(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Verdes olhos ao mar salgado,
esta jangada de silêncio
fundeada nos braços do regresso,
às palavras a simplicidade do corpo em evaporação,
as mãos pela calçada abaixo,
sem medo,
verdes olhos ao mar salgado,
triste vida de transeunte acorrentado
às pálpebras do sofrimento,
o eterno desejo em forma de crucifixo
suspenso no gesso cansado,
a alvenaria dos teus seios...
sentem o amanhecer,
e da rua,
os murmúrios dos candeeiros apagados,
perdidos,
sempre à espreita da madrugada,
não paro,
não tenho coragem de olhar a lua,
o transatlântico enferrujado
com janelas de cartão
e portas de amar,
aos teus lábios...
o beijo dos verdes olhos ao mar salgado.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Janeiro de 2015