E pergunto-me…
Porque não é sempre noite?
Não regressam a mim
Nem os pássaros,
As árvores,
E apenas vivo com o medo poisado nos ombros,
Fingir,
Sorrir a cada sorriso,
Sem vontade de o fazer,
Sem vontade de sorrir
E viver,
Nas árvores,
Nos penhascos pintados de Primavera,
Quando é sempre tempestade,
Esta cidade,
Esta terra sem memória,
Cintilações nos meus braços
Das lágrimas envenenadas,
Conversar…
Chorar…
Ai os pássaros,
Ai as árvores,
Em sentido proibido,
Sem saída,
A minha rua,
A minha casa,
A minha estadia… por aqui, e ali…
Esqueci a minha morada,
Perdi todas as minhas palavras
No mar,
No rio
De sangue,
E sem vontade de falar,
E sem vontade de brincar
Nas árvores,
E com os pássaros,
Nos pássaros,
Abros a janela do meu peito…
E adormeço embrulhado no vento invisível.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 22 de Maio de 2015